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Maior expectativa de vida impõe desafios – e mudanças no ‘modo em que envelhecemos’

Segundo Andrew Scott, um dos maiores especialistas mundiais em economia da longevidade, questão é tão relevante quanto inteligência artificial e mudanças climáticas

Jamille Niero

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Para o economista e professor da London Business School Andrew J. Scott estamos vivendo um “momento radical da história humana”. “A primeira revolução de longevidade está chegando ao final, e garantiu que pessoas novas e de idade média chegassem aos 70 anos. Agora, a segunda revolução de longevidade precisa mudar como envelhecemos”, disse um dos maiores especialistas mundiais em economia da longevidade em palestra do XI Fórum Nacional de Seguros de Vida e Previdência Privada, realizada pela Fenaprevi (Federação Nacional de Vida e Previdência Privada), representante das empresas privadas que operam no ramo, nesta quarta-feira (27), em São Paulo.

Scott citou possíveis soluções para as populações ao redor do mundo – incluindo o Brasil – superarem os desafios da longevidade em um cenário de queda no PIB, ‘lacuna’ de sistemas previdenciários e gastos crescentes com saúde.

Segundo ele, a questão sobre como lidamos com a longevidade é “tão radical quanto mudança climática e Inteligência Artificial”. “Se você tem mais tempo a sua frente, precisa investir mais no futuro. Projetamos políticas, normas e cultura que não dão suporte à vida que agora esperamos”, pontuou.

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De acordo com o economista inglês, a sociedade conseguiu alcançar uma expectativa de vida global acima de 70 anos, PIB per capita mais alto e população mundial batendo os 8 bilhões devido a “inventividade humana, grandes investimentos, invenção de novos produtos e desenvolvimento de novas instituições”, o que possibilitou melhorar a saúde, a educação e a produtividade.

O especialista em longevidade avalia que é preciso repensar a estrutura de vida, investir e inovar – algo que já foi feito antes. “No século XX, inventamos duas novas etapas de vida: adolescência e aposentadoria. Meu pai começou a trabalhar com 14 anos, nunca foi adolescente. Previdência como previsão estatal foi criada no século XX, mas conforme expectativa aumenta, precisamos repensar novos modos de vida. Meus filhos não são casados nem tem casa. Estão mudando forma como crescem e envelhecem. Precisamos repensar o mapa da vida”, salientou. Isso porque sempre existiram idosos, mas a grande mudança é que agora a maioria dos jovens podem ter expectativa de envelhecer.

Cenário atual

Scott ressaltou o contexto atual, no qual “ninguém se identifica como velho”, mas só no Brasil projeções indicam que em 2050 haverá 65 milhões de cidadãos com mais de 65 e contando, já que a expectativa de vida no país “tem crescido rápido”, com a “probabilidade de jovens chegar acima de 50 anos em 90%”. Por outro lado, os ganhos de expectativa de vida estão reduzindo ritmo, apontou o economista. “Como humanos nunca tivemos que nos preparar para vida tão longa. Grupo demográfico que mais cresce no mundo é quem tem mais de 100 anos”, indicou, ressaltando a importância de se pensar em como lidar com o fato de 1 a cada 10 nascidos chegarem aos 100 (dando como exemplo o que já ocorre em seu país natal).

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Soluções: foco na saúde e na economia

Na avaliação de Scott, a maior parte dos sistemas de saúde atualmente foca em tratar a doença, o que funciona bem com doenças infecciosas, mas não como doenças crônicas relacionadas diretamente ao envelhecimento, como demência e diabetes.  “É difícil tratar e interromper desenvolvimento dessas doenças relacionadas ao envelhecimento. Já existem formas: não beber, dormir bem, se exercitar. O foco deve ser no desafio novo para o sistema de saúde, que não é só intervir em doença, mas em nos manter saudáveis”, sinalizou.

Com isso, “os sistemas de seguros e previdência vão ter que convencer pessoas a serem mais saudáveis”, diz o especialista, já que há uma intersecção entre as finanças e o sistema de saúde. Além disso, é necessário “não criar distinção” entre saúde e envelhecimento. “Hoje muitos dizem que ‘se gastamos mais em prevenção, economizamos em tratamento’. Não acho que seja verdade, mas hoje estamos gastando com saúde, sem manter as pessoas saudáveis”.

Em se tratando do foco na economia, Scott observa que a solução deverá passar por uma combinação entre “economizar e poupar mais e trabalhar por mais tempo”. “Trabalhar por mais tempo é opinião politicamente impopular. Vejo governos fazendo de forma errado: só aumentar idade de aposentadoria, isso não faz pessoas trabalharem por mais tempo. No meu país, 80% das pessoas com 55 anos trabalham. Aos 65, cai para 20%. Se não estiver trabalhando aos 65, não vai aos 68. Muitas pessoas saem do mercado de trabalho entre 60 e 55. Qual será o crescimento do país que vai vir com pessoas mais velha?”, questionou o economista.

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Segundo ele, será necessário desenvolver políticas para manter a população com as competências relevantes e saudáveis para continuarem trabalhando. Porém, é importante também entender que “muitas pessoas saem do mercado de trabalho aos 55 anos porque estão doentes ou precisam cuidar de alguém doente”.

Ainda pensando em políticas públicas necessárias, Scott ressalta queé ridículo países não terem meta de expectativa de vida. Os sistemas de saúde devem focar em expectativa de vida saudável. No meu país, única meta é hospitais reduzir lista de cirurgias. Deveríamos fazer a idade de aposentadoria do governo dependendo de expectativa de vida saudável”, acrescentou.

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa