Caixa vai ampliar pausa para pagar parcelas do financiamento imobiliário, diz Pedro Guimarães

Presidente da Caixa anunciou extensão do prazo em entrevista ao vivo para o InfoMoney e disse que o banco espera queda de apenas 3% do PIB em 2020

Giovanna Sutto Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, disse em primeira mão ao InfoMoney que a pausa no pagamento das prestações dos financiamentos imobiliários contraídos no banco, válida atualmente por quatro meses, será ampliada.

“Posso falar aqui em primeira mão. São 2,4 milhões de famílias que têm a pausa no crédito imobiliário e vamos ampliar, sim, mas eu vou anunciar isso organizadamente. […] Já foi aprovado internamente, a gente vai fazer um anúncio em detalhe, mas será ampliada a pausa”, disse Guimarães ao InfoMoney em entrevista ao vivo realizada na manhã desta terça-feira (21).

Inicialmente, a suspensão no pagamento das parcelas do financiamento valia por dois meses, depois foi estendida para três meses, quatro meses e, agora, o presidente da Caixa disse que que o banco fará um anúncio para detalhar a nova extensão do prazo.

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“O que é importante: a gente tem que fazer também a saída dessas pausas, então nós vamos anunciar exatamente essa sensibilidade. Temos um plano para o cliente voltar a pagar – até porque nós, aqui na Caixa, acreditamos que a queda do PIB vai ser muito inferior ao que eu li em qualquer jornal. [Quanto?] Menos de 3% e olhe lá”, afirmou Guimarães.

Ao ser confrontado com outras estimativas mais pessimistas, como a do Fundo Monetário Internacional, que prevê queda de 9,1% para o PIB do Brasil em 2020, Guimarães disse que a Caixa nunca esteve tão forte e nunca teve uma demanda tão alta nos seus 159 anos de existência.

“Os segmentos que nós temos foco, como imobiliário e infraestrutura, estão indo muito bem – nós não somos muito fortes nessa parte das grandes empresas e serviços, que certamente estão sofrendo mais. Então, do ponto de vista da Caixa, nós já retomamos muito forte e os indicadores que estamos vendo viajando o Brasil inteiro são de retomada”, disse Guimarães.

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Ele acrescentou que nos meses de janeiro e fevereiro deste ano a demanda por crédito foi 20% superior à dos mesmos meses do ano passado e prosseguiu dizendo que “março foi um mês ruim, abril foi terrível, maio muito ruim, mas a partir de junho foi muito forte e julho está mais forte que junho”.

Distribuição do lucro do FGTS

Outro tópico abordado durante a entrevista foi a distribuição do lucro do FGTS. O fundo rende 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (atualmente zerada), mais o lucro distribuído aos cotistas. Uma Medida Provisória chegou a elevar de 50% para 100% o repasse do lucro do FGTS aos cotistas em 2019, mas o presidente Jair Bolsonaro vetou a medida no fim do ano passado.

Assim, a distribuição do lucro voltou a ser parcial, mas o percentual exato ainda não foi definido. O InfoMoney publicou uma matéria que mostra que se o repasse voltar a ser de 50%, o rendimento do FGTS em 2020 deve ficar próximo de 4,5% – superando o rendimento da poupança (atualmente em 1,57%) e os 2,25% ao ano da Selic.

Questionado se o percentual deste ano estava definido, Guimarães disse que quem vai divulgar a informação é o Conselho Curador do FGTS, já que a Caixa é apenas a gestora do valor, mas comentou: “Quanto mais você distribuir do lucro, menor será a dinâmica de recursos”.

Ele afirmou que o FGTS é uma importante fonte de recursos (funding) para as operações de crédito imobiliário voltadas à população de baixa renda, que praticamente não é atendida pelos bancos privados.

“Há financiamento na baixa renda sem o FGTS? Empiricamente, parece que não, porque só a Caixa financia e toma o risco de inadimplência. Também não significa que a gente empresta com o FGTS tomando o risco. Pelo contrário, nesta pausa de quatro meses [do financiamento imobiliário] continuamos pagando ao FGTS todas as parcelas e tomamos o risco de crédito, se por acaso após a pandemia as pessoas não pagarem”, explica

Ele disse que a Caixa é responsável por 99% do crédito imobiliário voltado à baixa renda e o Banco do Brasil, 1%. E afirmou que a participação da Caixa nos financiamentos feitos pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), focados na população de classe média, subiu de 20% para 50%.

Ele credita o aumento da presença do banco no segmento de média renda à concessão de financiamentos imobiliários durante a crise com a garantia de condições especiais, como seis meses de carência para começar a pagar as prestações de imóveis novos e usados.

Sobre o histórico de baixa remuneração do fundo ele admitiu que, de fato, enquanto a Selic estava acima dois dígitos, a remuneração do FGTS era baixa. “Hoje a remuneração é muito maior. Mas as discussões do FGTS agora são: até que ponto uma taxa ou outra é sustentável; e os investimentos que foram feitos no passado no FI-FGTS, que foram mal feitos, gerando prejuízos para o fundo”, diz.

O FI-FGTS é um fundo gerido pela Caixa, que busca rentabilizar os recursos do FGTS aplicando em projetos de infraestrutura – como rodovias, portos, aeroportos, energia e saneamento. Segundo Guimarães, alguns projetos que usaram investimento desse fundo foram um “desastre”. “Por isso, hoje não emprestamos dinheiro para grandes empresas. Não é vantagem competitiva da Caixa”, diz.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.