Após subir 100%, Mundial devolve metade da alta em poucas horas; nova bolha?

Para uma small cap, movimento não chega a surpreender; mas para quem lembra da Mundial em 2010, sabe que altas repentinas podem ter um preço caro

Felipe Moreno

Publicidade

SÃO PAULO – As ações da Mundial (MNDL3), famosas pela “Bolha do Alicate” em 2011, registraram fortíssimos ganhos desde que passaram por um grupamento de 120 ações para 1 no começo deste mês. Desde o primeiro dia grupada (6 de maio) até o seu maior preço obtido desde então – R$ 22,39, obtida no intraday do último dia 22 -, os papéis da companhia subiram 111,2%.

Contudo, por volta das 14h30 (horário de Brasília), toda essa euforia deu espaço a uma forte realização e as ações viraram para o campo negativo, fechando com queda de 12,22%, a R$ 17,03. Na mínima do dia, elas chegaram a valer R$ 15,70, indicando uma desvalorização de 19,07%. Dessa forma, os papéis MNDL3 chegaram a devolver em poucas horas mais de 50% de toda a alta acumulada desde o grupamento – um movimento bastante semelhante com o que foi visto lá em 2011.

Vale destacar ainda o forte volume financeiro dos ativos, que chegou a R$ 3,65 milhões, muito acima da média diária dos últimos 21 pregões – cerca de R$ 400 mil. Foi a primeira vez que as ações da fabricante de alicate movimentaram mais de R$ 1 milhão em um pregão na Bovespa desde agosto de 2012. Boa parte do movimento se deu através de frequentes leilões, como em 2011. 

Continua depois da publicidade

Bolha do alicate original
Para entender o movimento presente, vamos olhar para o que aconteceu no passo. Entre abril e julho de 2011, as ações da Mundial subiram 3.290%, em um movimento que demorou quase 4 meses, mas em apenas 3 dias elas devolveram quase que toda esta alta – entre os dias 20 e 22 de julho, os ativos da companhia caíram cerca de 87%. Naquela época, os papéis da empresa chegaram a ter volume superior à Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5), as mais líquidas do mercado.

A própria BM&FBovespa via o caso com desconfiança: chegou a barrar a entrada da Mundial no Ibovespa, apesar de cumprir os requisitos de volume e negociação. Depois que a bolha estourou, pouco mais se falou da Mundial e a ação passou meses com poucos negócios e volumes baixíssimos – até o grupamento iniciar um processo que parece ser uma “mini bolha”.

Aquele movimento permanece pouco esclarecido até os dias de hoje – a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) investiga o caso e já chegou a processar alguns nomes, como Michael Ceitlin, CEO (Chief Executive Officer) e presidente do conselho de administração. “Naquela época justificava-se a alta pelo fato da companhia estar entrando no Novo Mercado. Hoje, pelo grupamento, que também não é algo tão relevante para fazer o papel dobrar de valor em uma semana”, alerta Leandro Martins, analista-chefe da Walpires Corretora. 

Continua depois da publicidade

Para ele, o ideal é não embarcar nesse tipo de papel, mesmo que alta seja muito chamativa. “Naquela época caiu de 5 reais para 50 centavos e as pessoas não conseguiam vender, já que entrava em leilão atrás de leilão. Quebrou muito investidor. Não é nem bom tentar justificar os movimentos desse tipo de ação”, afirma.

A “bolha do alicate”, da inflação até o estouro, entre abril  e julho de 2011

Bolha Mundial

Operar com timidez
Wagner Caetano, diretor da Top Traders, concorda com a opinião de Martins, mas diz que é possível operar esses papéis de forma limitada – no máximo com 10% do capital investido na bolsa. “Esses papéis são muito especulativos, muito voláteis. Fazem movimentos muito bruscos, o ideal é evitar operações de alavancagem, como no mercado a termo”, acredita. 

Continua depois da publicidade

O grupamento, para ambos, não é algo que justificaria uma mudança no perfil da ação. “Sem dúvida nenhuma, é uma tentativa de passar alguma credibilidade para o mercado. E com a ação valendo reais, fica muito mais difícil ter um tipo de bolha como aquela. Mas é a mesma empresa”, diz Caetano.