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Guerra na Ucrânia deve se prolongar e se expandir, diz ex-presidente do BID

Comparação do momento atual com a Guerra Fria “é atraente”, porém, são “confrontos muito diferentes”, diz executivo

Jamille Niero

Luis Alberto Moreno, ex-presidente do BID (Divulgação Fides)

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“A guerra da Ucrânia deve se prolongar e se expandir: quem previa apenas dois exércitos se enfrentando na Europa já se deu conta do erro”, avalia Luis Alberto Moreno, ex-presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) em três períodos (2005-2020), nesta terça-feira (26), durante participação na 38ª Conferência Hemisférica da Fides (Federação Interamericana de Empresa de Seguros), maior evento de seguros da América Latina, que acontece no Rio de Janeiro.

Segundo o colombiano, que já foi embaixador nos Estados Unidos, “as tensões entre Washington e Pequim seguirão presentes com ramificações diplomáticas e tecnológicas”. Para Moreno, a comparação do momento atual com a Guerra Fria “é atraente”, porém, são “confrontos muito diferentes”, uma vez que em sua avaliação a situação hoje é “mais sutil em alguns momentos”. Em casos como esses, ele aponta, a supremacia econômica e o acesso a recursos escassos “entram em ação”.

Por outro lado, o ex-presidente do BID destacou a existência de dinâmicas que mostram o surgimento de outras potências. Entre elas, nenhuma terá tanta visibilidade quanto a Índia. “É o país mais populoso da Terra e tem mantido um ritmo de crescimento sustentado que deve se manter nos próximos anos, incluindo os investimentos em energia. A América Latina precisa de um curso acelerado para entender o que logo será a terceira maior economia do mundo”, ressalta.

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Apontando o Brasil como um dos destaques da América Latina, Moreno elogiou o presidente Lula por “buscar acordo entre contrários para as reformas necessárias” e criticou as ideias populistas e antidemocráticas que ganharam espaço na região nos últimos anos. “A discussão sobre o crescimento não deveria ser de caráter ideológico, mas prático”, disse Moreno.

Ainda assim, Moreno avalia que há razões para ser otimista quanto à América Latina. “Um dos segredos mais bem guardados dessa parte do mundo é a criação de soluções para os problemas cotidianos dos cidadãos. O que o Brasil fez com o pix é um exemplo, imitado em diversos países. Essa habilidade de criar soluções engenhosas comprova um de nossos grandes ativos: a criatividade”, diz. Para ele, a revolução tecnológica é uma chave única para o progresso, sobretudo quando há espaço para a colaboração entre os setores público e privado. “Isso que está acontecendo a milhares de quilômetros daqui serve de exemplo: não podemos perder o trem da revolução digital”, alerta.

“Sempre mantenho o otimismo de que conseguiremos encontrar um caminho para avançar com mais velocidade do que agora. Isso não me impede de reconhecer as sombras. Uma das muitas lições é que nenhum evento deve ser desconsiderado. Temos a obrigação de estarmos alertas e contar com a capacidade de ação contra os imprevistos”, acrescentou ao comentar os desafios de desenvolvimento econômico e social da região.

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São desafios que podes afetar o setor de seguros na América Latina. “Um dos grandes déficits que temos é que paramos de falar de crescimento. Não vamos combater as desigualdades sem ele. Esse é um tema central para a sociedade. Por isso elogiei o trabalho em prol da unidade feito pelo governo Lula, para reformas como a tributária. Esse tipo de reforma toma muito tempo e demanda consensos.”

Para Moreno, o mercado segurador tem um papel fundamental e pode contribuir com o desenvolvimento regional. “Para ter sucesso neste negócio é preciso entender as probabilidades de que algo aconteça ou não. Um bom manejo dos riscos implica entender as mudanças políticas e econômicas.”

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa.