Quanto mais as empresas demitem, mais este mercado cresce

Diretor da Place2Work comenta o mercado de escritórios compartilhados em momentos de instabilidade econômica

Paula Zogbi

Ilustração mostra funcionário recolhendo itens pessoais após ser demitido

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SÃO PAULO – A instabilidade econômica veio em ótima hora para o mercado de escritórios compartilhados, que se aproveita do enxugamento de mão de obra e da busca por ambientes de trabalhos mais baratos para atrair clientes. De acordo com Arnaldo Kochen, diretor da Place2Work, 2016 foi um período de crescimento para esta área.

Ele falou ao Podcast Riobravo sobre as conquistas da companhia e os motivos desse crescimento. “Esse período de instabilidade está nos favorecendo por várias razões, seja porque as pessoas estão precisando de uma estrutura mais flexível, seja porque as empresas estão diminuindo custos”, comentou.

Também não há preocupação quanto ao movimento inverso, de retomada da atividade da economia. “Acho que vai demorar muito [para o crescimento da empresa estagnar], porque, justamente por estarmos no início, é um negócio pouco conhecido no Brasil, além do fato de oferecermos uma solução com uma cara muito corporativa”. Confira a entrevista completa a seguir.

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Um negócio como esse, Place2Work, não tem mais aderência quando a economia está mais aquecida? Como é que a Place2Work permanece sustentável nesse período de instabilidade econômica?

Pelo contrário. Esse período de instabilidade está nos favorecendo por várias razões. Uma das razões, evidentemente, são as pessoas procurando fazer um negócio próprio, pelo fato de terem perdido o emprego ou pelo fato de seu negócio não ter dado certo, um comércio, alguma coisa, e estão iniciando negócios menores e precisam de uma estrutura flexível, que não tenha um grande comprometimento de prazo de contrato, não precise de um fiador, como é o caso de um coworking, não precise mobiliar um escritório.

Então é uma coisa muito mais prática. E, por outro lado, um outro movimento é o do downsizing, as empresas que estão diminuindo, diminuindo custos. Muitas que tinham 20, 30 funcionários, ocupavam uma laje inteira ou um conjunto comercial inteiro e encontram no coworking um espaço onde elas podem reduzir rapidamente, sair dos seus espaços, devolver, romper contratos e se instalar em espaços menores e com custos compartilhados, como é o caso do coworking.

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Quando vocês perceberam que havia a possibilidade de transformar o conceito de coworking em oportunidade de negócios dessa forma?

Na verdade, nós somos muito ajudados justamente por conta dessa situação. Eu, como empresário do setor imobiliário e do setor de shopping centers, percebi que dava para juntar as duas coisas, transformar lajes em shopping centers. Ou seja, você ter vários inquilinos para um só espaço e compartilhar os custos, que é o mesmo conceito. Isso fez muito sentido e, justamente, a época eu acho que nos ajudou bastante, toda conjuntura nos ajudou nesse sentido e nós percebemos que é um conceito que veio para ficar, porque ele é muito lógico. Ele faz muito sentido.

Você hoje entra em um coworking simplesmente com o seu computador, você tem todo sistema telefônico, tem internet, tem a sala toda mobiliada, recepcionista, café, água e tudo isso por um prazo de 30 dias, de 60 dias, de 90 dias, sem grande compromisso de prazos. Ou seja, você pode correr riscos, porque eles são muito menores do que você entrar num espaço onde vai ter um contrato de longo prazo e investimentos iniciais altos.

Talvez diferentemente do shopping center, quando esses contratos justamente são mais longos e o investimento tem um retorno garantido, no caso desses espaços de coworking o retorno talvez não seja tão a longo prazo assim.

No caso do coworking tem uma particularidade. Nós não alugamos espaço, nós prestamos serviços. Então, os pagamentos são feitos adiantado, por isso não exige um fiador, não exige nenhum tipo de garantia no contrato. Então é um fluxo de caixa evidentemente muito melhor, mas ele pode ser interrompido bruscamente, se é isso que você quis dizer. Por exemplo, eu posso ter um contrato de três meses para uma sala de dez pessoas e essa sala ficar vazia da noite para o dia.

Por outro lado, ele pode acompanhar também a flexibilidade do mercado, os aumentos de preços, aumentos de custos, aumentos de procura, nós também não estamos amarrados em valores de locação como num contrato de longo prazo de shopping center. Isso é uma vantagem sem dúvida nenhuma.

