Petrobras tem prejuízo de R$ 21,58 bilhões em 2014; baixas totais foram de R$ 50,8 bi

No quarto trimestre de 2014, o prejuízo foi de R$ 26,6 bilhões; Bendine afirmou que a partir de hoje companhia volta a grantir credibilidade no relacionamento com acionistas e credores

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A Petrobras (PETR3;PETR4) divulgou nesta quarta-feira (22) seus resultados com as perdas contábeis do ano de 2014. No ano, a companhia apurou um prejuízo de R$ 21,587 bilhões.

O prejuízo bilionário no exercício de 2014 foi devido à perda de R$ 44,63 bilhões por desvalorização de ativos (impairment). O valor da baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente no ativo imobilizado oriundos do esquema de pagamentos indevidos descoberto pelas investigações da Operação Lava Jato (baixa de gastos adicionais capitalizados indevidamente) foi de R$ 6,194 bilhões. Assim, somadas, as baixas totais foram de R$ 50,8 bilhões, com impacto no ativo imobilizado. 

Destaque ainda para o Ebitda ajustado anual da Petrobras, que totalizou R$ 59,140 bilhões, uma retração de 6% em relação a 2013. A receita líquida, por outro lado, apresentou salto de 11%, para R$ 337,260 bilhões ante cifra de R$ 304,890 bilhões em 2013, influenciada pelo aumento da produção e pelo dólar mais favorável à exportação, além do preço mais elevado dos combustíveis vendidos no mercado doméstico.

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No quarto trimestre de 2014, o prejuízo foi de R$ 26,6 bilhões, principalmente como resultado dos seguintes fatores: impairment de R$ 44,345 bilhões, principalmente em ativos de refino no País, de R$ 30,976 bilhões, devido à avaliação dos projetos do 2º trem da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) separadamente da unidade geradora de caixa do refino, tendo em vista a postergação desses projetos por extenso período, motivada por medidas de preservação do caixa e problemas na cadeia de fornecedores oriundos das investigações da Operação Lava Jato.

“As perdas resultaram de problemas no planejamento dos projetos, utilização de taxa de desconto com maior prêmio de risco, postergação da expectativa de entrada de caixa e menor crescimento econômico”, informou a empresa. Além disso, houve perdas contábeis de R$ 10 bilhões em exploração e produção de petróleo e gás natural, reflexo do declínio nos preços do petróleo, e de R$ 2,978 bilhões em decorrência do cenário de redução na demanda e nas margens.

O prejuízo do quarto trimestre de 2014 contrasta com o lucro de R$ 6,281 bilhões acumulado no mesmo intervalo do ano anterior. A Petrobras também reportou Ebitda ajustado de R$ 20,057 bilhões no quarto trimestre, expansão de 28,95% em igual base comparativa. A receita líquida totalizou R$ 85,040 bilhões, alta de 4,95% sobre os três últimos meses de 2013.

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No terceiro trimestre, os números foram revisados, passando de um lucro de R$ 3,1 bilhões para prejuízo de R$ 5,339 bilhões, principalmente decorrente das baixas pela Operação Lava Jato e o e o complemento de provisão para perdas com recebíveis do setor elétrico, de R$ 1,6 bilhão.

Abordagem para ajuste de ativos afetados pelos gastos adicionais
A companhia informou que os dados disponíveis para a companhia são, de maneira geral, consistentes com relação à existência do esquema de pagamentos indevidos, às empresas envolvidas, aos ex-empregados da Petrobras envolvidos, ao período durante o qual o esquema operou, além dos valores máximos envolvidos no esquema de pagamentos indevidos em relação ao valor total dos contratos impactados pelo esquema. A companhia calculou as baixas contábeis provocadas pela corrupção usando aplicação percentual fixo de 3% sobre o valor de contratos. A referência foi o percentual citado nos depoimentos da Lava-Jato.

“Devido à impraticabilidade de identificação dos períodos e montantes de gastos adicionais incorridos pela Companhia, a Petrobras utilizou todo o conjunto de informações disponíveis para quantificar o impacto do esquema de pagamentos indevidos”. Segue abaixo:

1. Identificação da contraparte do contrato: foram listadas todas as companhias citadas como membros do cartel nos depoimentos tornados públicos e, com base nessa informação, foram levantadas as empresas envolvidas e as entidades a elas relacionadas.

2. Identificação do período: foi concluído, com base nos depoimentos, que o período de atuação do esquema de pagamentos indevidos foi de 2004 a abril de 2012.

3. Identificação dos contratos: foram identificados todos os contratos assinados com as contrapartes mencionadas no passo (1) durante o período do passo (2), incluindo também os aditivos aos contratos originalmente assinados entre 2004 e abril de 2012. Em seguida, foram identificados os ativos imobilizados aos quais estes contratos se relacionam.

4. Identificação dos pagamentos: foi calculado o valor total dos contratos referidos no passo (3).

5. Aplicação de um percentual fixo sobre o valor total de contratos: o percentual de 3%, indicado nos depoimentos, foi utilizado para estimar os gastos adicionais impostos sobre o montante total dos contratos identificados.

“A companhia ainda não recuperou nenhum valor referente aos pagamentos indevidos feitos por fornecedores e não pode estimar de forma confiável qualquer valor recuperável nesse momento. Qualquer valor recuperável será reconhecido como resultado quando recebido (ou quando sua realização se tornar praticamente certa)”, informou.

“A Petrobras acredita que os valores que foram pagos a mais em decorrência do referido esquema de pagamentos indevidos não deveriam ter sido incluídos no custo histórico do seu ativo imobilizado. Assim, nos termos da legislação tributária brasileira, esta baixa é considerada uma perda resultante de uma atividade ilícita e sujeita ao andamento das investigações a fim de determinar a extensão real das perdas antes que possam ser consideradas despesas dedutíveis para fins de imposto de renda e contribuição social”, destacou a empresa em relatório.

Apresentação
Em apresentação, a petroleira informou ter encerrado 2014 com um fluxo de caixa de US$ 26 bilhões e uma relação entre dívida líquida e o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) fechou em 4,77 vezes. A companhia espera encerrar o ano de 2015 com caixa de US$ 20 bilhões. 

A dívida total cresceu para R$ 351 bilhões no final do ano e, de acordo com a empresa, boa parte do aumento é explicado pela desvalorização do real. 

Em 2014, informou a companhia, os desinvestimentos geraram R$ 9,4 bilhões e a expectativa é de uma captação de US$ 13 bilhões em 2015 e uma meta de desinvestimento de US$ 10 bilhões em 2016. Já os investimentos caíram 17% em 2014, para R$ 81,7 bilhões. 

De acordo com o presidente da companhia, Aldemir Bendine, a partir de hoje a companhia voltou a garantir a credibilidade no relacionamento com acionistas e credores. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.