Como o lobby cripto planeja influenciar as eleições dos EUA em 2024

Bilionários estão oferecendo muito apoio – e dinheiro – à causa cripto, entre eles os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, fundadores da bolsa de ativos digitais Gemini

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Os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, que ficaram bilionários com Bitcoin (CoinDesk)

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O lobby as criptomoedas está alertando os candidatos americanos em ano de eleições: fique do nosso lado ou arrisque ser derrotado nas urnas.

Uma evidência disso foi a derrota da deputada democrata Katie Porter nas primárias do Senado da Califórnia na semana passada. Agentes peso-pesados da indústria cripto investiram US$ 10 milhões em uma campanha para angariar votos que, segundo eles, ajudou a eliminar Porter nas primárias abertas. O movimento abriu um caminho mais claro para seu colega democrata Adam Schiff – visto como mais amigável com as criptomoedas – assumir o cargo em novembro.

Bilionários estão oferecendo muito apoio – e dinheiro – à causa, por meio de Super PACs, um mecanismo de financiamento que dá maior poder de influência nas campanhas a detentores de grandes fortunas. Um Super PAC pró-cripto chamado Fairshake acumulou cerca de US$ 75 milhões para gastar nas eleições nos EUA. Os apoiadores incluem o CEO da Coinbase, Brian Armstrong, os gêmeos bilionários Cameron e Tyler Winklevoss – fundadores da bolsa de ativos digitais Gemini – e Marc Andreessen, da Andreessen Horowitz.

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Defensores das criptos reconhecem que são mínimas as chances de conseguirem destituir uma das vozes críticas mais duras do setor, a da senadora Elizabeth Warren, que está concorrendo à reeleição este ano em posição relativamente segura. No entanto, planejam usar o exemplo da derrota de Porter para pressionar os aliados mais vulneráveis da senadora democrata. Aliar-se a Warren “tornará sua eleição muito mais difícil”, disse Kristin Smith, diretora executiva do grupo de trading de criptomoedas Blockchain Association, em entrevista.

Um dos candidatos que o grupo de Smith diz estar observando é o senador Sherrod Brown. O democrata de Ohio e presidente do Comitê Bancário do Senado está à frente de um grupo de legisladores que pressiona por limites mais rígidos às criptomoedas. “É uma questão em aberto sobre quais movimentos ele fará em relação às criptos”, disse Smith sobre Brown. Um porta-voz da campanha do senador Brown não quis comentar.

Nova legislação

A indústria dos criptoativos está de olho nas propostas legislativas destinadas a combater o financiamento ilícito de campanhas. Dois projetos de lei, um apoiado por Warren e pelo senador republicano Roger Marshall, e outro apresentado pelos senadores Mark Warner, Jack Reed, Mitt Romney e Mike Rounds, teriam como objetivo aplicar para empresas de criptomoedas as regras de combate à lavagem de dinheiro que existem atualmente para bancos e outras instituições financeiras.

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As redes criminosas têm usado criptomoedas para movimentar fundos ilícitos e aproveitado ferramentas para tornar as transações mais anônimas. Grupos como a Blockchain Association e a Câmara de Comércio Digital dos EUA disseram que os projetos de lei atuais imporiam exigências impraticáveis e efetivamente matariam a indústria cripto nos EUA.

As pressões políticas sobre o setor cripto avançaram rapidamente em relação a um ano atrás, quando parecia que a indústria nunca se recuperaria de uma enxurrada de escândalos e falências que levaram uma das suas figuras mais famosas, Sam Bankman-Fried, a ser condenada por acusações criminais.

Outros momentos de otimismo em torno das criptos fracassaram após o olhar mais duro dos reguladores e a luta para estabelecer um uso prático para a tecnologia. O deputado Brad Sherman, um democrata do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara que questiona regularmente a utilidade das criptos, disse que o efeito do setor nas eleições é provavelmente exagerado. Mas a capacidade de investir milhões de dólares em campanhas não escapará da atenção dos legisladores.

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“Não é tão importante saber se eles são decisivos, mas sim se estão mirando os 430 membros do Congresso com os quais não estão envolvidos nas disputas”, disse ele em uma entrevista.

A Super Terça foi o primeiro grande teste para o Super PAC pró-cripto. As principais disputas nas quais ele poderá participar, de acordo com o porta-voz Josh Vlasto, são as primárias democratas no Senado em Michigan e Maryland – para os assentos atualmente ocupados por Debbie Stabenow e Ben Cardin, que estão se aposentando – e a corrida do membro do Comitê Bancário do Senado, Jon Tester, em Montana.

Ponto de virada dos ETFs

O mercado cripto está se recuperando graças, em grande parte, à aprovação pelos reguladores dos EUA, em janeiro, de ETFs (fundos de índice) de Bitcoin à vista. Essa decisão deu uma nova aura de respeitabilidade à criptomoeda mais difundida.

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Chegar a esse ponto não foi fácil depois de uma série de falências em 2022 que culminou na implosão de um dos empreendimentos de maior visibilidade do setor, a FTX. O cofundador da empresa, Bankman-Fried, aguarda sentença depois de ter sido condenado no ano passado por fraudar clientes.

Outros nomes passaram reconstruir relacionamentos em Washington, enquanto legisladores consideram uma série de projetos de lei para regular o mercado, incluindo medidas para combater o financiamento ilícito e para controlar stablecoins, que são tokens atrelados a ativos como o dólar. Se adotadas, as novas regras poderão mudar a forma como as empresas operam. A indústria também aguarda a possível aprovação de ETFs de Ethereum, a segunda maior criptomoeda do mundo.

Críticos são céticos quanto à capacidade da indústria de influenciar as eleições. Algumas propagandas na TV sobre criptos, pagas pelos PACs antes da Super Terça, dizem, evitaram mencionar cripto, concentrando-se em questões polêmicas, como direitos reprodutivos e segurança de armas nas mensagens de apoio aos democratas, e impostos e inflação mais baixos para os republicanos.

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“Eles sabem que o público vê as criptomoedas como criptonita – ela afasta mais eleitores do que atrai”, disse Dennis Kelleher, presidente e CEO da Better Markets, um grupo que pressiona por uma maior supervisão do mercado. Mas “você pode apostar que sempre que os agentes do setor cripto gastarem um centavo, alegarão que influenciaram o resultado – e cobrarão a volta”.

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