China repete aposta na economia e endurece discurso sobre Taiwan. Por que isso importa?

Como não houve detalhamento sobre como Pequim pretende atacar suas fragilidades na área imobiliária e no plano fiscal, analistas veem dificuldade em atingir metas; gasto militar mais alto também preocupa

Roberto de Lira

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Um pouco de mais do mesmo foi o que o primeiro-ministro da China, Li Qiang, ofereceu nesta terça-feira (5), quando discurso na 14ª Assembleia Popular Nacional para anunciar as metas oficiais para 2024. Ele projetou um crescimento econômico ambicioso de “cerca de 5%” para o ano e anunciou a continuidade de uma estratégia fiscal proativa, além de reconhecer as dificuldades geopolíticas atuais. Mas ele revelou também a intenção de elevar os gastos militares e subiu o tom sobre a questão de Taiwan.

Não houve uma recepção muito amistosa por parte de investidores globais após o discurso. Não que as metas fossem inesperadas, mas houve uma avaliação geral que será preciso anunciar mais medidas do que projeções. O InfoMoney listou alguns anúncios e suas implicações.

PIB

O governo repetiu a projeção feita na reunião “Duas Sessões” de 2023, informando que a economia deve ter uma expansão de “cerca de 5%” nesse ano. A China conseguiu ficar nesse patamar, anunciando uma expansão de 5,2% no ano passado, mas o próprio governo e vários analistas admitem que a meta é ambiciosa. Para o FMI, a economia deve acrescer apenas 4,6% no ano. O analista Tao Chuan, da Soochow Securities, disse à Reuters que o crescimento de 5% de 2023 foi irregular, evidenciando profundos desequilíbrios estruturais, que precisam ser combatidos, desde o fraco consumo das famílias até os baixos retornos de investimentos.

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Mesmo com a promessa de reformas, a falta de medidas concretas para conter a crise imobiliária e as dívidas dos governos locais só fazem crescer as incertezas. E, como lembrou a Chatham em um análise, uma China mais voltada para o mercado doméstico, como foi novamente anunciado, significa que outros países receberão um impulso menor na sua atividade econômica por unidade do PIB da China. “Quando a geopolítica e a ideologia impulsionam a tomada de decisões, a eficiência fica em segundo plano. E isso é uma má notícia para a economia mundial.”

Bônus e incentivo às empresas

A única medida efetiva anuncia nessa terça-feira foi o plano do governo chinês de emitir 1 trilhão de yuans (US$ 139 bilhões) em títulos ultralongos especiais, como parte das iniciativas para estimular a atividade empresarial e atingir a de crescimento econômico anual. Segundo ele, rendimentos serão usados para financiar megaprojetos e apoiar setores que se alinhem com o desenvolvimento estratégico do país. Os valores também serão investidos na segurança nacional.

Ele também prometeu que o governo liquidará os pagamentos atrasados ​​devidos a empresas privadas, continuará  a reprimir a imposição de taxas e multas arbitrárias e que buscará criar um ambiente político estável, transparente e previsível”. Mas vários  analistas alertaram que decisão da China indica que o país vai priorizar estímulos fiscais para impulsionar a economia, em vez da política monetária, o que configura um risco. Além disso, mais que promessa, os economistas esperavam mais ação. Xu Tianchen, da Economist Intelligence Unit, disse ao jornal South China Morning Post, disse que a preocupação mais premente é se a China conseguirá resolver os atrasos nos pagamentos devidos às empresas privadas.  “Algumas ações foram tomadas, mas não o suficiente. Portanto, seria interessante ver se mais financiamento e legislações podem ser fornecidos a esse respeito.”

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Gastos militares e Taiwan

Foi nas questões de segurança que a o discurso do primeiro-ministro foram mais veemente. Ele disse deve a China deve “fortalecer o treino militar e a preparação em todos os níveis” do Exército de Libertação Popular. E também anunciou que o orçamento militar do país aumentará 7,2% e será fixado em 1,66 biliões de yuans (cerca de US$ 231,4 bilhões). Assim, a Chia consolida o segundo posto global em gastos militares, atrás apenas dos Estados Unidos.

Sobre a questão de Taiwan, houve uma elevação no tom. Se, no ano passado, Li tinha apelado ao “avanço do processo de reunificação pacífica da China”, este ano ele afirmou que eles “serão firmes no avanço da causa da reunificação da China”. Li afirmou que Pequim vai se opor resolutamente à “independência de Taiwan” e também criticou a interferência externa nesse assunto. Foi a segunda vez desde 2022 que ele citou a intromissão indevida no que o governo considera uma questão interna. Segundo Li Mingjiang, estudioso de defesa da Escola Rajaratnam de Estudos Internacionais (RSIS), em Cingapura, a China está mostrando que, na próxima década, quer aumentar o seu exército até ao ponto em que esteja “preparada para vencer uma guerra se não tiver outra escolha senão combatê-la”, segundo a alemã Deutsche Welle, citando a Reuters.

(Com Estadão Conteúdo, Reuters e Dow Jones Newswires)