Para sair do sufoco, WeWork pode colocar um dos títulos mais arriscados do mercado nos últimos anos

A operação está sendo estruturada pelo banco JP Morgan, e o WeWork pode captar US$ 5 bilhões com a emissão de dívida

Letícia Toledo

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O caminho ladeira abaixo do WeWork parece não ter fim. A startup que já foi uma das maiores promessas do mercado americano agora corre o risco de ficar sem caixa já no próximo mês. Para que isso não aconteça, a empresa estuda uma oferta de títulos de dívida (bonds) em um dos modelos mais arriscados do mercado.

Segundo informações do site Bloomberg, a operação está sendo estruturada pelo banco JP Morgan, e o WeWork deve captar US$ 5 bilhões com a emissão de dívida. Desse total, cerca de US$ 2 bilhões seriam bonds sem garantia com um retorno de 15% ao ano – taxa elevada, especialmente num mundo de juros baixíssimos.

Atualmente os chamados junk-bons, títulos de altíssimo risco, negociados nos Estados Unidos têm retorno médio de 11%. O percentual de 15% também é o dobro do que o WeWork pagou por uma emissão de dívida de US$ 702 milhões em abril do ano passado (em seu primeiro lançamento de títulos).

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Os US$ 2 bilhões em bonds seriam estruturados no modelo conhecido em inglês como “Payment-in-kind” (PIK) — que oferece ao seu emissor a opção de pagar os juros da dívida com mais dívida.

Segundo informações da Bloomberg, embora os termos ainda estejam em discussão, a princípio o que teria sido definido é que, por meio dos bonds PIK, o WeWork poderia pagar 5% em dinheiro enquanto os outros 10% poderiam ser pagos com a emissão de novos títulos.

Ao pagar 10% de sua dívida de US$ 2 bilhões com a emissão de mais dívidas, o WeWork se envolveria em uma gigantesca bola de neve. Apenas com esses bonds sua dívida após um ano seria de US$ 2,2 bilhões e, depois de cinco anos, chegaria a US$ 3,2 bilhões.

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A operação tem sido considerada tão arriscada que o gestor de uma empresa de investimentos especializada em junk-bonds, o americano John McClain, disse qualquer um corajoso o suficiente para fazer esse investimento “estaria assumindo riscos substanciais na carreira”.

Caso a operação saia, o WeWork teria uma estrutura de bonds que está comumente associada à empresas de indústrias bem tradicionais, como de exploração de petróleo e mineradoras de carvão, e também à companhias em recuperação judicial. A última empresa a fazer recentemente uma oferta bilionária de PIK bonds nos Estados Unidos foi a companhia de telefonia brasileira Oi, que segue em recuperação judicial, e captou US$ 1,7 bilhão no mercado americano no ano passado.

A alternativa SoftBank

Os arriscados bonds do WeWork também revelam o valor que os atuais controladores da companhia, que incluem o fundador Adam Neumann e o fundo Benchmark Capital, estão dispostos a pagar para não terem suas participações diluídas no momento.

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Uma alternativa do WeWork para conseguir dinheiro seria permitir que o conglomerado japonês SoftBank assuma o controle das operações, aportando novos recursos. Informações divulgadas em diferentes veículos como Wall Street Journal e Financial Times indicam que o SoftBank, que já possui um terço da companhia, estaria disposto a investir alguns bilhões de dólares na empresa com a aquisição de novas ações e dívida.

Em contrapartida, os controladores atuais do WeWork afirmam que estão mantendo conversas com mais de 60 investidores que estariam dispostos a avaliar um investimento na empresa, por meio dos bonds arriscados e outras estruturas.

O JP Morgan também deve estar olhando seus próprios interesses ao ajudar a resgatar o WeWork. O banco estava liderando a fracassada oferta inicial de ações (IPO, em inglês) da startup — o que deixou o banco em maus lençóis diante de outros potenciais clientes. Além disso, o JP Morgan atualmente já é o principal credor do empréstimo de US$ 650 milhões do WeWork e um dos principais credores de Adam Neumann, fundador da empresa.

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De acordo com informações do jornal Financial Times, os controladores da companhia devem tomar uma decisão sobre se seguirão com a proposta do JP Morgan ou a do Softbank ainda nesta semana.

Desde que deu início ao seu processo de IPO, o WeWork prometeu controlar seus gastos e, nas últimas semanas, cancelou alguns de seus projetos e anunciou a demissão de parte dos funcionários. O discurso não convenceu investidores a entrarem em seu IPO. Resta saber se será suficiente para levantar capital.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.