É possível falar num perfil de clientes que procuram esses serviços?

Sim. Basicamente vários perfis de clientes. Nós temos escritório de advocacia com dez pessoas, nós temos empresa de aceleração de vendas por internet com 25 pessoas, nós temos hoje uma empresa de marketing esportivo com 45 pessoas, nós temos uma empresa de plataformas digitais internacional com 65 pessoas e nós temos imobiliárias com duas pessoas apenas, nós temos advogado, que é uma só pessoa, nós temos empresa de RH com três pessoas, nós temos duas empresas de venda de energia eólica, uma com quatro pessoas e outra com seis pessoas, nós temos empresas várias de tecnologia de internet variando de seis a oito pessoas, corretoras de seguro.

Ou seja, basicamente atende a qualquer tipo de empresário. O que nós não temos, porque a gente não tem estrutura para isso, são médicos, dentistas etc. porque exigem uma instalação diferenciada. O restante, a gente pode atender praticamente qualquer tipo de profissional.

E vocês costumam alocar esses profissionais por áreas de negócio, por exemplo, afins?

Não. Cada um escolhe o seu espaço, eles podem fazer um networking dentro dos espaços comuns, como lounges que nós temos, cafés, podem almoçar juntos, se encontram nos corredores, mas cada um escolhe seu espaço e trabalha no seu espaço.

No caso das grandes empresas, quando elas buscam esse tipo de serviço, o que elas procuram?

Elas procuram sair fora de toda questão de administração de escritório, de toda complicação da administração, burocracia etc., elas pagam uma única nota de débito para tudo, não se preocupam com a manutenção, com a internet, com a conta de luz, com o condomínio, com o empregado que veio e que não veio etc. Está tudo sob responsabilidade nossa. Então elas querem simplificar a vida delas.

De acordo com essa experiência de vocês da Place2Work, quais são as reclamações por parte de quem compartilha espaço com essa ou aquela empresa que pode ser mais barulhenta no dia a dia?

Hoje nós temos aproximadamente 200 empresas clientes e posso te dizer que tivemos casos isolados, duas ou três vezes no máximo, de uma ou outra empresa…. Por exemplo, tem empresa que quando fecha um negócio toca um sino, estoura champanhe, faz mais barulho. Coisas absolutamente pontuais. Mas posso te dizer que na grande maioria não temos esse problema.

Em que medida a experiência do trabalho compartilhado favorece produtividade dos colaboradores e a conexão, network desses profissionais envolvidos?

Eu tenho escutado alguns comentários bastante gratificantes para a gente. Um cliente que tinha um escritório alugado na Faria Lima fechou esse escritório, diminuiu um pouco o staff dele, veio para cá, pegou uma sala privativa para ele de duas pessoas e colocou algumas pessoas que trabalham com ele em estações compartilhadas. E me disse o seguinte, que trabalha aqui muito mais tranquilo do que trabalhava no escritório dele, porque no escritório dele ainda vinha a faxineira falar que estava faltando uma vassoura, um produto de limpeza, a copeira dizer que faltou café.

Ele administrava uma série de problemas e aqui ele declarou que tem uma produtividade maior porque ele não se preocupa com isso. Isso eu achei bastante interessante. Então eu acho que, como a gente tem vários modelos e várias possibilidades, isso permite realmente que as pessoas se adaptem para ter uma produtividade maior. Via de regra, em grande parte dos nossos clientes.

 Nós temos a nossa unidade mais antiga funciona há um pouco mais de dois anos, e aproximadamente 60% dos clientes são os clientes que entraram no início e permaneceram. Então a gente tem um índice de satisfação bastante grande e invariavelmente os clientes que saem, saem porque arrumaram um emprego ou porque precisam crescer muito e o espaço não comporta mais para eles, não vale a pena, ou porque se juntaram com outra empresa…. Dificilmente a gente tem cliente que sai insatisfeito. Na verdade, não me lembro de nenhum.

Como essa experiência do coworking funciona em outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo?

