As 6 aquisições que tornaram a Kroton a maior empresa de educação do mundo

Contando os possíveis gastos com a incorporação da Anhanguera, companhia já desembolsou quase R$ 7 bilhões desde a metade de 2011

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A manhã desta segunda-feira (22) pegou os mercados de surpresa com o anúncio de que a Kroton (KROT3) e a Anhanguera (AEDU3) fariam uma associação, dando origem a um grupo avaliado em R$ 13 bilhões, que já nasce como a maior empresa do setor de educação no mundo. Contudo, esse foi apenas mais um passo dado pela Kroton desde que ela realizou uma captação milionária na metade de 2011, via oferta de ações.

A operação com a Anhanguera será finalizada via incorporação, sendo entregue aos acionistas da Anhanguera 1,364 ações da Kroton para cada 1 AEDU3 pré-desdobramento. Com isso, caso o desdobramento seja aprovado, serão 0,4548 ações KROT3 para cada AEDU3Após a operação, estimada em R$ 5 bilhões, a Kroton ficará com 57,48% do capital da nova empresa, enquanto os 42,52% restantes ficam com a outra companhia.

Este movimento, embora grandioso, foi apenas mais uma das diversas aquisições feitas pela Kroton desde 2011, após a companhia levantar R$ 424,9 milhões por meio de uma oferta primária e secundária de ações, realizada em junho. De lá pra cá, a empresa realizou outras 5 aquisições, que juntos totalizaram R$ 1,869 bilhão. Contando com a Anhanguera, a Kroton desembolsou cerca de R$ 7 bilhões em menos de dois anos

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Vamos às compras
Em 19 de julho de 2011, a Kroton adquiriu a Ceama (Centro de Ensino Atenas Maranhense) por R$ 28,4 milhões, fazendo com que, na época, a companhia passasse a ter 38 campi, em 28 municípios distribuídos em nove estados.

Dois meses depois a empresa adquiriu a Fais (Faculdade de Sorriso), no Mato Grosso, por mais R$ 7 milhões, sendo que apenas R$ 5,4 milhões seriam pagos já que a Faculdade tinha uma dívida líquida de R$ 1,6 milhão.

E, dezembro, foi a vez da maior aquisição feita antes da Anhanguera: a Unopar (Universidade Norte do Paraná), sendo desembolsado R$ 1,3 bilhão. O movimento colaborou para um crescimento no segmento de ensino a distância, sendo que a Unopar era a maior instituição do Brasil nesse quesito. Com a compra, a Kroton afirmou que passava a ter cerca de 264 mil alunos no ensino superior com 45 campi em todas as regiões do Brasil.

O négocio foi muito bem visto por diversos analistas. Entre as corretoras que deram parecer positivo para o negócio, estava o Bank of America, que avaliou que a aquisição poderia levar a um ganho de sinergia no valor de R$ 14,6 milhões ao ano. Outra casa de research que viu a compra com bons olhos foi o BTG Pactual, que disse que a Kroton poderia economizar pelo menos R$ 15 milhões por ano a partir de 2013.

Em 2012 ainda ocorreram mais duas aquisições: o Grupo Uniasselvi, por R$ 510 milhões em maio; e a Unirondon (União Educacional Cândido Rondon) por R$ 22 milhões, em agosto. Antes da aquisição o Grupo Uniasselvi contava com cerca de 86,2 mil alunos oferecendo cursos nas modalidades de Ensino a Distância para aproximadamente 73,7 mil alunos de Graduação e Pós-graduação por meio de 48 polos credenciados pelo Ministério da Educação.

A evolução dos resultados em 1 ano e meio
No resultado do segundo trimestre de 2011 – último período antes da oferta de ações -, a Kroton teve um resultado líquido negativo em R$ 3,6 milhões, seguindo o movimento ruim do ano anterior, quando, a companhia também registrou perdas de R$ 13,8 milhões na mesma época.

Porém, no final daquele ano, as contas já passavam a mostrar recuperação, com a empresa apresentando um lucro de R$ 1,5 milhão no último trimestre de 2011. No acumulado anual, a Kroton apresentou desempenho ainda melhor ao ter ganhos de 355,4%, passando de R$ 11,49 milhões em 2010 para R$ 52,34 milhões em 2011, já com os frutos das aquisições e medidas da época.

No início de 2012, o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) se tornou uma das grandes “armas” para o crescimento do setor de educação como um todo. Com o programa do governo, ficou mais fácil o ingresso de pessoas com dificuldades financeiras em faculdades.

De acordo com o presidente da companhia, Rodrigo Galindo, do total de novos ingressantes do primeiro trimestre de 2012, 43% contrataram o Fies, atingindo 36,9 mil alunos, o que representa 33% da base de alunos da Kroton. Com esse avanço expressivo no número de alunos, a companhia conseguiu superar a concorrência, além de aumentar seu market share, disse o diretor-presidente.

Com todos os movimentos da Kroton em relação à fusões e aquisições, além da emissão de novos papéis, as ações da companhia fecharam 2012 como uma das maiores altas da BM&FBovespa – alta de 151,50% no ano -, e a empresa ainda viu seu balanço melhorar consideravelmente entre 2011 e 2012. Os números mostraram um avanço de 2.330% no lucro líquido ajustado do quarto trimestre de 2011, de R$ 1,57 milhão para R$ 38,21 milhões, levando o lucro do ano para os R$ 268,03 milhões – alta de 411%.

Futuro da empresa
Após a fusão com a Anhanguera, a Kroton se tornou a maior companhia do setor de educação do mundo. “Nós já éramos a primeira e a terceira maiores companhias do mundo em valor de mercado e juntas somos mais que o dobro que a segunda maior companhia de educação do mundo, a New Oriental”, disse Galindo em teleconferência com analistas nesta segunda-feira. Segundo ele, o valor de mercado de Kroton e Anhanguera juntas chega a US$ 5,9 bilhões, enquanto a chinesa New Oriental tem valor de US$ 2,9 bilhões.

A transação ressalta a estratégia da empresa de mirar aquisições de grande porte. No início de abril, Galindo havia afirmado que daria prioridade a aquisições de instituições de grande porte voltadas ao ensino presencial. Vale lembrar que nos últimos anos, as aquisições da companhia valorizaram muito o ensino a distância.

Enquanto a Kroton está mais concentrada em ensino superior no Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Paraná, a Anhanguera está presente em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A nova empresa terá cerca de 1 milhão de alunos entre ensino superior presencial e a distância e educação básica.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.