Pandemia ou pânico? Société Générale avalia os possíveis efeitos da gripe suína

Banco faz uma análise de estudos já divulgados por diferentes entidades e conclui: é muito alarme para pouca prova

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – “É tudo sobre a gripe suína, embora nenhum porco tenha morrido até agora”. Assim começa a análise feita pelo banco francês Société Générale para avaliar os desdobramentos da doença e definir se tudo é uma questão de pandemia ou meramente pânico.

A instituição financeira cita como referência o ano de 1918, época da gripe espanhola que afetou 40% da população mundial e matou cerca de 40 milhões de pessoas, e relembra também da gripe aviária (vírus H1N1) que ressurgiu em 2005.

É necessário comparar

O Société Générale afirma que qualquer estimativa sobre o futuro de uma pandemia no mundo deve ser colocada em contexto com a incidência de outras doenças.

Cerca de 40 milhões de pessoas vivem atualmente com o vírus HIV e, deste total, 3 milhões morreram em 2004 (o que acumula 25 milhões de mortes). No caso da malária e tuberculose, a quantidade de vítimas é enorme: a primeira mata todo ano 1 milhão de pessoas, enquanto a segunda causou a morte de 2 milhões em 2003.

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Primeira etapa

Portanto, porque há tanto nervosismo? Nos últimos 300 anos, cerca de 10 pandemias ocorreram. Apenas no século passado foram três: a gripe espanhola, gripe asiática e a gripe de Hong Kong. Evidentemente, a pior delas foi a espanhola, com maior número de vítimas em um período de quatro meses.

“Se pudéssemos prever uma pandemia nos dias de hoje, certamente a quantidade de mortos iria atingir entre 150 e 360 milhões de pessoas, principalmente por conta do crescimento populacional mundial”, diz o estudo.

Calma, não se desespere!

Apesar da cifra assustadora, o Société Générale relembra que atualmente temos medicina mais ampla, incluindo antibióticos, em comparação a 1918. O banco ainda recorda as dificuldades da época para conter a disseminação da doença e a falta de hospitais.

O Société Générale lembra ainda que os governos conseguiram nos últimos anos se reunir geograficamente para conter a expansão de diversos vírus e se preparar para possíveis mutações (como a transmissão de humano para humano).

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Exemplo

A gripe de Hong Kong em 1997 foi um grande exemplo. Cerca de 1 milhão de pessoas morreram e 1,5 milhão de aves foram mortas em três dias. Desde então, o BAD (Banco Asiático de Desenvolvimento) tem trabalhado com a Organização Mundial da Saúde para obter vacinas, o que inclui negociações com empresas farmacêuticas para desenvolver medicinas de combate e prevenção a doenças.

Muitos países desenvolvidos têm trabalhado no sentido de evitar contaminações, enquanto os mais necessitados recorrem ao auxílio de licenças para fabricar versões genéricas de medicamentos.

Visão conservadora

O estudo do Société Générale cita o ponto de vista de Milan Brahmbhatt, economista-chefe do Banco Mundial para a região Ásia-Pacífico. Na opinião dele, uma pandemia global iria desestabilizar a produção mundial e reduziria fortemente o tamanho e a produtividade da força de trabalho, segundo apontou em relatório no ano de 1999.

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Na época, Brahmbhatt ainda indicou que uma nova pandemia poderia ocasionar entre 100 mil e 200 mil mortes nos Estados Unidos, além deixar 700 mil pessoas hospitalizadas. Neste sentido, 40 milhões entrariam em consulta médica e 90 milhões estariam infectadas. No total, em termos globais, aproximadamente 7,4 milhões morreriam por conta da doença.

Impacto Econômico

Com base na pesquisa feita por Brahmbhatt, o valor presente do impacto econômico das mortes nos Estados Unidos seria entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões. Da maior economia do mundo para o âmbito global, este valor chegaria a US$ 500 bilhões. A perda econômica seria significativa.

Outras consequências

Um segundo impacto que o Société Générale cita em seu estudo é ainda mais drástico: a grande reação do público internacional ao interromper viagens de turismo, o que afetaria fortemente os setores de serviços. Na contramão, os investimentos em ouro, na moeda norte-americana e nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos se tornariam atrativos.

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Na visão do Société Générale

Acreditamos que os países que possuem tecnologia para combater diferentes tipos de vírus devem ser mais favorecidos, assim como a Austrália, além de nações localizadas na América do Norte e Europa.

Mesmo assim, apesar das grandes inovações nas descobertas e desenvolvimento de novas técnicas de medicina, o combate contra a influenza é frágil e utiliza um sistema desenvolvido na década de 1950. “A situação é irônica”, diz o banco francês.

Conclusões

“Grande parte das notícias que recebemos sobre a gripe suína são alarmistas”, conclui o Société Générale. “As análises não fornecem fundamentos econômicos concretos, principalmente considerando a natureza imprevisível dos vírus que retratam”.

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Desta forma, “os levantamentos feitos são de casos específicos e de pouca relevância no sentido de mostrar que uma pandemia está para surgir por conta da gripe suína”, conclui o estudo.