Oposição na Venezuela usa emoção da volta de quem saiu do país como arma de campanha

A líder oposicionista María Corina Machado, que está impedida de concorrer, pede votos para Edmundo González e diz que vitória permitirá o retorno de cerca de 7 milhões de migrantes

Reuters

María Corina Machado e Edmundo González (ao centro) em La Victoria - 18/5/2024 (Foto: Leonardo Fernández Viloria/Reuters)

Publicidade

Caracas (Reuters) – A oposição venezuelana está realizando uma campanha presidencial incomum, estrelada por duas figuras, já que a vencedora das primárias, María Corina Machado – que está impedida de exercer o cargo – faz campanha em nome de seu substituto, o até então discreto Edmundo González.


Ambos os líderes estão empregando uma retórica emotiva, pedindo aos eleitores que apoiem mudanças que, segundo eles, levarão a mais liberdade e ao possível retorno de cerca de 7 milhões de migrantes que fugiram da recente crise econômica da Venezuela.


A campanha presidencial da oposição é a primeira participação em uma década, após as forças políticas terem boicotado a eleição de 2018. O presidente Nicolás Maduro, do partido Socialista, está buscando seu terceiro mandato.

Continua depois da publicidade


O governo de Maduro chegou a um acordo com a oposição no ano passado para realizar eleições, o que levou os Estados Unidos a aliviar temporariamente sanções contra o petróleo venezuelano. Em abril, Washington voltou a impor sanções ao setor petrolífero por considerar que o país não tinha feito o suficiente para tornar o processo eleitoral justo.


Pesquisadores disseram que a campanha de Machado em todo o país, na qual ela exibe um pôster de González, aumentou a aceitação dos eleitores sobre ele e consideram que ele poderia atrair metade de todos os votos, em comparação com um terço para Maduro.


“Volta para casa”

 

Continua depois da publicidade

“Em 28 de julho, venceremos com nosso candidato Edmundo, libertaremos a Venezuela e levaremos nossos filhos de volta para casa”, disse Machado a uma multidão animada no fim de semana em um evento conjunto em La Victoria, cidade natal de González na província central de Aragua.


Muitos venezuelanos idosos permaneceram no país mesmo quando seus filhos e netos partiram em busca de oportunidades no exterior, enviando remessas de dinheiro para ajudar os membros da família a sobreviver.


Sob um sol escaldante, Machado, engenheira de 56 anos cuja proibição de ocupar cargos públicos foi confirmada pela Suprema Corte em janeiro, caminhou em meio a uma multidão de eleitores.

Continua depois da publicidade


O comício de sábado não contou com palco, luzes ou sistema de som. Em vez disso, Machado, que diz que sua proibição é ilegal, falou da caçamba de um grande caminhão, dizendo aos espectadores que, se votarem em González, a oposição unida vencerá.


Os comentários do ex-diplomata González, 74 anos, nomeado candidato da oposição em abril, foram interrompidos por cantos e aplausos. “Nunca vimos uma pessoa que não fosse o candidato fazer campanha”, disse Heberto Leal, de 70 anos, da cidade petrolífera de Maracaibo, que sofre com apagões regulares.


“Machado é a líder do movimento que mudou a Venezuela e que acordou tantas pessoas que não acreditavam”, afirmou Leal, acrescentando que González é “uma garantia para a recuperação da Venezuela”.

Continua depois da publicidade


Maduro, cujo governo diz que González é um fantoche dos Estados Unidos, não enfatizou políticas específicas durante sua campanha, mas, em vez disso, tem afirmado que a oposição é uma oligarquia que não está interessada nos pobres da Venezuela.


Ainda há o risco de o governo, a Suprema Corte ou outra autoridade retirar González da cédula de votação, bani-lo do cargo ou até mesmo adiar a eleição, segundo analistas.


Também há dúvidas sobre se a vitória de González seria reconhecida por Maduro e se o candidato da oposição poderia assumir o cargo em janeiro, caso vencesse.