De olho no futuro: eles ainda não fizeram 18 anos, mas já se arriscam na Bolsa

"É uma geração que nasceu e cresceu diante do mundo virtual", diz gestora da Coinvalores sobre o interesse de investidores mirins

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – André tem 12 anos de idade e já acompanha o sobe-e-desce da Bolsa. Seu horizonte é de longo prazo: quer ter dinheiro para fazer a faculdade. Sua mãe, Cristiane Sternberg, começou a aplicar para ele no Vida Feliz Fundo de Investimento em Ações, um produto da Spinelli Corretora criado exclusivamente para crianças. Hoje o fundo conta com 102 cotistas ativos e seu patrimônio chega a quase R$ 400 mil.

Cristiane é a responsável pela aplicação, mas engana-se quem pensa que o André não quer saber o que está sendo feito com seu dinheiro. “Acompanho pela internet o que está acontecendo no mercado de ações. Entendo mais ou menos as notícias, mas me esforço para compreender. Quando tem um assunto mais complicado, procuro o que significa no Google”, diz o investidor mirim.

“Invisto porque minha mãe diz que é bom para o futuro. Também acho importante. Estou guardando dinheiro para fazer a faculdade. Daqui a uns anos, penso em investir sozinho, sem a ajuda dos meus pais. Acho legal. Já falei para um amigo investir na Bolsa agora, porque parece ser uma boa hora”, conta ele.

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Bolsa desperta atenção de estudantes

O diretor de Novos Investimentos da Spinelli, Manuel Lois, afirma que percebe um interesse cada vez maior por parte de crianças e adolescentes na Bolsa.

“Estamos dando palestras em escolas e o interesse dos alunos é grande. As crianças nos procuram para tirar dúvidas quanto ao mercado de ações. É verdade que as perguntas são simples, mas noto que elas já sabem dar valor ao dinheiro, se preocupam com o consumo consciente e têm uma noção do que está acontecendo agora, com a crise“, analisa Lois.

Para se ter uma ideia, em março deste ano, havia 1.991 investidores com até 15 anos aplicando na BM&FBovespa. Já aqueles entre 16 e 25 anos somavam 33.293.

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Potencial inegável

Como os jovens dispõem de poucos recursos, muitas vezes dependendo da mesada que recebem dos pais, ou do dinheiro do estágio, sua participação no universo de investidores é menor, em termos de montante aplicado, na comparação com as demais faixas de idade. Em março, o grupo com até 15 anos contava com uma participação de 0,22%. Já os jovens com idade entre 16 e 25 anos, de 0,92%.

De qualquer maneira, é inegável o potencial futuro dessa geração na Bolsa. Para o diretor da Spinelli, isso sinaliza uma mudança cultural, já que os investidores do Brasil estão entre os mais conservadores do mundo.

A matéria “Em proporções globais”, publicada na revista InfoMoney Ações & Mercados de março, traz uma tabela com a distribuição dos investimentos da população por segmentos. As estatísticas são do ICI (Investment Company Institute). O resultado pode chocar os mais entusiastas da Bolsa: no Brasil, apenas 12,3% dos recursos são direcionados a ações. O montante direcionado a títulos, por sua vez, chega a 56%. Para se ter uma ideia, no Japão, 81,4% dos recursos são aplicados em renda variável. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 46,4%.

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“O brasileiro adulto, no geral, não teve acesso à educação financeira. O histórico de alta inflação e desemprego ainda está na memória de muita gente. Somente com o advento do Plano Real, a estabilidade econômica permitiu o desenvolvimento da Bolsa. E o trabalho realizado pela Bovespa para popularizar o mercado de ações está dando frutos. Agora vejo crianças de 12, 13 anos que já acompanham o mercado. Alguns entendem mais que os pais”, relata.

Revolução causada pela internet

Para a gestora comercial da mesa de Fundo de Investimentos da Coinvalores, Jussara Pacheco, o interesse maior de crianças e adolescentes na Bolsa tem um motivo: a internet.

