Goodyear quer produzir pneu com casca de arroz para rodar 500 mil km

Produto faz parte do projeto da empresa de desenvolver pneu 100% reciclável até 2030 e terá vida útil 10 vezes mais longa que produtos atuais

Wesley Santana

Goodyear tem plano de tonar pneu totalmente reciclável até 2030. Foto: Reprodução

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A fabricante norte-americana Goodyear quer tomar um caminho mais sustentável nos seus negócios. Para isso, a empresa desenvolveu uma versão de pneu automotivo composto por 90% de material reciclável. O material sustentável leva 17 itens diferentes, incluindo resíduos de casca de arroz, um orgânico usualmente descartado e enviado para aterros sanitários.

Ainda sem data para ser colocado no mercado, em testes internos, o novo pneu apresentou menor aderência ao asfalto que os modelos tradicionais. Segundo a fabricante, o equipamento já passou por todas as etapas de regulação e agora está à disposição de empresas que queiram investir de forma conjunta para fabricação em larga escala.

De acordo com a Goodyear, essa é uma adaptação de um outro modelo de pneu divulgado no ano passado, composto em 70% por material sustentável. A empresa tem planos de chegar em 2030 com uma versão de pneu totalmente sustentável, cumprindo as metas de neutralização de carbono.

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Em geral, um pneu automotivo de uso particular tem sua vida útil estimada entre 40.000 e 60.000 quilômetros, a depender do estilo de vida do motorista. O pneu reciclável, porém, promete aumentar essa média em até 10 vezes, alcançando a marca de 500.000 quilômetros, ainda segundo a fábrica.

“O ano passado foi crucial para alcançar esse objetivo. Pesquisamos novas tecnologias, identificamos oportunidades para mais colaboração e utilizamos a tenacidade de nossa equipe para não apenas demonstrar nossas capacidades de produzir um pneu de 90% de material sustentável, mas também para produzir um pneu com até 70% de conteúdo sustentável este ano”, destaca Chris Helsel, vice-presidente sênior de Operações Globais e Diretor de Tecnologia.

A produção

O pneu de demonstração da Goodyear tem o objetivo de replanejar ou reutilizar o uso de materiais tóxicos, trocando-os por itens menos agressivos ao meio ambiente. Desta forma, é possível usar produtos que não são aproveitados e ainda romper o ciclo de descarte da borracha já gasta.

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Na produção tradicional, por exemplo, as empresas usam alguns tipos de borracha agressivas e um composto chamado “negro de fumo” -oriundo da queima de vários produtos petroquímicos- para dar forma ao pneu. No caso desta versão reciclável, o item é fabricado a partir de metano, dióxido de carbono, óleo à base de plantas e matérias-primas de óleo de pirólise de outros pneus em fim de vida.

Para promover maior aderência do acessório ao asfalto, os fabricantes usam o químico chamado sílica. Em alternativa, foi criado um material a partir de casca de arroz, que é descartada pela indústria antes dos grãos serem ensacados para a venda.

Há ainda a reinvenção do poliéster feito de garrafas plásticas recicláveis e dos polímeros de equilíbrio formados por fonte biocircular. Resinas de pinheiro biorrenováveis, aço reciclado, óleo de soja para flexibilidade são outros componentes do novo produto. 

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Setor em busca de alternativas

A Goodyear não é a única fabricante que tem projetos para desenvolver pneus sustentáveis. Há dois anos, Bridgestone e Michelin trabalham juntas em uma versão ambientalmente amigável e que seja capaz de diminuir as emissões de gás carbônico na linha de produção.

Mesmo tardio, o movimento do setor  tem um motivo: estima-se que 90 milhões de unidades de pneus sejam descartados por ano só no Brasil. Esse arsenal de borracha processada nem sempre é deixada em lugar adequado, mesmo demorando 600 anos para se decompor na natureza.

Em seu último balanço de sustentabilidade, a Michelin reafirmou sua meta de alcançar a neutralidade de carbono até 2050. A empresa também apresentou uma versão de pneu para carros composto por 45% de material reciclável e 58% para os ônibus.