Após surpreender o mercado, alta das ações da Natura pode, enfim, ceder

Depois de um 2010 surpreendente e de valorização de 11,61% em março, cenário favorável desta vez parece já estar precificado

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Desde a segunda metade de 2010 pra cá, os analistas têm demonstrado bastante ceticismo com a possibilidade de novos ganhos com as ações da Natura (NATU3). Embora seja uma empresa muito bem vista pelo mercado, não só pelo segmento em que atua como pelo seu modelo de negócios, a justificativa para essa apreensão deve-se ao fato de que o cenário favorável para a companhia já encontra-se precificado em suas ações, conforme explica o Barclays Capital.

Mesmo em meio à descrença do mercado, as ações NATU3, que fecharam o primeiro semestre de 2010 com alta de 12,89%, estenderam seus ganhos e somaram no ano passado uma variação positiva de 36,74% – a 5ª maior alta anual do Ibovespa –, atingindo uma cotação muito próxima do preço-alvo projetado pela maioria das casas de research e, consequentemente, diminuindo ainda mais a expectativa de que novas valorizações ocorram.

Já em 2011, após acumular perdas nos dois primeiros meses do ano – 10,46% em janeiro e 1,15% em fevereiro –, as ações da Natura fecharam março a exatos R$ 46, indicando uma valorização mensal de 11,61% e praticamente zerando as perdas acumuladas no bimestre anterior. Embora (mais uma vez) surpreendente, o movimento de alta dos papéis não deverá se entender nos próximos meses, acreditam os analistas, que apontam três fatores para sustentar essa opinião.

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1º fator: cenário já precificado
Já mencionado anteriormente, o primeiro ponto a ser destacado é o fato de que o bom momento pelo qual a empresa tem passado nos últimos anos já está precificado em suas ações, o que acaba limitando a possibilidade de novas valorizações mais significativas no curto prazo, reforçam os analistas.

De maio de 2004 (ano em que a Natura
abriu seu capital) pra cá, as ações da
companhia já subiram mais de 600%, sendo
um dos cases de IPO (Initial Public Offering) de
maior sucesso da bolsa brasileira.

“Apesar de gostar da empresa e do modelo de negócios dela e apesar dos seus resultados continuarem fortes, sempre trazendo números bons e sólidos, eu acho que esse cenário positivo já está precificado nos papéis”, diz o analista do setor de consumo e varejo da Socopa Corretora, Marcelo Varejão.

Ele ressalta ainda que, embora a alta das ações tenha sido surpreendente em março, o seu valuation atual mostra pouca atratividade no retorno teoricamente oferecido pelo preço-alvo projetado para as ações em relação às companhias do mesmo setor.

Apesar de também salientar que o papel encontra-se bem precificado, o analista Renato Prado, do Banco Fator Corretora, é outro que faz questão de elogiar o perfil da Natura, que possui fundamentos mais defensivos em relação aos seus pares no mercado brasileiro. “Além disso, ela é uma das empresas mais rentáveis de todas que a gente cobre, ou seja, ela é a que concede maior retorno para cada real investido”, complementa o analista.

Contudo, para que todos esses pontos positivos tornem-se motivo para recomendar a compra, Prado diz que é preciso que a ação fique mais barata.

2º fator: desaceleração nos resultados
O analista do Banco Fator Corretora comenta ainda sobre os resultados de 2010 da Natura, divulgados no final de fevereiro. Embora a companhia continue apresentando um desempenho muito forte, Prado classificou na ocasião os números como negativos, tendo em vista que ele observou uma desaceleração tanto em termos de receita quanto em margem – ou seja, esses indicadores continuaram crescendo, mas a um ritmo menos forte do que aquele visto nos anos anteriores.

Mesmo com essa avaliação negativa, não se pode esquecer que a ação NATU3 teve um ótimo desempenho nos pregões pós-resultados, acumulando fortes ganhos no começo de março. Do dia 25 de fevereiro, data da divulgação do balanço, até o fechamento da última quinta-feira (14), os papéis da companhia subiram de R$ 42,86 para R$ 45,16, indicando valorização de 5,37%, enquanto no mesmo período o Ibovespa recuou de 66.902 pontos para 66.279 pontos – queda de 0,86%.

3º fator: alta recente foi apenas correção do setor
Renato Prado também destaca que a alta recente da ação da Natura pode ser explicada como um movimento de correção à desvalorização acumulada no primeiro bimestre. Para o analista, o fato da empresa possuir uma geração de caixa mais previsível do que outras companhias do setor faz com que seja mais fácil de mensurar seu valuation e que, por conta do cenário favorável já estar precificado, o papel tende a oscilar um pouco abaixo do preço-alvo projetado pelos analistas – Prado prevê um target de R$ 51,92, acima do preço-alvo estimado pelo Barclays (R$ 47).

Além disso, o especialista da Fator ressalta que outras empresas do setor também tiveram um começo de ano bastante negativo no mercado acionário mas que corrigiram essas perdas no decorrer dos meses. É o caso da ação da Lojas Renner (LREN3), que após cair 14,18% em janeiro, acumulou ganhos em fevereiro (+5,37%), março (+4,61%) e abril (+7,2%, até o fechamento do dia 14). Com um movimento mais acentuado, as ações da Hering (HGTX3) avançaram 20,82% em março e já subiram 8,33% em abril, depois de terem perdido 8,04% de valor de mercado no 1º bimestre de 2011. 

O movimento negativo visto com as ações do setor varejista no começo do ano deveu-se às expectativas cada vez maiores para a inflação e, consequentemente, para a taxa de juros brasileira, o que acaba afetando o consumo interno, explica Prado. Vale lembrar também que essas companhias vieram de um ano extremamente positivo, figurando entre as maiores altas da bolsa brasileira, ao passo que o Ibovespa mostrou um modesto avanço de 1,04% em 2010.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers