Ação da RD chega a subir 16% em 6 dias – mas motivo da alta é alerta para investidor

Empresa que foi a "queridinha" do mercado nos últimos anos, desabou 27% no primeiro semestre, mas de repente voltou a subir este mês

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após vários meses de amargura, as ações da RD (RADL3) – antiga Raia Drogasil – estão chamando atenção dos investidores com uma alta de 13% em julho. Mas antes de acreditar que isso pode ser o primeiro sinal de uma recuperação, o investidor precisa ligar o alerta para um dado específico, que indica que esta alta recente não é sustentável.

Nos últimos anos, a RD se tornou a queridinha dos investidores, com as ações ganhando cerca de 500% entre 2014 e o início deste ano. Porém, desde o seu pico, em R$ 91,80, atingido no último pregão de 2017, os papéis iniciaram um forte movimento de queda, desabando 27% no primeiro semestre.

No dia 29 de junho, as ações esboçaram uma retomada, subindo 7,69% em apenas três dias, para em seguida recuar quase 4%. Entre os dias 10 e 17 de julho, por sua vez, os ativos dispararam 16,22%, chamando atenção do mercado. Desde então, houve uma pequena queda dos papéis, que ainda se mantém próximo dos R$ 75,00 e acumula valorização de pouco mais de 10% em três semanas. 

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Um dos primeiros pensamentos que um investidor pode ter neste cenário é de que os papéis caíram muito e agora passam por uma recuperação. Mas alguns números podem trazer a resposta para este movimento, com uma clara indicação de que tudo não passa de um “short squeeze”, um movimento técnico envolvendo as ações alugadas de uma empresa e que fazem os papéis subirem forte em pouco tempo.

Um “short squeeze” ocorre quando muitas pessoas querem operar vendidas em uma ação, ou seja, apostar na queda dos papéis, e para isso é preciso alugar estes ativos de outro investidor. O problema é que quando ocorre uma escassez de ações para alugar, quem já estava vendido precisará zerar sua posição, levando a um movimento de alta dos ativos, fazendo com que o preço atinja o “stops loss” de outros vendidos, gerando um efeito dominó que leva a uma valorização muito rápida.

E uma das melhores formas de ver se isso está acontecendo com um papel é calcular a razão entre as ações “short” (posições vendidas) e o volume de negociação dos ativos. Atualmente, a RD tem 15.693.958 ações short, segundo dados da B3. Porém, considerando o volume médio negociado pelas ações, seriam necessários 11,37 dias para que um investidor zerasse sua posição vendida, o que indica exatamente esta dificuldade no aluguel, e, portanto, o “short squeeze”.

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Outro ponto importante que mostra a grande procura de investidores por aluguel de ações da RD, mas a escassez dos ativos é a taxa cobrada para que o tomador consiga realizar a operação, atualmente em 25,16% ao ano. Para se ter uma ideia, de todas as ações listadas na B3 com papéis disponíveis para aluguel, a companhia só perde para o Burger King, que tem uma taxa de 26,28% ao ano. Este aumento na taxa de aluguel, que ocorre justamente pela escassez de ações para esse fim, faz com que muitos investidores se desfaçam de suas posições, já que diminui a rentabilidade da operação vendida.

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Alguns investidores podem até questionar que o cenário da empresa pode ter melhorado, mas não é o que se vê entre os especialistas e até mesmo quem estava otimista com o papel não vê motivos para a alta. Um gestor consultado pelo InfoMoney ressaltou que nada mudou, apesar de uma pequena melhora na margem diante de um cenário em que os concorrentes da companhia também estão com dificuldades.

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Logo após a divulgação do último resultado da empresa, em maio, analistas passaram a destacar os riscos da competição no setor como uma explicação para a queda das ações da empresa. E mesmo com concorrentes como a Extrafarma não tendo um bom desempenho, o cenário para a RD segue bastante complicado.

Em relatório publicado em 25 de junho, a equipe do Bradesco BBI já mostrava suas preocupações com uma recomendação neutra. Para os analistas, a queda das vendas de mesmas lojas da Raia Drogasil gerou preocupações sobre a lucratividade e levou a uma análise detalhada do cenário da concorrência.

A expectativa era de que alguns players iriam reduzir suas diferenças para a RD e se tornarem mais competitivos, mas o que se viu realmente foi que muitos destes concorrentes se tornaram mais fracos, sendo que poucas empresas estão mostrando uma força maior. Mesmo assim, o Bradesco BBI avalia que o cenário para a companhia deve demorar para melhorar, o que justifica a cautela neste momento.

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Segundo os analistas, é possível concluir neste momento que as margens da companhia irão encolher em 2018 e 2019, sendo que eles têm uma projeção de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) entre 7% e 13% abaixo do consenso do mercado para o período. Por outro lado, eles acreditam na retomada do crescimento das margens posteriormente. Basicamente, eles acreditam que o setor como um todo terá dificuldades por pelo menos mais um ano.

Nesta segunda-feira (30), após o fechamento do mercado, a RD apresenta seu balanço do segundo trimestre e a expectativa é que os números comprovem este cenário mais fraco. Para os analistas do Brasil Plural, apesar das operações de alto nível e execução sólida, a empresa ainda deve apresentar desaceleração do crescimento da receita, ditante de um cenário que permanece competitivo e com a companhia sofrendo canibalização de seu agressivo plano de expansão.

É importante o investidor ter em mente que, apesar da força que a RD ainda tem como a maior empresa em seu setor, 2018 tem sido bastante complicado e o cenário não deve melhorar até o ano que vem. Para quem procura uma oportunidade de entrar no papel após a forte queda do primeiro semestre, esta alta recente até levantou uma esperança, mas é preciso ter cuidado. Não há porque acreditar que esta retomada terá início agora.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.