De “aviso prévio” a “solução emergencial”: os 5 atos da agitada semana da Petrobras

Semana começou com rumores sobre Lula pedindo a saída de Graça Foster e terminou com a eleição do novo presidente e diretores da companhia

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Desde o fim do ano passado se tem discutido o fato da permanência de Graça Foster como presidente da Petrobras (PETR3, R$ 9,03, -6,52%; PETR4, R$ 9,12, -6,94%) ser insustentável diante dos escândalos de corrupção envolvendo a estatal. Ainda em 2014, quando citados nomes para substituir o comando da companhia, como Henrique Meirelles, as ações da companhia tinham forte alta, em uma indicação clara que não havia mais como Graça continuar, pelo menos na visão do mercado.

As coisas pioraram quando a companhia divulgou seu balanço não auditado na madrugada do dia 28 de janeiro. Após adiar duas vezes a publicação, a estatal apresentou seus números sem as baixas contábeis por conta da corrupção. Mesmo assim, um cálculo feito por consultorias independentes indicou uma baixa de até R$ 88,6 bilhões, o que deixou a presidente Dilma Rousseff enfurecida.

Desde então, o ambiente foi piorando e ficando completamente insustentável. Tudo isso culminou nesta semana, que já começou com muitos boatos indicando que finalmente Graça Foster deixaria o posto de presidente da Petrobras.

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Em meio ao turbilhão de notícias, as ações passaram por uma montanha-russa durante a semana. No fim, nestes cinco pregões, prevaleceu a empolgação com a saída de Graça e a possibilidade de um nome sem ligações com o governo assumir. Mesmo com as ações caindo 7% nesta sexta-feira, a estatal termina a semana com ganhos acumulados de 12,31% para as ações ordinárias e 11,49% para as preferenciais. Mesmo assim, no acumulado anual, a desvalorização chega a 9% para os papéis PN e 6% nos ON.

Confira abaixo os 5 atos que concluíram na eleição de Aldemir Bendine para comandar a estatal:

Ato 1 – Graça é informada de sua demissão
Após as ações subirem 6% no primeiro pregão da semana, na noite de segunda-feira (2) notícias começaram a afirmar que o ex-presidente Lula iria pedir pessoalmente para Dilma tirar Graça do comando da Petrobras em uma reunião do PT que ocorreria nesta sexta. Mas a notícia nem teve tempo de ser digerida.

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O mercado amanheceu na terça com as informações de que o Planalto já teria notificado Graça Foster que ela seria desligada de sua função na estatal. Desde então ninguém mais teve dúvidas da saída da executiva, mesmo após o Governo negar que teria notificado Graça.

Ato 2 – Graça e Dilma se reúnem
Em meio à corrida por informações da mudança de direção da estatal, Graça Foster viajou às pressas para Brasília, onde ainda na tarde de terça-feira, se reuniu com a presidente Dilma. No início daquela noite surgiram as primeiras informações: as duas teriam acertado um cronograma e que Graça ficaria no cargo até o final de fevereiro.

Naquele momento também se confirmava a demissão de outros diretores da companhia. A ideia de manter o grupo até o fim do mês seria focar os trabalhos nos cálculos de baixas por corrupção e se esforçar em conseguir divulgar o balanço auditado. Mas nem esse “aviso prévio” conseguiu segurar Graça na Petrobras.

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Ato 3 – Graça e 5 diretores renunciam
Logo na manhã de quarta-feira (4) foi confirmada a renúncia de Graça e mais 5 diretores da companhia: José Miranda Formigli Filho (Diretoria de Exploração e Produção), José Carlos Cosenza (Diretoria de Abastecimento), José Alcides Santoro Martins (Diretoria de Gás e Energia), José Antônio de Figueiredo (Diretoria de Engenharia) e Almir Barbassa (Diretoria de Finanças.

Após a renúncia, a informação era que ocorreria uma reunião nesta sexta-feira para que fossem definidos os noves nomes que comandariam a estatal. O cronograma continuava o mesmo, toda a equipe ficaria até o fim do mês, mas havia um problema: os diretores não aceitaram ficar mais um mês na companhia e queriam deixar seus cargos ainda na quarta-feira. Em um acordo com Graça e Dilma, ficou decidido que eles sairiam efetivamente da Petrobras nesta sexta após a reunião do Conselho.

Ato 4 – E agora, quem assume a Petrobras?
Então começaram as apostas. Nomes não pararam de pipocar e a cada hora víamos novos nomes como possíveis substitutos de Graça Foster, alguns personagens repetidos desde o fim de 2014. Naquele momento, perdia força as indicações de três nomes até então considerados favoritos: o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ex-CEO da Vale, Roger Agnelli e o ex-CEO da EBX, Rodolfo Landim.

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Por outro lado, ganhava força o nome de Paulo Leme, presidente do Goldman Sachs no Brasil, assim como do atual presidente da Vale, Murilo Ferreira. Estavam na lista ainda executivos como José Carlos Grubisich, ex-presidente da Braskem, Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, Luciano Coutinho, presidente do BNDES, Antonio Maciel Neto, ex-presidente da Suzano e presidente do grupo Caoa, Nildemar Secches, ex-presidente da Perdigão e Eduarda La Rocque, ex-secretária da Fazenda do município do Rio de Janeiro.

A expectativa dos especialistas era de que, sejam quem fosse, o nome seria de alguém pró-mercado e não teria ligação com o governo, o que estava animando os investidores. Na noite de ontem, Porém, a conclusão desta história acabou sendo bem diferente do que era esperado.

Ato 5 – Bendine é o novo presidente da Petrobras
O último capítulo – por enquanto – desta “minissérie” da Petrobras ocorreu nesta sexta. Logo após o início da reunião do Conselho de Administração da estatal a informação vazou: Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil, foi o indicado por Dilma para assumir a presidência da Petrobras, desapontando o mercado.

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A expectativa que ficou é que Bendine não representa nenhuma mudança para a estatal e que neste cenário dificilmente veremos as mudanças que são necessárias dentro da companhia. Isso porque ele já trabalhava no BB, banco que, assim como a Petrobras, é controlado pelo governo. Junto com ele, foram anunciados também os novos diretores da estatal: Solange da Silva Guedes (Diretoria de Exploração e Produção), José Celestino Ramos (Diretoria de Abastecimento), Hugo Repsold Júnior (Diretoria de Gás e Energia), Roberto Moro (Diretoria de Engenharia) e Ivan de Sousa Monteiro (Diretoria Financeira).

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.