SÃO PAULO – Com a valorização do dólar em 2019 – a moeda subia 5,3% até o dia 16 de dezembro e já chegou a R$ 4,26 na máxima do ano –, viajar para o exterior e pagar contas na moeda americana ficou mais pesado para o bolso do brasileiro. E não são apenas os turistas que sofrem nesse cenário. Quem precisa enviar dinheiro para fora do país pode sair ainda mais prejudicado se não procurar opções mais vantajosas, como as alternativas de fintechs.
Levantamento feito pelo InfoMoney revela que o valor efetivo total (VET), isto é, o valor final da cotação, que engloba taxa de câmbio, tarifas e tributos incidentes sobre a operação, chega a ser 5% maior nos bancos na comparação com as startups financeiras.
A maioria das pessoas, contudo, desconhece as alternativas mais econômicas para o envio. Um estudo da empresa de análise de dados Nielsen, feito a pedido da TransferWise, mostra que 65% de 1.200 brasileiros entrevistados que pretendem morar fora do Brasil planejam utilizar os “bancões” para fazer as transferências, ante 33% que planejam usar fintechs. Ainda que essas novas empresas possam ter opções muito mais acessíveis, especialmente para pequenas remessas.
“Durante muito tempo, o mercado esteve fechado e concentrado nos players tradicionais, então o consumidor se via refém, não tinha alternativas e ficava em função da remessa via bancos. Hoje, o mercado abriu e quem ganha é o consumidor. Isso faz com que as instituições tradicionais se movimentem para ter um custo mais competitivo”, diz Bruno Diniz, sócio da consultoria Spiralem, voltada para inovação no segmento de fintechs.
Diferentemente dos bancos, que costumam usar um código conhecido como “Swift” para identificar transações interbancárias, as fintechs se utilizam de tecnologia ou de redes próprias para reduzir os custos para o consumidor final. O código Swift busca padronizar instituições bancárias para uma identificação imediata das movimentações ao redor do mundo. A adoção do sistema é uma convenção, mas não uma obrigação.
“Os bancos cobravam o que queriam porque não tinham competição; ainda hoje, com as fintechs, não há tanta concorrência e o mercado é extremamente concentrado”, afirma Heloísa Sirotá, gerente geral da TransferWise no Brasil. A sede da empresa fica na Inglaterra.
Além da pouca concorrência, Diniz, que já passou por instituições financeiras como Itaú Unibanco, Indusval e Modal, destaca que os bancos cobram taxas mais caras para sustentar um sistema oneroso com muitos funcionários e larga infraestrutura.
No Banco do Brasil, por exemplo, a tarifa cobrada é proporcional ao valor enviado; quanto maior a remessa, menor a tarifa. Em uma simulação com envio de US$ 3 mil para uma conta de mesma titularidade, a tarifa bancária chegaria perto de R$ 250. Já no Bradesco, a taxa seria de cerca de R$ 100.
Blockchain como forma de baratear o custo
Ambas brasileiras, a Frente Corretora, por meio de sua plataforma chamada “Simple”, e a Remessa Online utilizam a tecnologia blockchain, a mesma do bitcoin, para se conectar a provedores de pagamento ao redor do mundo e permitir transações mais rápidas e com custo reduzido.
Já a TransferWise não usa blockchain, mas possui uma rede de parceiros e contas próprias em 71 países, também permitindo maior velocidade nas transferências e na redução dos custos.
Diniz cita que alguns bancos hoje têm apostado em novas formas de utilizar a tecnologia para baratear remessas de câmbio, caso do Santander, que é investidor e usuário da Ripple, empresa de tecnologia que oferece uma plataforma de pagamentos baseada em blockchain. “A tecnologia vem aos poucos entrando na produção e se destacando frente a alternativas mais tradicionais”, diz.
Chamada de “Santander One Pay FX”, a solução permite que correntistas do banco façam transferências internacionais sem valor mínimo e sem tarifa, porém com um VET maior quando comparado com os oferecidos pelas fintechs. O prazo, segundo o Santander, é de até dois dias úteis para o envio de dinheiro aos EUA.
O estudo “Global FinTech Adoption Index 2019”, da EY (Ernest & Young), mostra que as pessoas já estão mais abertas a aceitar serviços oferecidos por fintechs. Feito entre fevereiro e março deste ano com cerca de 27 mil pessoas ao redor do mundo, o levantamento chama atenção para um aumento gradual do uso dessas plataformas, em especial entre países emergentes.
De 16%, em 2016, a adoção de serviços oferecidos por essas empresas passou para 33%, em 2017, e atingiu 64%, em 2019. No ranking mundial, o Brasil está entre os países com maior aceitação, atrás de China e Índia, mas à frente de mercados como Estados Unidos e Alemanha.
Custos
Entre as plataformas consultadas, a de menor custo para envio de dólar era a Remessa Online, que cobrava em 13 de dezembro o VET de R$ 4,21 para uma remessa de cerca de US$ 3 mil a uma conta de mesma titularidade. Na mesma simulação, os concorrentes teriam praticamente o mesmo VET, de R$ 4,22.
Além do IOF, imposto obrigatório de 0,38% para transferências entre terceiros e de 1,1% entre contas de mesma titularidade, o cliente deve ficar de olho em custos adicionais que podem pesar no bolso.
É o caso do spread cambial, diferença do câmbio contratado para a cotação de referência do Banco Central, que é de 1,3%, na Remessa Online, e de 1,5% na Frente Corretora. A TransferWise cobra uma porcentagem sobre o valor enviado, em média de 1,5%. Na Remessa Online há ainda um custo fixo adicional de R$ 5,90 para transferências de até R$ 2,5 mil.
Fora isso, a pessoa precisa ter em mente que, dependendo do banco do destinatário, pode ter que arcar com tarifas ao receber o dinheiro, caso a instituição financeira não seja parceira da plataforma.
Prazo estimado
Quando comparado o tempo estimado de entrega do dinheiro ao destinatário, a Remessa Online, que só trabalha com transferências via TED, tem prazo de até um dia útil. A TransferWise também tem prazo de até 24 horas no caso de TED, mas de até três dias úteis para pagamentos feitos via boleto bancário. A Frente Corretora, por sua vez, possui um prazo estimado de até dois dias úteis para a operação.
Serviços oferecidos
No Brasil, a única das três plataformas que já atua como corretora de câmbio é a Frente Corretora, realizando inclusive o operacional de outras plataformas que negociam moeda online. O próximo passo da empresa é virar um banco de câmbio, para aumentar os limites e as linhas de produtos oferecidos.
Ex-XP, Carlos Brown e Ricardo Baraçal, hoje sócios da Frente Corretora, utilizam na empresa o modelo de “correspondentes cambiais”, espécie de agentes autônomos que já somam cerca de 300 pessoas e fazem as vendas e o relacionamento com os clientes. Além da remessa, a Frente trabalha com compra e venda de papel moeda.
Na Remessa Online, além da transferência internacional de câmbio entre pessoas físicas, uma nova funcionalidade lançada em novembro permite a remessa para pessoas jurídicas.
Já a TransferWise trabalha apenas com a remessa de câmbio entre pessoas físicas.
Invista melhor o seu dinheiro: abra uma conta gratuita na XP