Diretor da CSN se reúne com o “sell side”: mensagem anima, mas mercado prefere não dar o benefício da dúvida

A mensagem trouxe até um certo otimismo, mas o não suficiente para levar a revisões de recomendações; analistas preferiram seguir céticos com o papel

Paula Barra

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SÃO PAULO – Há pouco mais de 3 meses no cargo, o diretor de finanças da CSN (CSNA3), Marcelo Cunha Ribeiro, tem uma árdua missão: conseguir renegociar uma dívida bilionária que a empresa tem com seus principais credores, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal; dar andamento a um plano de investimentos de R$ 4 bilhões nos próximos 12 a 18 meses; e convencer o mercado de que a situação financeira da empresa, de fato, vai melhorar. 

Os primeiros passos nesse sentido foram dados ontem, quando Ribeiro convidou o “sell side” (analistas que emitem relatórios com recomendações sobre as ações do mercado) para uma conversa. O intuito era claro: mostrar que a companhia está trabalhando nessas duas frentes – liquidez e desinvestimentos. 

A mensagem trouxe até um certo otimismo. Analistas do Credit Suisse, Bank of America Merrill Lynch e BB Investimentos, que estiveram na reunião, comentaram em relatórios hoje que saíram com uma impressão positiva de que a diretoria da empresa está buscando resolver os principais problemas da estrutura de capital e otimização do balanço, mas optaram por manter ainda um pé atrás com a siderúrgica. 

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Os analistas do Credit Suisse disseram que continuam neutros com a ação, mas não descartam que ela possa superar a performance dos pares ao estender o prazo de maturidade da dívida e desinvestimentos. “Acreditamos que tenha uma alta probabilidade de conseguir renegociar a dívida, mas ainda somos céticos em relação aos desinvestimentos”.

No BofA, os analistas mantiveram a recomendação neutra, embora também tenham mencionado que veem possibilidade de alta em meio à surpresa positiva com o Ebitda dos resultados do Brasil e alta dos preços do aço. Além disso, “desinvestimentos dos ativos e renegociação das dívidas poderiam mitigar os riscos, trazendo os investidores de volta ao papel”.

Já os analistas do BB não emitiram comentários sobre a recomendação da ação, mas destacaram que as negociações com os principais bancos já estão quase concluídas e devem ser divulgadas ao mercado até o primeiro metade de janeiro de 2018. O acordo deve reverter as dívidas de curto prazo em pelo menos 3 anos, eliminando quase R$ 6 bilhões devidos em 2018. Posteriormente, a empresa deve se concentrar em sua posição de títulos, ao renegociar, em primeiro lugar, as vencerão em 2019 e 2020, que somam cerca de US$ 2 bilhões.

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A liquidez da empresa é o ponto-chave de preocupação do mercado com a empresa. Somente com o Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – seus principais credores – a empresa tem R$ 14 bilhões em dívidas, sendo R$ 4,4 bilhões com vencimento ano que vem, R$ 3 bilhões em 2019 e R$ 3 bilhões em 2020, apontam os analistas do BofA. “A renegociação da dívida pode ser um trigger importante para a empresa no curto prazo”. 

Sobre os desinvestimentos, a empresa busca vender R$4 bilhões em ativos nos próximos 12 a 18 meses, com foco em três frentes: 1) venda de ações PNs da Usiminas (cerca R$ 1 bilhão); 2) ações em tesouraria da CSN (cerca de R$ 234 milhões); e 3) outros ativos, como ações PNs da MRS, Tecon e plantas de aço. “Um marco fundamental para a empresa”, dizem os analistas do BofA.

Na Bolsa, a reação dos papéis seguem a percepção dos analistas: ontem, os papéis da CSN fecharam com ganhos de 4,99%, a R$ 7,78, figurando como a maior valorização do dia. O movimento positivo se estende para hoje: alta de 0,9%, a R$ 7,85, segundo cotação das 12h24 (horário de Brasília). Mas, olhando para o desempenho no ano, os papéis da CSN seguem muito distante dos seus pares: enquanto eles acumulam queda de 27,65% no período, a Usiminas sobe 123,9% e Gerdau avança 13,12%. 

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Um fator a mais de atenção
Além da reunião com Ribeiro, um fator merece atenção e pode ter contribuído para a alta dos papéis das CSN e Usiminas nos últimos dias. Rumores apontam que a Arcelor Mittal está estudando um aumento de cerca de 10% nos preços do aço plano no Brasil em janeiro.

Para o BofA, CSN e Usiminas devem seguir esse reajuste. “Vemos isso como um dos principais motores para os potenciais ganhos da Usiminas em 2018 e pensamos que o consenso do mercado permanece muito conservador”, comentaram. Eles reiteraram compra para o papel da Usiminas. Nos últimos dois pregões, os papéis da CSN3 e USIM5 acumulam ganhos de cerca de 6%.