Em 2 anos, Pedro Parente conquistou amigos no mercado financeiro e inimigos na política; relembre trajetória

Além de implementar uma nova fórmula para reajuste dinâmico dos preços dos combustíveis, em acordo com as flutuações dos preços do petróleo no mercado internacional, o executivo posicionou-se contra a política de conteúdo local, desagradando a indústria nacional, e levou adiante um ambicioso plano de desinvestimentos

Marcos Mortari

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Nos dois anos em que esteve à frente da Petrobras (PETR4), Pedro Parente bancou medidas impopulares para sanear as contas da petroleira. Além de implementar uma nova fórmula para reajuste dinâmico dos preços dos combustíveis, em acordo com as flutuações dos preços do petróleo no mercado internacional, posicionou-se contra a política de conteúdo local, desagradando a indústria nacional, e levou adiante um ambicioso plano de desinvestimentos, que resultou em inúmeras disputas judiciais e precisou ser revisado por determinação do Tribunal de Contas da União.

Parente teve o nome aprovado pelo Conselho de Administração da petroleira em 30 de maio de 2016, assumindo o cargo de presidente da companhia em seguida, em substituição a Aldemir Bendine. Na época, um dos maiores temores do mercado era a forte concentração de vencimentos da dívida da companhia em um prazo de três anos, em um momento em que o caixa estava fragilizado pela política de controle de preços adotada no governo Dilma Rousseff e sofria com a queda do preço do petróleo.

Sob sua gestão, a Petrobras enxugou em mais de 15 mil pessoas o corpo de funcionários, por meio de duas rodadas do Plano de Demissão Voluntária. A companhia arrecadou mais de US$ 17 bilhões com a venda de ativos, com destaque para as fatias do Campo de Roncador e Carcará e de uma parcela da BR Distribuidora.

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O executivo ainda costurou um acordo de US$ 2,95 bilhões para encerrar a ação coletiva movida por investidores nos Estados Unidos. A polêmica proposta figurou entre as dez maiores já fechadas pela Justiça norte-americana em ações semelhantes nas últimas décadas, conforme apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, à época.

Ao longo dos anos em que esteve no comando da petrolífera, Parente viu as ações preferenciais da Petrobras acumularem alta de 136,36% (com base no fechamento dos papéis na última quarta-feira), enquanto as ordinárias subiram 118,19%. No mesmo período, o Ibovespa acumulou avanço de 58,35%.

Elogiada por especialistas e economistas, a repercussão positiva da administração de Parente no mercado financeiro fez o executivo ter seu nome cogitado para a liderança do Ministério da Fazenda, no lugar de Henrique Meirelles.

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Convidado a assumir a presidência do conselho de administração do conglomerado alimentício BRF, Parente disse que não via conflito ético, mas ainda refletia sobre o convite. Em meio ao caos provocado pela crise de caminhoneiros, que derrubou as ações da Petrobras, as especulações sobre uma eventual saída de Parente rumo à presidência da BRF fizeram as ações do grupo alimentício registrar forte alta. A BRF é uma das maiores companhias de alimentos do mundo, dona das marcas Sadia e Perdigão.

Caminhoneiros e petroleiros exigiam, entre outras reivindicações, a demissão de Parente da Petrobras. O executivo esteve por diversas vezes em Brasília nas últimas semanas, reunido com integrantes do governo e o presidente Michel Temer. Sua posição começou a sofrer forte pressão de distintos grupos políticos, tanto na oposição, quanto na situação. Um dos momentos mais marcantes neste sentido foi quando o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) pediu a cabeça do executivo. “É insustentável a política de fazer reajustes diários. Não há como ter previsibilidade, sobretudo num país continental como o Brasil”, afirmou em plenário. A avaliação era compartilhada por outros parlamentares, que externaram posição de modo similar durante as discussões sobre reoneração da folha de pagamentos na última semana.

Internamente, o descontentamento de funcionários da estatal com a gestão de Parente não é recente. Há cerca de um ano, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa parte dos empregados da estatal, entrou com representação na Procuradoria da República no Rio de Janeiro (PRRJ) pedindo seu afastamento.

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Entre os argumentos dos sindicalistas, o de que a Petrobras teria abandonado o papel de indutora de desenvolvimento nacional e agiria contra os interesses nacionais em nome da redução do endividamento.

O pedido de demissão de Parente foi muito mal recebido pelo mercado, que, além de lamentar a saída do executivo, agora observa novos riscos de interferência política sobre a companhia e uma ameaça à atual política de preços e medidas implementadas ao longo dos últimos dois anos para recuperar a situação financeira da companhia.

Nesta sexta-feira, as ações PETR3 e PETR4 acumulam queda na casa dos 15%. Desde o início da greve dos caminhoneiros, os papéis da estatal recuaram 26% na Bolsa.

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(com Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.