Psicóloga decifra o sofrimento no trabalho, ao analisar mercado após 1999

Aumento dos divórcios, dada a excessiva dedicação ao trabalho, e dos afastamentos por depressão marcam a época

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Na última década, os gurus de autoajuda viraram ícones; nas prateleiras das livrarias, há livros e mais livros sobre como ser bem-sucedido no mercado de trabalho, como lidar com o estresse, como ser um bom líder; as palestras motivacionais ficaram mais caras; os coachs ficaram em voga; surgiram técnicas diferentes de avaliação de desempenho, como aquela que é a última moda, a avaliação 360º (na qual todos avaliam todos); e proliferaram os especialistas em qualidade de vida.

Esta foi a resposta social da população para um fenômeno: o aumento da competitividade no mundo dos negócios e no mercado de trabalho.

Foi um processo. A psicóloga especializada em Psicologia Organizacional, Mariá Giuliese, explica, no livro “Será mesmo que você nasceu para ser empregado” (Gente Editora), que o século XXI é um período caracterizado pela necessidade de desenvolver um estudo consistente sobre a psicopatologia no trabalho, a fim de reduzir o aumento das síndromes psicopatológicas causadas por excesso de trabalho, estresse, hierarquias rígidas, falta de reconhecimento e relações perversas no trabalho.

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O que levou a isso

Nas empresas, registra-se um número crescente de pessoas com depressão, síndrome do pânico, estresse e viciadas em álcool ou cigarro.

Segundo Mariá, as condições que encontramos hoje, no mercado, são:

  1. Aumento das fraudes por parte dos próprios funcionários;
  2. Classificação dos trabalhadores em talentos (chamados de high potentials) e não talentos, gerando falsas esperanças e crença numa superioridade de uns sobre os demais;
  3. Redução do tempo de permanência nos empregos a uma média de dois anos;
  4. Instituição de bônus e outras formas de compensação pelos resultados, que geram ambição desmedida e favorecem a promoção de sofrimento do outro para a obtenção do desejado prêmio;
  5. Aumento do índice de divórcios decorrentes da excessiva dedicação ao trabalho;
  6. Aumento de ações judiciais por assédio sexual e moral;
  7. Viagens constantes e exposição a jogos de poder perversos;
  8. Trabalho matricial com diferentes linhas de comando e exigências;
  9. Aumento de afastamentos de funcionários por síndrome de burnout, depressão, estresse, síndrome do pânico, etc;
  10. Aumento das toxicomanias e alcoolismo no trabalho.

“O sofrimento psíquico permanece não estudado. A empresa, como promotora da doença psíquica, não é analisada. Proliferam técnicas de manipulação para submeter não só corpo, mas a capacidade de o trabalhador pensar e atuar como ser livre e independente”, relata a especialista em seu livro.

Segundo ela, a palavra de ordem agora é a redução do tempo disponível à empresa, a melhoria das relações interpessoais no trabalho, a fim de prevenir as doenças psíquicas.