Apple perde US$ 66,5 bi em valor de mercado em menos de 2 dias

Após Trump prometer cobrar mais tarifas de produtos chineses, o país asiático respondeu deixando sua moeda enfraquecer. No fogo cruzado, a Apple já sofre alguns reflexos da crescente tensão entre os países

Allan Gavioli

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SÃO PAULO – Na manhã desta segunda-feira (5), as ações da Apple despencavam com o temor de que a guerra comercial dos EUA e da China esteja esquentando. Às 14h52 do horário de Brasília, os papéis da companhia viam baixa de 4.96%, cotados a US$ 194.66. É o segundo pregão de queda: no acumulado desde o fechamento de quinta-feira (1), a empresa já perdeu o equivalente a US$ 66,5 bilhões em valor de mercado. 

O presidente Trump anunciou na quinta-feira passada por meio de seu Twitter que os EUA cobrariam tarifas de 10% sobre US$ 300 bilhões de importações chinesas. A China respondeu nesta segunda-feira ao deixar sua moeda enfraquecer abaixo de 7 yuans por dólar, configurando um novo capítulo para a guerra comercial entre as maiores economias do mundo.

O CEO da Apple, Tim Cook, gosta de dizer que os smartphones da Apple são produtos do mundo todo – e eles realmente são, visto que correspondem a uma importante fatia na venda de smartphones em todos mercados mundiais. Mas a maior parte da fabricação e montagem do iPhone ocorre na China.

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Isso significa que a guerra comercial entre os países pode finalmente estar chegando à Apple. Sua boa relação com ambos os governos não poupou sua companhia, e a empresa deve sofrer severamente os reflexos dessa guerra comercial entre o maior produtor de suas tecnologias (China) e o seu maior mercado consumidor (EUA).

Paralelamente, na última sexta-feira o banco Goldman Sachs, parceiro da Apple no lançamento do Apple Card, divulgou o contrato do serviço para os clientes. De acordo com as cláusulas, o usuário não poderá comprar criptomoedas com o cartão e o dispositivo que será usado para gerir a conta (iPhone e iPads, apenas) não deve possuir um jailbreak, sob pena de ter a conta fechada. Em outras palavras, muitos usuários Apple não poderão contratar esse novo cartão – o que pode ter decepcionado alguns clientes. 

Analistas comentam mudanças

Se Trump realmente impuser as tarifas novas e a Apple elevar os preços dos cerca de 70 milhões de iPhones vendidos nos EUA a cada ano, o mais provável é que as vendas caiam. É importante lembrar que Laptops e outros artigos eletrônicos da companhia também serão afetados, visto que são fabricados na China.

Quem sustenta essa ideia é o analista Dan Ives, da Wedbush Securities. De acordo com ele, o lucro da empresa poderia cair até 4% em 2020 e a nova tarifa pode resultar em uma diminuição entre 6 e 8 milhões de iPhones vendidos só no mercado americano.

“Isso [as tarifas propostas por Trump] trariam uma nuvem negra para cima de Cupertino [sede da Apple]. A empresa está em um fogo cruzado entre Washingon e Pequim”, disse o analista à CNN Business.

Já para o analista da TF Internacional Securities, Ming-Chi Kuo, o repasse desse novo custo para o consumidor final não deve ocorrer. Ou seja, para Ming empresa está pronta para absorver qualquer custo extra com tarifas, algo que deve segurar os preços do iPhone e de outros produtos nos EUA.

“No médio prazo, a Apple deve absorver a maior parte dos custos adicionais devido às tarifas”, disse o analista em nota. “Haverá um impacto negativo nos lucros dos seus negócios de hardware, mas a empresa colherá benefícios em sua imagem de marca e relacionamento com os fornecedores”, completa.

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Paralelo a isso, Kuo acredita que com a mudança alfandegária, a Apple vá impulsionar a sua produção não-chinesa visando diminuir a dependência da China para abastecer os mercados globais, principalmente o americano.

“O impacto negativo sobre a Apple é limitado e temporário porque o lucro do negócio de serviços está crescendo, e os locais de produção não chineses vão aumentar gradualmente”, comenta Kuo.

Reação da companhia e seus investidores

Os investidores da Apple estão bem cientes do risco das tarifas chegarem à porta da empresa, mas a companhia basicamente lhes disse para não se preocuparem. As tarifas dos EUA não apareceram na chamada de ganhos trimestrais da Apple divulgados esta semana, por exemplo.

Em sessões anteriores, Cook e outros executivos pareciam confiantes de que as negociações comerciais entre os EUA e a China estavam melhorando e que, eventualmente, seriam resolvidas amigavelmente.

“Eu não posso prever o futuro, mas estou otimista de que os países passarão por isso, e esperamos que as cabeças calmas prevaleçam”, disse Cook aos investidores no ano passado, como divulgado no Bloomberg.

Por enquanto, a Apple pouco falou publicamente sobre suas estratégias para sobreviver a batalha geopolítica entre as maiores economias do mundo.

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.