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Do curtíssimo ao longo prazo: o que uma boa previdência privada deve contemplar?

Planos de previdência, geralmente, não exigem o pagamento imediato de impostos e não têm os chamados “come-cotas”

Jamille Niero

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Quando as afilhadas nasceram, o advogado Elton Fernandes, 40, achou prudente contratar planos de previdência complementar para as duas meninas – hoje com 4 e 6 anos. Segundo ele, que era investidor e já tinha contratado um plano de previdência complementar próprio, o que o motivou a adquirir os produtos para as crianças foi a segurança de poder contribuir para que elas tenham uma vida mais segura, com seus estudos e sonhos garantidos.

“Eu tenho um carinho muito grande por elas, mas, para além do carinho do dia a dia, eu acho que é importante pensar no futuro delas. Como é que elas vão ficar se eu aqui não estiver? Eu acho que é importante pensar que a minha vida é finita e elas têm uma [perspectiva] grande de longevidade”, conta o advogado no episódio desta semana do videocast “Tá Seguro?”, já disponível no canal do YouTube do InfoMoney e nas principais plataformas de áudio.

O que eu sempre falo que o que uma criança demanda de você, no final de contas, é carinho, amor e atenção, elas não estão nem aí para a previdência que está sendo deixada, mas o papel do adulto é antever aquilo que uma criança não tem a menor ideia de que precisará”, continua Fernandes.

Na avaliação de Luciano Soares, CEO da Icatu Seguros, a preocupação do Elton é a mesma de muitos brasileiros: o que pode ser feito para complementar no futuro a aposentadoria, ou seja, a renda proveniente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)?

“Quando falamos de proteção, algo que todo mundo tem necessidade, o que temos discutido é como é que a gente consegue se prevenir para o imponderável da vida ao mesmo tempo em que garantimos uma renda razoável e que atenda às necessidades imediatas e de longo prazo. Para isso, antes de tudo, o que precisamos é considerar um assunto importante e que está cada vez mais presente: a longevidade”, comenta.

De acordo com Soares, “não existe uma bala de prata”, mas existem proteções adicionais com o intuito de garantir um futuro – que pode ser tanto pela acumulação de recursos financeiros quanto via contratação de uma renda “mais para frente, porque o que vai ser acumulado pode ser convertido em renda”, garantindo um fluxo financeiro para custear uma educação universitária, por exemplo.

Nilton Molina, presidente do Conselho de Administração da MAG Seguros e do Instituto de Longevidade, explica que a palavra previdência “é elástica” e deve considerar o “curtíssimo, o curto, o médio e o longo prazo”. Partindo do caso de Elton, Molina analisa que o risco maior de um profissional autônomo de 40 anos é a morte ou invalidez no presente, que impossibilitaria a criação de um fundo com recursos financeiros adequados para garantir o futuro das afilhadas, por exemplo.

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Essa é a elasticidade da palavra previdência, que é muito mais dramático para elas a tua morte prematura, ou tua invalidez prematura, neste momento, do que a acumulação futura. Se você quer ser um indivíduo previdente, você tem que olhar no curtíssimo, no curto, no médio e no longo prazo. Você pode ter entrado num plano, você tá acumulando o dinheiro de uma forma mais ou menos conservadora, tem fundos que você pode escolher mais ou menos agressividade, mas um plano que vai criar um valor para elas, no curto, no médio e no longo prazo, da sua morte prematura ou da invalidez prematura, que é pior ainda do que a morte prematura, você não fez um plano de previdência. Você fez um plano de acumulação de recursos na carteira de previdência”, observa Molina.

Segundo ele, os planos de previdência são interessantes devido aos benefícios de natureza fiscal, que muitas vezes não exigem o pagamento imediato de impostos e não têm os chamados “come-cotas”, ajudando o dinheiro a “fermentar”, mas não podem ser considerados individualmente.

Tem receita de bolo?

Soares, da Icatu, concorda que previdência complementar e seguro de vida “são produtos complementares”, dependendo da fase da vida do indivíduo – se ele já acumulou patrimônio suficiente ou não, por exemplo, com as proporções ajustadas ao longo do tempo. Ou seja, se ainda não acumulou patrimônio suficiente para manter os dependentes em boas condições financeiras em caso de morte ou invalidez prematura, faz mais sentido apostar em um seguro de vida mais robusto do que o plano de previdência.

Se você conseguiu acumular o suficiente, vamos falar da questão sucessória, que pode ser atendida por previdência complementar ou por um seguro de vida para destravar inventário”, indica o CEO da Icatu.

Molina explica que um bom “consultor de benefícios” deve questionar o cliente como se ele estivesse numa consulta médica para obter as informações mais importantes. “Eu podia perguntar para você me contar o seguinte: se você morrer ou se invalidar agora, que renda você acha que, além da tua renda de INSS, que você precisaria garantir para tua família? É uma informação. Segunda informação quando: é que você acha que as tuas meninas vão ficar independentes? E quando elas ficarem independentes que renda você gostaria que elas tivessem?”, exemplifica o presidente do Conselho de Administração.

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A partir daí, conta, é possível verificar quanto o cliente tem que depositar por mês em um plano de acumulação para alcançar a renda ideal no período desejado. E é preciso incluir no cálculo o valor necessário para garantir a renda desejada em caso de morte precoce. “Aí você fez um plano de previdência, porque você pegou todas as fases da tua preocupação. É uma conversa muito difícil”, diz Molina.

O que esperar do futuro?

De acordo com os especialistas, o desafio é equilibrar a longevidade do brasileiro – cada vez maior – e a queda nas taxas de fertilidade. Com isso, a população precisará trabalhar por mais tempo. Um dos caminhos vislumbrados é que empresas, governos e sociedades invistam em treinamento para reaproveitamento de mão-de-obra, ou seja, requalificar trabalhadores para que eles possam exercer novas funções de acordo com as possibilidades de cada faixa etária.

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Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa