Plano ambicioso faz BRF “ganhar” R$ 2 bi em um dia: voo de galinha ou impulso duradouro para a ação?

Analistas mostram que anúncio de reestruturação da companhia com venda bilionária de ativos é positivo - mas muitos ainda seguem cautelosos em meio à falta de visibilidade sobre o curto prazo na companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Apenas duas semanas após assumir a presidência da BRF (BRFS3), Pedro Parente mostrou a que veio. E não seria para menos: ele assumiu a empresa com desafios tão gigantescos quanto os que teve quando esteve à frente da Petrobras (veja mais clicando aqui), a sua filosofia de colocar ordem na casa também parece bastante similar. 

Na noite de sexta-feira, enquanto todos os olhos pareciam voltados para a Copa do Mundo, a BRF convocou uma coletiva à imprensa e anunciou o início de uma estratégia para a virada da dona da Sadia e Perdigão, que sofre há meses uma grave crise em seus negócios agravada pela Operação Carne Fraca em março e pela disputa entre acionistas. A companhia anunciou a decisão de vender R$ 5 bilhões em ativos, passando para frente fábricas na Europa, na Tailândia e na Argentina. 

A venda das unidades faz parte de um amplo plano de reestruturação, que inclui também a demissão de mais de 4 mil funcionários no Brasil e redução dos cargos de chefia. 

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“Mais saudável é melhor do que ser maior”, é assim que os analistas do Credit Suisse definem a nova estratégia da companhia de se tornar mais enxuta e focada. Inclusive, o banco suíço elevou a recomendação para as ações BRFS3 de underperform (desempenho abaixo da média) para neutra, mas de olho no valuation ao colocar um preço-alvo de R$ 18,00 (exatamente a cotação de fechamento da última sexta antes do comunicado).

O anúncio, aliás, animou muito o mercado sobre BRF, que viu suas ações saltarem 12,28%, a R$ 20,21, levando a um ganho de valor de mercado da companhia de quase R$ 2 bilhões apenas na segunda-feira. Porém, ainda há muitas questões a serem endereçadas pelo mercado – e que deixa muitos analistas cautelosos. 

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Afinal, a empresa será capaz de alienar uma quantidade bilionária em ativos nos próximos meses a um preço justo? Será que a potencial venda de ativos europeus impactam o pagamento de impostos da empresa? Será que a securitização de recebíveis será implementada com custos financeiros mais altos? E mais ainda, estas medidas serão suficientes se o ciclo [no mercado de carne de frango] não melhorar em 2019?

Essas questões foram destacadas pelo banco suíço em relatório, que ressaltam as metas de redução de endividamento da companhia, ao apontarem que a BRF está comprometida em atingir uma relação entre dívida líquida e o Ebitda de 4,35 vezes até 2018 e 3 vezes 2019, levando a uma geração implícita de Ebitda de R$ 2,7 bilhões e R$ 3,6 bilhões em 2018 e 2019, respectivamente.

“Enquanto o processo de desalavancagem é um sinal positivo, destacamos que as estimativas de consenso estavam de alguma forma já esperando alavancagem a  3,4 vezes a relação entre dívida líquida e o Ebitda em 2019, sem desinvestimento. Isso demonstra que resultados de curto prazo podem ser piores do que as expectativas, o que já incorporam um cenário mais desafiador”, afirmam os analistas do Credit. 

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Neste cenário, o anúncio de sexta é visto como positivo pelo mercado dado o senso de urgência em diminuir a alavancagem e também focar nos mercados principais, como o brasileiro, muçulmano e asiático. “Por outro lado, é inevitável dizer que a companhia está dando um passo pra trás em parte de seu plano de internacionalização (desinvestindo cerca de dois terços das aquisições feitas desde 2013)”, aponta o BTG Pactual. 

Assim, na avaliação dos analistas do banco, a ação segue sendo sem muito apelo no curto prazo. Inclusive, ao incorporarem os novos anúncios no modelo, eles reduziram o preço-alvo de R$ 25 para R$ 19, com recomendação neutra mantida. Já para os analistas do Credit, apesar do cenário bastante complicado, o mercado parece tentar vislumbrar o cenário para 2019, enquanto 2018 parece ser perdido em meio às despesas não-recorrentes causadas pelo fechamento de unidades, alta dos preços de grãos, tarifas de importação na China e banimento chinês. 

“Nesse sentido, o valuation apresenta uma relação risco-retorno atrativa somente em 2020, o que mostra que pensamos estar bem distantes de uma visão altista sobre BRF, dado o movimento cíclico do negócio”, apontam. 

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Mas há também quem esteja mais otimista com a BRF, caso da XP Investimentos, que iniciou a cobertura para a BRF com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 25,00, apontando que o anúncio de sexta afasta a hipótese de um aumento de capital, além de levar a uma volta gradual da companhia nos papéis após o período de turbulência. Além disso, o plano de reestruturação deve impulsionar as margens no biênio 2019-2020. 

Assim, a disparada desta segunda-feira será um voo de galinha ou o impulso que a BRF precisava após ser a pior ação do primeiro semestre em 2018? De qualquer forma, o caminho parece árduo. Mas esse ano, que antes parecia perdido para a companhia, pode pelo menos dar sinais de que a companhia poderá reagir na bolsa. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.