3% do patrimônio de 400 americanos permitiriam testar todos os cidadãos dos EUA para coronavírus

Gráfico interativo mostra o abismo da desigualdade social no mundo

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – O patrimônio dos 400 americanos mais ricos atualmente, cerca de US$ 2,96 trilhões, representa a riqueza de 60% da população dos EUA junta, ou cerca de 197 milhões de pessoas.

A comparação é de um estudo feito pelo desenvolvedor Matt Korostoff por meio do site de programação GitHub, que mostra uma escala de riqueza dos maiores magnatas do país e dá destaque para Jeff Bezos, CEO da Amazon e homem mais rico do mundo.

No momento em que o mundo enfrenta a pandemia do coronavírus, o objetivo é demonstrar a desigualdade social de maneira didática – já que é difícil dimensioná-la na prática. Por isso, o estudo traz uma série de comparações.

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Essas 400 pessoas, por exemplo, caberiam confortavelmente em um único avião Boeing 747 – e sobrariam mais de 200 assentos.

O estudo também mostra o que poderia ser feito com apenas 3% desses US$ 2,96 trilhões – algo em torno de US$ 100 bilhões: seria possível, por exemplo, testar todos os americanos para o coronavírus. Segundo estimativas do governo americano, aumentar a quantidade de testes para cerca de 30 milhões por semana custaria cerca de US$ 100 bilhões no total.

Com essa mesma quantia também seria possível erradicar a Malária, “que é uma das piores doenças infecciosas já enfrentadas pela humanidade, possivelmente matando mais pessoas do que qualquer outra doença infecciosa da história. Somente no século XX, a malária matou mais pessoas do que a Peste Negra”, diz o estudo.

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“O coronavírus nos mostrou todos os horrores de viver com uma doença mortal. Infelizmente, para grande parte do mundo, esse cenário era uma característica constante da vida cotidiana, mesmo antes da Covid-19”, complementa.

Estima-se que a malária possa ser erradicada globalmente até 2030 por um custo em torno de US$ 1,84 por pessoa em risco por ano, ou cerca de US$ 100 bilhões no total. “Hoje, cerca de 800 crianças morrerão de malária. Um pequeno grupo de pessoas super-ricas poderia impedir isso por uma quantia de dinheiro tão pequena que provavelmente nem notaria sua ausência. Mas eles escolhem não fazer isso”, diz o estudo.

Se aumentarmos um pouco mais a porcentagem, para 5,7%, seria possível tirar todos os americanos da pobreza.

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“Ao fim de 2019, cerca de 38 milhões de americanos viviam na pobreza. Se os americanos em situação de pobreza fossem um estado, seriam o segundo maior em população – atrás apenas da Califórnia. Há mais americanos vivendo na pobreza do que toda a população do Canadá (são 37,6 cidadãos). Provavelmente há muitos mais pessoas nessa situação hoje, como resultado do coronavírus, mas esses números ainda não são conhecidos”, diz o gráfico.

Cada americano pobre poderia estar acima da linha da pobreza com um subsídio único de cerca de US$ 10 mil por família empobrecida (e cerca de US$ 7 mil para indivíduos empobrecidos). O custo total seria de US$ 170 bilhões.

Ainda mais chocante: com 8% dessa riqueza seria possível prover água limpa e descarte de resíduos para todo ser humano do mundo. “Cerca de 844 milhões de pessoas não têm acesso a água limpa de qualquer tipo. Aproximadamente o mesmo número não tem acesso a um banheiro ou qualquer suporte do tipo e, portanto, defeca ao ar livre”, segundo o levantamento.

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A água contaminada é uma das principais fontes de doenças, incluindo cólera, disenteria e febre tifóide. “E estima-se que mate cerca de 829 mil pessoas por ano, tornando-a uma das maiores causas de morte no mundo. O custo para fornecer água limpa para todas as pessoas seria de cerca de US $ 240 bilhões”, diz o estudo.

Veja o gráfico de como os valores poderiam ser gastos:

A riqueza poderia ser distribuída para diferentes fins e ainda sobraria US$ 500 bilhões.

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Veja o levantamento para mais exemplos:  

Cada pixel da imagem (o menor ponto que forma uma imagem digital) representa US$ 1 mil. E cada espaço entre duas barras pretas no rodapé representa US$ 80 milhões. Para interagir com ele, clique aqui. 

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Bezos: história à parte

Jeff Bezos é o fundador e CEO da Amazon e o homem mais rico do mundo hoje com US$ 139 bilhões de patrimônio, segundo a lista da Forbes.

Mesmo em meio à pandemia, Bezos viu seu patrimônio líquido crescer mais de US$ 40 bilhões, com clientes recorrendo à Amazon para todas as suas necessidades de consumo durante a quarentena.

Veja alguns exemplos de comparações a partir da fortuna de Bezos:

No início deste ano, Bezos comprou a casa mais cara de Los Angeles por 0,125% de seu patrimônio: se você ganha R$ 10 mil por mês (mais do que grande parte dos brasileiros), seria como gastar R$ 12,5 em uma casa – exceto que o valor da mansão do executivo foi de US$ 165 milhões (ou cerca de R$ 912.400.686, com a cotação do dólar no patamar dos R$ 5,50).

O gráfico mostra, comparativamente, o salário anual de um funcionário que trabalha no armazém da Amazon com a fortuna de Bezos.

Ainda, é possível compreender que com apenas 6,4% do patrimônio de Bezos (ou US$ 9 bilhões) seria possível pagar o custo anual da quimioterapia de todos os americanos com câncer. Em 2018, o executivo embolsou US$ 9 bilhões em dois dias após a divulgação de resultados da empresa superar as expectativas, segundo informações da Forbes.

A riqueza do CEO do Goldman Sachs, David Solomon, chega a US$ 50 milhões, que representa 0,03% do patrimônio do CEO da Amazon. Outro exemplo: o patrimônio da cantora Beyoncé é de US$ 400 milhões, o que representa 0,28% do a fortuna de Bezos.

“Podemos ter um mundo no qual existem pessoas ricas, sem manter quase todo o dinheiro com os super-ricos. Nenhum ser humano precisa ou merece essa quantidade de dinheiro”, diz o estudo.

Mais comparações estão disponíveis no gráfico. 

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.