Rio de Janeiro e Minas Gerais, nós estamos em implantação ainda, mas já estudamos o mercado. Rio de Janeiro está trabalhando muito em função das empresas que estão diminuindo. A gente sente uma procura nas unidades que nós vemos no Rio de Janeiro, nós visitamos nesse sentido. Em Belo Horizonte, nós estamos associados a uma outra empresa de coworking também, que é a 1510 Coworking, que já tem uma unidade, está 100% locada, tem mais ou menos um ano…. Nós temos monitorado o mercado, o mercado lá está bastante comprador para esse produto também. Eu acho que inclusive combina muito com a cabeça do empreendedor mineiro. Acredito muito no sucesso nessas duas praças.

Vocês pretendem abrir outras unidades em São Paulo?

Sim.

O que é mais importante nessa estratégia de expansão: o acesso para evitar trânsito, longas distâncias, ou a proximidade de outros grandes escritórios?

Na verdade, oportunidades. Nós buscamos sempre oportunidades de localizações em imóveis. Como o momento está propício para isso, mesmo que nós não tenhamos planos de expansão para determinado bairro, sempre que nos oferecem ou aparece alguma oportunidade nós vamos examinar. Se for uma boa oportunidade imobiliária e nós acharmos que cabe, nós fazemos lá também. É claro que nós temos algumas áreas que estamos de olho já negociando, por exemplo região de Pinheiros, a Avenida Faria Lima, região da Paulista.

 São áreas que são importantes para nós, mas nós queremos entrar com boas negociações e com bons imóveis.

Você mencionou agora há pouco a questão relacionada à estrutura de pagamentos que os clientes de vocês não precisam estar atentos. Em termos de regulamentação, quais outras vantagens, quando a gente compara essa solução da Place2Work, com as tradicionais salas comerciais?

Principal vantagem é que você tem aqui endereço comercial, você tem aqui a sua estrutura de recepção, de telefonia, ou seja, é basicamente completo. Mesmo que você não tenha um espaço físico, você  pode ter um endereço comercial, um telefone próprio, um endereço de correspondências, você pode colocar no seu cartão de visita que o seu endereço é um endereço nobre como onde nós estamos por exemplo, um número de telefone que é só seu… Quando a telefonista atende, ela atende no nome da sua empresa, independente de você estar aqui ou não, é o que nós chamamos de escritório virtual, e você vai colocar no seu site o endereço e quando você tiver reuniões você vai marcar a reunião numa sala de reuniões como essa que nós estamos, que é uma sala toda equipada e de bom padrão. É característica dos nossos escritórios não ter identificação na entrada.

Ou seja, acontece frequentemente, por exemplo, quando um advogado marca uma reunião aqui e o cliente vem e diz: “Nossa, que escritório maravilhoso que ele tem”. Isso evidentemente agrega um status e acho que é uma vantagem até sobre uma sala comercial, por exemplo, que você alugue de 30, 40 ou 50 metros quadrados, que quando o cliente vai te visitar ele vai entrar numa salinha, vai ver um corredor cheio de portinhas e que nem sempre é bom para a imagem dependendo do tipo de profissional. Então, acho que agrega também essa questão do status comercial, vamos dizer assim.

É sabido que outras empresas oferecem esse mesmo serviço. Você mencionou um parceiro comercial em Minas Gerais inclusive. Você observa a possibilidade de um mercado saturado a médio e longo prazos de empresas que oferecem essa estratégia?

Acho que ainda vai demorar muito, porque nós ainda estamos no início, é uma coisa que é pouco conhecida no Brasil. Esse é um dos problemas do nosso negócio, deveria ser feito uma grande campanha institucional se houvesse dinheiro para isso para que o negócio fosse conhecido. Porque quem conhece via de regra considera essa possibilidade que é muito interessante. Então acho que há muito a ser explorado ainda e acho que novos players que estão entrando no mercado, desde que bons e sérios, eles são extremamente bem-vindos. Acho que vai amadurecer esse mercado. Não enxergo em um longo horizonte uma possibilidade de saturação, não.

Em termos de localização, em São Paulo também o fato de boa parte dos escritórios estarem localizados em uma região da cidade, isso para vocês também não é um entrave a médio e longo prazos?

Não, principalmente no nosso caso, que nós temos um modelo um pouco diferenciado da maioria do que está surgindo por aí. Nossas unidades são sempre grandes e sempre com uma cara muito corporativa. Tem muitos coworkings que são voltados para modelos mais alternativos, o pessoal entra com bicicleta, leva o cachorro, leva neném etc. e tal. O nosso modelo é mais corporativo realmente, um modelo que se adapta para o tipo de cliente que a gente tem e nesse modelo a gente tem menos players no mercado.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney