Fim dos likes: como a mudança do Instagram afeta influenciadores e usuários comuns

Especialista diz que medida é benéfica ao usuário comum, mas opiniões ainda são controversas

Allan Gavioli

Instagram no celular

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SÃO PAULO – No início desta semana, o Instagram iniciou no Brasil sua nova politica de omitir os números de curtidas nas publicações na rede. Com a mudança, a quantidade de “likes” nas fotos e vídeos está invisível para os seguidores, fica disponível apenas para o dono do perfil.

Em nota, a companhia afirmou que a medida visa combater o caráter competitivo que existe na rede e planeja que os usuários foquem mais na qualidade do conteúdo do que nos números.

Ainda de acordo com a rede social, a decisão parte do pressuposto que é necessário transformar a plataforma em um espaço menos tóxico para a saúde mental de quem a usa. Mas a mudança pode gerar angustia nas empresas de marketing e alterar a forma com que os influenciadores trabalham.

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Saúde mental dos usuários 

De acordo com um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, os efeitos das redes sociais têm afetado muito a saúde mental das pessoas, principalmente os jovens e heavy users de internet.

Os números de interação nas publicações podem ser um catalizador para depressão e ansiedade, pois, de certa forma, eles representam um grau de aceitação na rede. O estudo ainda chama atenção sobre a dependência e o uso prolongado das redes sociais por jovens.

“Pelo fato das redes sociais terem se integrado totalmente nas relações humanas atuais, é importante que médicos saibam reconhecer os efeitos negativos que o vício [nas redes sociais] causam no usuário”, diz Brian Primack, diretor do Centro de Pesquisa de Mídia, Tecnologia e Saúde da Universidade de Pittsburgh e co-autor do estudo.

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Entendendo a nova medida

A nova política deve alterar pouco o uso da rede apenas para entretenimento e lazer, mas, para quem utiliza o Instagram profissionalmente, está em começo de carreira, ainda não possui uma base sólida de fãs e vê as curtidas como uma vitrine para contabilizar o engamento no seu perfil, a mudança pode ser maior.

Fernando Souza, professor, consultor e especialista em mídias sociais, reforça que os usuários não terão grandes impactos no alcance de suas publicações, uma vez que a plataforma não deixará de exibir o conteúdo, mas somente os números.

“A novidade faz bastante sentido se pensarmos que um conteúdo produzido na internet não deve ser medido pelo usuário a partir, apenas, do número de curtidas. Ou seja, o seguidor deve se concentrar ao conteúdo que ele de fato acredita ser relevante ou, ainda, compatível com seu estilo de vida”, diz Souza.

O consultor ainda pondera que, sem os números, alguns influenciadores que vivem de publipost (posts patrocinados), precisam focar muito mais na qualidade do que têm a oferecer do que na quantidade de posts ou curtidas, pois a forma de vender o seu poder de influencia deve mudar com a nova medida.

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As mudanças devem ser sentidas com mais intensidade entre os micro e nano influenciadores, perfis com ate 10 e 5 mil seguidores, respectivamente. Exatamente por não possuírem uma base consolidada de fãs. Os menores influenciadores precisarão ter métricas muito mais organizadas para convencer as marcas que investir na divulgação em seus perfis é um bom investimento.

“Não havendo total transparência no volume de likes, seguidores e alcance dos posts, alguns influenciadores que trabalham com publiposts venham a inflar os números nos mídia-kits, deixando as marcas contratantes com uma certa insegurança”, alerta Souza.

Como alguns perfis utilizam robôs para inflar o número de seguidores, o ideal é que as marcas se certifiquem sobre a autenticidade dos números exibidos pelo influenciador.

“As marcas podem solicitar prints online de posts específicos de datas anteriores, ou até mesmo, acesso às métricas. Dessa forma é possível validar todas as informações”, diz. “Em transmissões ao vivo, a marca também poderá checar quantos internautas estão plugados no conteúdo que está sendo transmitido e o endosso de outras empresas que já se utilizaram do canal/influencer também deve constar no rol das checagens”, ressalta Souza.

Como toda novidade traz uma certa resistência de aceitação do público, com a atualização do Instagram não será diferente.

“É provável que usuários se sintam bastante incomodados com a alteração dos likes inicialmente, mas por um curto prazo, afinal, as pessoas acabam se acostumando. Logo será possível verificar a qualidade rendendo sob a quantidade, com uma relação mais humana e seletiva sob determinados assuntos”, avalia Souza.

Influenciadores apoiam

Com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, Felipe Neto, youtuber e influenciador digital, aprovou a alteração e diz que a mudança pode alterar significativamente a internet.

“Que esse fim dos likes também traga o fim do facetune, dos retoques desesperados e da máscara de perfeição cobrindo uma vida comum e humana, como qualquer outra. Tomara. Apenas tomara”, refletiu o youtuber.

 
 
 
 
 
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As únicas pessoas preocupadas com o fim dos likes são aquelas que vivem em função deles, ou vendiam campanhas e usavam likes como métrica para alguma coisa (o que é jurássico – quem engaja de verdade não precisa de like pra mostrar que deu resultado). Há anos eu faço campanhas contra o mundo de mentiras tóxicas que é o Instagram. Há anos eu tento mostrar, em posts e vídeos, como o Instagram é uma rede social de falsidades, de uma disputa de vaidade para ver quem cresce mais, só que quase nunca criando conteúdo, apenas vendendo uma ilusão de beleza superficial e inexistente. Conheço pessoalmente a maioria das pessoas consideradas mais belas e com as vidas mais perfeitas do Instagram e digo, com propriedade e sem medo de represálias, que quase todas essas pessoas são completamente diferentes do que vendem por aqui. A remoção dos likes talvez diminua essa disputa vazia de vaidades, essa busca constante de tentar parecer algo que não é, essa necessidade latente de utilizar 800 efeitos em cada foto para que ninguém perceba as imperfeições humanas e naturais de cada um. Essas mentiras que o Instagram propaga contribuem diretamente para o aumento de depressão, ansiedade e baixa auto-estima em milhões de pessoas por todo o planeta, incapazes de se olharem no espelho e sentirem que são tão belas quanto, ou que possuem uma vida tão boa. Que esse fim dos likes também traga o fim do facetune, dos retoques desesperados e da máscara de perfeição cobrindo uma vida comum e humana, como qualquer outra. Tomara. Apenas tomara…

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A atriz Cleo Pires também comemorou a mudança. Na legenda da foto, ela apenas disse que “Quem vê like, não vê coração”.

 
 
 
 
 
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Quem vê like não vê coração ??

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Se a retirada dos likes foi bem vista pelos maiores influenciadores digitais do país, há nichos em desacordo.

A ‘Bancada da Selfie’, parlamentares cnhecidos pelo uso das redes sociais  no exercício de seus mandatos, teve sua opinião dividida.

A deputada Carla Zambelli foi uma das personalidades que discordou da nova medida.

“A gente vê o alcance crescendo bastante, a gente vê a esquerda tomando atitudes para criar uma cortina de fumaça para não ver o crescimento da direita. Foi assim que entendi a mudança no Instagram”, relatou a parlamentar.

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) fez duras criticas às mudanças aplicadas pelo Instagram.

De acordo com ele, o intuito da rede social é “barrar o crescimento dos que pensam de forma independente, ou seja, aqueles que estão rompendo o sistema”.

 

 

 

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.