“Não há dúvidas de que esta nova geração quer investir mais do que os jovens das gerações anteriores. A evolução foi causada pela internet. É uma geração que nasceu e cresceu diante do mundo virtual. A internet é seu principal instrumento, e uma prova disso é que o home broker é uma grande influência para esses jovens. A quantidade de informações a que eles têm acesso é hoje muito maior”.

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A Coinvalores também possui um fundo de investimentos voltados a menores de 18 anos, o Coinvalores Kids, cujo gestor é o Bradesco Asset Management. Com taxa de administração de 0,5% ao ano, o produto possui 200 cotistas. O investimento inicial é de R$ 500, e, para começar a aplicar, basta que a criança tenha CPF (Cadastro de Pessoas Físicas). Jussara conta que tem até um bebê recém-nascido no fundo.

A rentabilidade do fundo foi de 54,43% em 2007, negativa em 34,19% em 2008, e de 27,86%, no acumulado até abril deste ano. Todos os meses, as crianças recebem o extrato do fundo, para que possam acompanhar sua rentabilidade. “Tem criança que liga para cá e reclama que o extrato ainda não chegou em sua casa”, conta Jussara. Para a gestora, o Coinvalores Kids possibilita aos investidores mirins a compreensão do funcionamento do mercado, bem como faz com que eles dêem mais valor ao dinheiro.

Quanto mais jovem, melhor

O tempo joga a favor desses investidores, e propicia a aplicação em ações. “Quanto mais cedo o jovem começar a investir, melhor, porque ele terá o tempo como seu aliado”, explica Manuel Lois, da Spinelli, ao sublinhar que quanto maior o prazo de investimento, maiores são as oportunidades para arriscar – de forma que as ações são a escolha mais certeira – e maior também é o retorno.

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O presidente do Ação Jovem – Do mercado financeiro e de capitais, Gabriel Cintra, concorda. Para ele, o jovem deve pensar em estratégias de rendimento no longo prazo. Um dos principais motivos é o recurso mais escasso. Outra razão é a própria idade. É importante ter objetivos maiores nessa etapa da vida, como a realização da faculdade, de um intercâmbio, ou a compra de um carro.

Primeiros passos

Para os jovens que não quiserem alocar recursos em fundos criados especialmente para investidores mirins, é possível fazer parte de um clube de investimentos. Lois lembra que existem clubes formados por adolescentes.

Cintra explica que o primeiro passo é procurar uma corretora de valores, lembrando que algumas têm home broker, outras não. “O home broker pode ser complicado ao iniciante, mas, certamente, é uma ferramenta interessante, porque permite o aprendizado mais rápido acerca do mercado de capitais, desde que o investidor acompanhe os movimentos apresentados e desenvolva a capacidade de análise dos fatos”, diz.

“Minha recomendação é diversificar o risco, pulverizando as aplicações em dois ou três setores. Não dá para pulverizar mais do que isso, por conta da limitação dos recursos”, afirma o presidente do Ação Jovem.

Além disso, ele aconselha optar por papéis de empresas com uma política de distribuição de dividendos melhor, porque é possível ser bem remunerado no curto prazo também. “Para o jovem investidor, de repente o PIBB (Papéis Índice Brasil Bovespa) pode ser muito interessante. Ou até o POP, que é um produto para iniciantes, para quem deseja entrar na Bolsa de forma mais segura”.

O o PIBB é o primeiro fundo de índice da Bolsa de Valores de São Paulo. Negociado como qualquer outro ativo do mercado, ele é formado por um conjunto de ações das maiores empresas brasileiras de capital aberto.

Já o POP é um produto da Bolsa que nasceu em 2007 perante a necessidade de se criar um tipo de investimento, no mercado de ações, que reunisse segurança e a possibilidade de conseguir um rendimento mais atrativo àquele da renda fixa. Em outras palavras, ele envolve menos riscos.

Dicas

Veja as recomendações de Cintra para os jovens que pretendem investir na Bolsa: