Operação alavancada leva fundo da TT Investimentos a perdas de 87% no ano

Fundo estava concentrado em opções da empresa americana Clarus Corporation; sócio da gestora, Arthur Fraga Bahia diz que está discutindo fechamento do fundo

Bruna Furlani

Ações em queda (Crédito: Shutterstock)

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Uma operação considerada delicada, em que o gestor vendia opções de venda e comprava opções de compra da empresa americana Clarus Corporation, levou o fundo TT Global Equities, da TT Investimentos, à beira do colapso.

No acumulado de 2022, a carteira apresenta perdas de 86,6%, com uma volatilidade de 131% nos últimos 12 meses.

Em entrevista ao InfoMoney nesta sexta-feira (9), Arthur Fraga Bahia, sócio da TT Investimentos, resumiu a situação dizendo que a gestora realizou uma “operação arriscada”, que levou a “perdas no fundo”. Ele é sobrinho de Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e cliente do TT Global Equities, o que ampliou a repercussão do caso.

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Fraga Bahia reiterou que não houve “irregularidade”, nem nenhum processo relativo ao fundo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O InfoMoney não identificou nenhum processo contra a TT Investimentos no site da autarquia.

Ao ser questionado sobre o possível fechamento do fundo, o gestor disse apenas que a casa está “discutindo” o assunto, mas não está divulgando informações a respeito neste momento.

Em e-mail enviado pela gestora aos cotistas do fundo, Fraga justificou que conhecia “profundamente” a empresa americana alvo do investimento, a Clarus Corporation. A companhia se define, em seu site, como fabricante, distribuidora e líder no desenvolvimento de equipamentos para atividades ao ar livre e produtos esportivos.

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No texto, Fraga Bahia disse que a operação estava caminhando bem até poucos dias atrás, quando precisou alavancar o fundo (grosso modo, negociar um volume de recursos maior que o seu patrimônio líquido) para conseguir encerrar a operação.

Em pouco menos de um mês, as ações da companhia americana passaram de uma cotação de US$ 29 (em 17 de agosto) para os atuais US$ 15,94, preço de fechamento nesta quinta-feira (8).

O gestor explicou ainda que o banco custodiante, diante da concentração do portfólio na Clarus Corporation, decidiu retirar toda a margem – valor dado em garantia para o caso de perdas – oferecida um dia antes. “Com isso, fui obrigado a liquidar a posição em dois dias, o que gerou perdas irreparáveis ao fundo”, lamentou no e-mail.

Questionado pelo InfoMoney, o gestor não explicou exatamente quando montou a posição na empresa, nem deu detalhes sobre a concentração do portfólio. No regulamento do TT Global Equities, a gestora destacava que o produto poderia “estar exposto à significativa concentração em ativos financeiros de poucos emissores”.

Especialistas não costumam recomendar a alocação em produtos que estão muito concentrados em um determinado ativo, já que o risco tende a ser maior em caso de problemas com a empresa. A razão é que o gestor terá poucas opções para contrabalancear eventuais perdas.

De acordo com dados da CVM e da Economatica, o patrimônio do TT Global Equities, que até 20 dias atrás rondava na casa dos R$ 47 milhões, foi reduzido a R$ 9 milhões atualmente.

Também é possível verificar que as cotas do fundo atingiram o patamar mais alto em outubro de 2021 e o piso, no dia 31 de agosto deste ano – sendo que a queda (drawdown) entre uma data e outra foi de 88%.

No e-mail aos cotistas, Fraga Bahia afirmou que mais de 95% do patrimônio do profissional e dos sócios estava no fundo. “Tudo o que juntei até meus 34 anos se foi”, lamentou Fraga.

O fundo TT Global Equities iniciou suas atividades em outubro de 2018 e só registrou captação de recursos – de R$ 41 milhões – naquele ano. Em 2021, houve resgates de R$ 10 milhões. Não há registros de outras movimentações dos investidores da carteira.

A carteira atingiu seu maior patrimônio em fevereiro de 2021, quando alcançou R$ 80 milhões.

Pelos dados informados à CVM, o fundo possuía três cotistas. Dois outros fundos tiveram aplicações no TT Global Equities ao menos até maio (o multimercado Porto Cervo) e em julho (o multimercado Palmer). Ambos são fundos restritos: o primeiro só recebe aplicações de um grupo de investidores profissionais reunidos por vínculo familiar, e o segundo, de um único investidor profissional, conforme seus regulamentos.

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