Pânico é pior consequência da pandemia de gripe A (H1N1) para os mercados

Projeções catastróficas para economia são exagero e único caminho para o temido Black Swan, diz Société Générale

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SÃO PAULO – “A única coisa de que devemos ter medo é do próprio medo”. A frase é famosa e foi proferida pelo presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt, em sua posse. Todavia, serve bem para ilustrar a análise do Société Générale a respeito dos efeitos da gripe causada pelo vírus Influenza A (H1N1) sobre a economia.

Não é a primeira vez que a humanidade enfrenta um adversário deste porte. Entretanto, as proporções da crise e a capacidade de combate mudaram muito desde a gripe espanhola, que levou à morte milhões de pessoas entre 1918 e 1919, até a recente epidemia de SARS, em 2003, na Ásia.

“O efeito inicial de uma pandemia se torna o próprio medo da pandemia, mais do que seus efeitos econômicos diretos”, destacaram os analistas da instituição francesa, que enxergam perigos na especulação a respeito da crise sanitária.

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Evolução do quadro

Com a chegada das estações quentes aos países do hemisfério norte, a nova gripe dava a impressão de ter seu avanço controlado, sendo esquecida pelo mercado. Isto não durou muito tempo, pois a pandemia não tardou a manifestar-se de modo mais severo no inverno dos países do hemisfério sul.

Com o crescimento dos casos, as manchetes voltaram a ser ocupadas pela “gripe suína” – como ficou conhecida vulgarmente -, com grande destaque para a quantidade de vítimas fatais. A despeito dos esforços das autoridades, muitas pessoas já apresentam sintomas de pânico.

Apocalípticos

Além da corrida desnecessária a postos de saúde, o temor de uma tragédia epidemiológica pode levar a reações desmedidas dos mercados, sem que haja fundamento em ameaças concretas à economia real.

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No entanto, alguns estudos já apontam para custos associados à deterioração da atual pandemia do H1N1, como a perda de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) do Reino Unido apontada pela consultoria Oxford Economics, ou ainda os US$ 2 trilhões previstos pelo Banco Mundial.

Menos apocalípticos, os analistas do banco Société Générale afirmam que tais estudos são um “simples extrapolar das tendências de infecção e mortalidade verificadas na gripe espanhola”.

Avaliação do quadro

Antes do pânico, é preciso entender como uma pandemia gera problemas econômicos de prazo mais longo. O principal efeito é causado pelas mortes e potencializado pela faixa etária atingida – a morte de trabalhadores jovens, como na gripe espanhola, tem efeitos mais graves sobre o PIB per capita.

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Com um pouco de calma, percebe-se que as ferramentas disponíveis atualmente para o combate a epidemias sofreram transformação radical em relação às do início do século XX. São novas práticas hospitalares – de isolamento e terapia -, assim como técnicas refinadas para o estudo do vírus e maior disponibilidade de medicamentos, além de uma coordenação global envolvendo agências e governos.

Deste modo, à exceção das circunstâncias mais extremas, “os efeitos de curto prazo de uma pandemia sobre o PIB originados por adoecimento, distanciamento social e perda de confiança serão mais amplos do que os de longo prazo”.

Como exemplo, os analistas citam a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que deixou o legado de centenas de mortos, com um grande impacto sobre a economia de Hong Kong, também no momento em que o mundo se recuperava de um ciclo recessivo.

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“Quando olhamos para os efeitos da SARS relativos ao ciclo econômico, ela distorceu, mas não tirou a recuperação global do trilho”, dizem os analistas do banco francês.

Improvável, mas…

Um dos maiores temores de analistas em geral está em acontecimentos chamados de Black Swan (Cisne Negro). Nesta classificação estão todos os eventos de baixíssima probabilidade, sendo sistematicamente desprezados. No entanto, são capazes de causar estragos de proporções enormes, caso ocorram.

“Neste momento, o único modo de transformar um suíno em um cisne negro é dar asas aos cenários especulativos e projeções que já foram ultrapassadas pela evolução médica e de saúde pública”, concluem os analistas.