Investimentos de impacto socioambiental remuneram pessoa física em até 1% ao mês

Antes restrito a investidores qualificados ou institucionais, o investimento com teor socioambiental já recheia carteiras de pessoas comuns

Paula Zogbi

(Divulgação/Na'kau) Na Floresta - Produtora de Cacau Dinorath Figueiredo com chocolate

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SÃO PAULO – Cliente de dois dos maiores bancos do país, o professor universitário Heiko Hosomi Spitzeck teve várias experiências que considera “péssimas” na frente de investimentos. Ele queria alocar parte do seu patrimônio em aplicações com impacto social ou ambiental, mas as instituições financeiras tradicionais não só não ofertavam esse tipo de ativo como ofereciam produtos insatisfatórios.

“O gerente vinha com fundos que cobram taxa de administração mais alta que produtos semelhantes, mas investem uma parte dessa taxa em projetos que dizem ter benefício ambiental”, relata o professor. “Queria algo com rendimento normal de mercado, não necessariamente acima, mas que conseguisse me mostrar impacto social tão claro quanto o financeiro, e não um fundo que, no pior dos cenários, pode ter ações da Exxon [Mobil, a petroleira], que causa um enorme impacto ambiental negativo, mas doa para um projeto”.

Após anos de conversas infrutíferas com seus gerentes, em 2019 Spitzeck conheceu as duas primeiras iniciativas que atenderam aos seus desejos dentro de suas capacidades, isto é, sem necessidade de comprovar perfil de investidor qualificado (com certificado ou patrimônio investido superior a R$ 1 milhão). Agora, cerca de 15% da sua carteira está alocada em projetos de impacto, na plataforma de empréstimo da SITAWI Finanças do Bem e pela gestora Vox Capital. E a ideia é aumentar o montante.

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Com propostas diferentes entre si, essas plataformas inauguraram no Brasil o que promete ser um novo nicho no mercado financeiro. Um levantamento da Global Impact Investing Network referente a 2018 mostrou que o total alocado em investimentos de impacto no mundo já superou US$ 500 bilhões.

SITAWI: P2P de impacto

Com 11 anos de atuação em investimentos de impacto, a SITAWI começou a abrir captação para investidores pessoa física em 2019, ano em que Heiko investiu em duas empresas através de sua plataforma de P2P Lending (P2P). Segundo Andrea Resende, Gerente de Finanças Sociais da instituição, a motivação foi a demanda pelo produto.

“Nos últimos três anos, as pessoas físicas começaram a nos procurar. Elas queriam investir como a gente”, diz Andrea. “Vemos uma grande mudança de consciência, principalmente nas novas gerações”, comenta.

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Na primeira rodada, a Plataforma passou a apoiar cinco empresas de diversos segmentos. O investimento mínimo para participar foi de R$ 1 mil. As iniciativas Stattus4, de inteligência artificial para medição de água; CoopSertão e Orgânicos In Box, de alimentos; UPSaúde, de inteligência de dados aplicada à saúde; e Inteceleri, de educação, foram as selecionadas para a rodada de 2019, que arrecadou R$ 1,5 milhão através do P2P em 59 dias. O prazo do investimento é de dois anos.

Em março deste ano, a plataforma abrirá a captação de uma nova rodada, desta vez com foco em negócios de impacto na região Amazônica. Assim como em 2019, o investidor pessoa física poderá aportar valores a partir de R$ 1 mil em uma ou até cinco empresas. O juro pago é de 12% ao ano, ou 1% ao mês, bem superior à Selic (4,5% a.a. em janeiro de 2020) e três vezes a Poupança (70% do CDI). Os valores serão creditados nas contas a partir do primeiro mês, com prazo de dois anos.

Andrea explica que, além do impacto, a seleção das companhias apoiadas leva em consideração o potencial de crescimento, para diminuir os riscos do investidor. “Analisamos a capacidade de execução do time, a carteira de clientes e as taxas de crescimento”, elenca, tudo para entender o potencial de “repagamento” aos investidores. Os especialistas da instituição também acompanham o dia a dia do negócio de forma a otimizar as operações.

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Outro artifício utilizado para enxugar os riscos são os investidores-âncora, instituições e empresas que também colocam dinheiro no projeto em condições diferentes da pessoa física, seja arcando com uma garantia, seja emprestando com prazos mais longos, por exemplo.

Mas até agora não há do que se queixar nesse sentido. Andrea conta que todas as empresas da primeira rodada estão 100% adimplentes. Em toda a existência da SITAWI, a taxa de inadimplência é menor que 5%. De todo modo, é importante compreender que não se trata de um investimento indicado para um perfil totalmente conservador.

Vox: foco no capital-semente

Com outra proposta, a Vox Capital, gestora de impacto que atua desde 2009 com investidores profissionais, qualificados e institucionais, lançou no ano passado dois produtos de varejo, um deles focado na pessoa física com menos capital (para investir a partir de R$ 1 mil) e o outro para o qualificado (com piso de R$ 25 mil).

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As empresas selecionadas pela Vox são startups que desenvolvem soluções tecnológicas para aumentar o acesso de pessoas de baixa renda a educação, saúde e finanças, principalmente.

Como trabalha com o modelo de equity crowdfunding (financiamento coletivo) para empresas em fase muito embrionária, a Vox tem um perfil ainda mais arriscado que a Sitawi, que já trabalha com empreendimentos um pouco mais estabelecidos. “Apesar de o investidor poder entrar com mil reais, ele não pode depender desse dinheiro para o seu fluxo de caixa”, recomenda Daniel Izzo, co-fundador da instituição.

As possibilidades de ganho, por outro lado, também são mais interessantes. “Se a startup der muito certo, o investidor tem direito a uma participação na empresa e, anos para frente, o retorno pode ser em múltiplos que não necessariamente podemos prever”, explica. As outras duas possibilidades são a empresa seguir com operações normais e pagar a dívida com juros ou, pior, falir. Neste último caso, o investidor perde dinheiro.

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Investidor quer mais

“Muito satisfeito” com seus investimentos, o professor Spitzeck espera encontrar novas oportunidades na mesma linha, mas tem apenas uma queixa principal relacionada à sua experiência com as instituições: ele queria saber ainda mais sobre os negócios investidos e os impactos positivos causados.

Tanto a SITAWI quanto a Vox prometem relatórios esporádicos divulgando aos investidores a evolução das empresas e o impacto atingido. No caso da Vox, essa prestação de contas será trimestral. Mesmo assim, há queixas sobre o formato de apresentação desse balanço. “Queria um portal, um painel que mostrasse quantas crianças receberam educação a partir do meu investimento, por exemplo. Está muito disperso”, diz Spitzeck.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney