Preços de carros usados sobem mais de 13% no primeiro semestre diante da falta de peças e ritmo mais lento na produção

Na hora da compra, é preciso observar a urgência, o orçamento e avaliar o cenário mais macro para não fazer mau negócio, diz especialista

Giovanna Sutto

Vista aérea de carros estacionados em pátio

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SÃO PAULO – Os preços dos carros usados tiveram um alta de 13,04% no primeiro semestre de 2021, segundo um estudo feito pela Kelley Blue Book Brasil (KBB), consultoria automotiva. O estudo considera os veículos que possuem entre quatro e dez anos de uso.

“Dentro do grupo dos usados, foram os carros mais velhos que puxaram as altas de preços ao longo do semestre, acumulando variação de 15,01%, portanto, acima da média do segmento”, diz a KBB. De qualquer maneira, todos os anos modelos analisados, de 2011 a 2017, tiveram aumentos acima dos 10% no período.

Não há a separação por modelo de carro, os dados são um acumulado de preços do banco de dados da consultoria, que possui tecnologia e algoritmo próprios para precificar e acompanhar os preços dos carros ao longo dos anos.

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“Todos os dados são avaliados diariamente por uma análise da equipe para garantir a validação dos preços publicados no site de acordo com a realidade brasileira”, diz o estudo.

Veja as variações para os carros usados: 

Variação acumulada de preços de veículos usados (de 4 a 10 anos de uso) 
Ano modelo  Total no 1° semestre (2021)
Total  13,04% 
2017 12,21%
2016 11,29%
2015 13,47%
2014 13,37%
2013 13,15%
2012 13,76%
2011 15,01%

Carros seminovos

O levantamento também traz a análise de preços dos modelos seminovos, aqueles que possuem até três anos de uso. E os números observados no segmento de seminovos reforçam a valorização que os carros usados vêm sofrendo neste ano.

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Entre janeiro e junho, a variação acumulada nesta categoria foi de 9,75%. E o ano modelo 2018 foi o que obteve a maior média de reajuste, de 12,18%. Veja:

Variação acumulada de preços de veículos seminovos (até 3 anos de uso) do 1° semestre de 2021 
Ano modelo  Total no 1° semestre (2021)
Total  9,75% 
2021 7,54%
2020 7,73%
2019 11,58%
2018 12,18%

Efeito pandemia

O comportamento dos preços dos carros usados e seminovos neste semestre esteve em linha com o momento aquecido do setor. O aumento na demanda, tende a aumentar o preço dos carros.

Dados da Fenabrave mostram que entre janeiro e junho deste ano foram emplacados 5.451.498 5 automóveis e comerciais leves seminovos e usados, alta de 81% na comparação com 2020 e de 6,4% sobre 2019, ano pré-pandemia.

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O InfoMoney vem mostrando em algumas reportagens os efeitos da pandemia nos preços dos carros. No Brasil, em meados de abril e também mais recentemente, fábricas chegaram a ficar fechadas temporariamente devido aos problemas no ritmo de produção.

Tais problemas que se iniciaram ano passado com até 99% da produção paralisada em abril, vêm se arrastando para 2021: faltam peças ao redor do mundo, como os semicondutores, e todo o processo de fabricação está mais lento que o normal.

É esse atraso na produção de carros novos que está redirecionando a demanda de modelos 0km para modelos seminovos e usados inflando os preços como consequência. Afinal, faltam modelos novos no mercado.

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Segundo Ana Renata Navas, diretora geral da Cox Automotive, grupo dono da KBB, entre outros motivos, o que acontece em muitos casos é que o imediatismo da compra empurra o consumidor para os seminovos (saiba mais aqui).

“Por não querer enfrentar longas filas de espera para adquirir um modelo novo (que podem passar de seis meses, a depender do modelo e cor do veículo escolhido), o cliente busca usados, o que também valoriza os preços”, diz.

Carros novos não escaparam da alta

Apesar desse redirecionamento de demanda para seminovos, os aumentos monitorados pela KBB de carros novos mostram que a variação média foi de 4,28% no acumulado do ano até junho.

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O resultado dos veículos 0 km aponta uma pressão maior dos preços de modelos ainda fabricados pelas montadoras, em comparação com os valores dos carros novos em estoque.

Isso pode ser observado no aumento significativo acima da média dos modelos 2022, passando dos 7,5% de acréscimo, “o que demonstra como os custos de produção ainda impactam os carros novos no mercado”, segundo o estudo.

O aumento de preços nesse caso pode ser explicado pela falta de oferta dos carros, e uma demanda remanescente pelos modelos mais novos. Embora, boa parte das pessoas estejam procurando modelos seminovos e usados diante da falta de peças e avanço da pandemia, uma fatia ainda busca modelos 0 km. Veja:

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Variação acumulada de preços de veículos novos do primeiro semestre de 2021 
Ano modelo  Total no 1° semestre (2021)
Total  4,28% 
2022 7,68%
2021 5,10%
2020 2,99%
2019 3,48%

Enquanto os modelos 2021 foram sendo substituídos ao longo do semestre, os mais desatualizados, como os 2020 e 2019, apresentaram variações de preços mais estáveis durante os primeiros seis meses do ano.

“A partir de junho, inclusive, tal estagnação de preços acompanha o aparente arrefecimento de demanda dos carros novos (além dos conhecidos obstáculos que a produção vem enfrentando), apontada pela Fenabrave (associação das concessionárias), que registrou queda de -3,31% nas vendas no mês”, diz o estudo.

É hora de esperar para comprar?

Milad Kalume Neto, diretor da Jato Dynamics, consultoria automotiva, lembra que sempre vale a reflexão por parte do consumidor sobre o momento de compra. “É preciso observar a urgência da compra, o orçamento e claro avaliar o cenário mais macro”, diz.

De fato, do ponto de vista de preços, agora é um momento de alta, e se o consumidor puder esperar, talvez valha a pena.

“Esse aumento de preços dos carros seminovos e usados é causado pela escassez dos carros novos, portanto, é temporário. Quando a produção de normalizar, a tendência é que essa curva de alta apresente uma equalização melhorando o cenário”, explica.

Porém, Neto afirma que uma normalização da produção, que uma vez já foi esperada para o segundo semestre, deve ficar só para o ano que vem diante do cenário atual.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.