Com ociosidade alta, indústria do aço da América Latina projeta aumento marginal de demanda em 2023

Consumo aparente caiu cerca de 8% em 2022, voltando às médias pré-pandemia; para este ano, setor espera alta de 1%

Rikardy Tooge

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As empresas produtoras de aço na América Latina esperavam que 2022 mantivesse o mesmo nível de demanda observado em 2021, considerado o melhor ano para a atividade na região. Mas as expectativas começaram a se frustrar logo nos primeiros meses, com a deflagração da guerra entre Rússia e Ucrânia. Depois, o movimento de aperto monetário nas principais economias globais trouxe um cenário recessivo que afastou de vez a projeção de um consumo maior, tendência que continua em 2023.

“A previsão era de aumento no consumo, mas ela foi ‘virando’ ao longo do ano por causa dos problemas externos. O ano que tinha a expectativa de ser bom ficou na média”, reconhece Alejandro Wagner, diretor-executivo da Associação Latino-Americana do Aço (Alacero), fórum que reúne mais de 60 empresas do setor na região, como Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e ArcelorMittal.

O consumo aparente de aço na América Latina, que considera a quantidade produzida combinada com números de exportação e importação, chegou ao pico de 74,9 milhões de toneladas em 2021, crescimento de 25,8% sobre 2020 por conta de uma demanda reprimida da pandemia. No ano passado, o índice chegou a 67,8 milhões de toneladas, representando um recuo anual de 9,5%, mas dentro das médias observadas entre 2018 e 2019, período pré-covid.

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O desempenho reflete uma desaceleração da economia regional ao longo do ano, lembra Wagner. Vale destacar que há uma forte correlação entre o consumo de aço e o Produto Interno Bruto (PIB) dos países, uma vez que a demanda por aço e minério se traduz em uma nação que está investindo mais em obras e com a indústria em plena capacidade – cenário que não ocorreu no último ano.

Alejandro Wagner, diretor executivo da Alacero (Divulgação)
Alejandro Wagner, diretor executivo da Alacero: perspectiva recessiva afetou consumo de aço na América Latina (Divulgação)

Apesar de o PIB do Brasil ter crescido 2,9% em 2022 e o da América Latina com uma expectativa de alta de 3,6%, o que se observou foi uma tendência de queda ao longo do ano, com uma pressão recessiva para este ano. Outro ponto destacado por Alejandro Wagner foi a base de comparação distorcida em relação a 2021.

Apesar desses problemas, a Alacero projeta atualmente um crescimento de consumo aparente de 1% para este ano – com perspectiva de queda neste percentual.

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Ociosidade alta

O dirigente destaca que o atual momento joga a indústria de aço na região para uma capacidade ociosa de 30%. “Não temos problema de oferta, mas um problema estrutural de demanda”, reforça Wagner.

Como exemplo, o diretor-executivo da Alacero utiliza dados do consumo per capta na região em comparação com outras economias. Enquanto na América Latina, o índice está em 105 kg per capta, nos Estados Unidos é de 250 kg por habitante. Europa (350 kg) e China (600 kg) mostram também que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

“Há déficits habitacional e de infraestrutura na América Latina, o que por si só seria possível ampliar o consumo. Mas o cenário recessivo e a forte concorrência da China são desafios”, lembra Alejandro Wagner, ao citar uma vantagem de custos e de oferta que os chineses têm sobre a produção de aço latino-americana.

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Produção de aço (Alacero/Divulgação)
Demanda por aço na América Latina deverá ficar próxima da estabilidade em 2023 (Alacero/Divulgação)

Para destravar a capacidade ociosa, a associação aposta em uma agenda de competitividade, desde a redução de burocracia e tributos, bem como a defesa de que o aço produzido na América Latina é um dos mais sustentáveis do planeta.

“Enquanto a China emite 2,17 toneladas de CO2 por tonelada de aço bruto, nós emitimos 1,66 tonelada. Nosso índice é menor até do que a média global, de 1,89 tonelada”, aponta Wagner.

Para garantir emissões ainda menores, o setor estima que serão necessários US$ 50 bilhões em investimentos até 2050. “As empresas já investem muito capital próprio na produção, mas não conseguirão chegar nestas cifras sozinhas, é necessária uma política pública dos países para isso”, conclui.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br