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Da cobertura contra vendaval ao seguro paramétrico: como as empresas se protegem de eventos climáticos?

Seguradoras apontam que procura contra alagamento ainda é baixa, mas o prejuízo pode ser alto

Jamille Niero

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As enchentes que todo ano assolam o Brasil cobram um preço alto da população, ceifando vidas e deixando milhares de desabrigados, além de prejuízos financeiros para as empresas. Em 2022, as enchentes foram responsáveis por cerca de 1,3 bilhão de dólares em perdas financeiras, aponta a edição mais recente do relatório “Weather, Climate and Catastrophe Insight” elaborado pela gestora de riscos corporativos Aon. Os estados mais impactados foram Pernambuco e Alagoas, que sofreram inundações em maio e julho, e o Rio de Janeiro, no mês de fevereiro, com mais de 200 vítimas.

O cenário para 2023 é desanimador, com registros de chuvas acima da média em curtos períodos, como as que ocorreram em Araraquara, em janeiro; e em São Sebastião, em fevereiro — ambas cidades do estado de São Paulo. Vale lembrar que, em março, a tendência é de chuvas próximas e acima da média de Norte a Sul do país, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

Na 18ª edição do Global Risks Report, estudo produzido anualmente pelo World Economic Forum, em parceria com a Zurich Insurance Group, Marsh McLennan, Universidade de Oxford, Universidade de Singapura e Universidade da Pensilvânia, divulgado em janeiro, os riscos relacionados às mudanças climáticas são considerados os principais que a humanidade terá de enfrentar, tanto no curto quanto no longo prazo. A falha em mitigar e adaptar-se à mudança climática, aos desastres naturais, perda de biodiversidade e degradação ambiental representa cinco dos 10 riscos principais a longo prazo.

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Todo esse cenário reforça a necessidade de governos e empresas estarem mais atentos e preparados para lidar com esses riscos e seus reflexos. No ramo corporativo, a principal proteção securitária contratada pelas empresas é a cobertura para vendaval. Da mesma forma que ocorre no seguro residencial, é uma contratação realizada à parte do ‘pacote básico’ do seguro empresarial, que geralmente contempla os riscos de incêndio, queda de raio, explosão e fumaça.

O corretor se seguros Richard Furck, fundador da H&H Corretora de Seguros, reforça a importância da contratação da cobertura para vendaval citando um caso de destelhamento ocorrido recentemente com um cliente seu, uma concessionária localizada no bairro de Jurubatuba, região sul da capital paulista.

“As telhas caíram em cima de vários carros zero quilômetro que estavam no showroom, e a cobertura contratada indenizou o telhado e também os carros danificados, em um prejuízo que passou de R$ 450 mil”, conta. Neste caso da concessionária, Furck conta que a existência dessa cobertura evitou ainda um outro problema, uma vez que a indenização da seguradora permitirá a reposição das telhas que foram levadas pelo vendaval, evitando uma discussão entre o proprietário do espaço e a empresa sobre gastos com a substituição do telhado, uma vez que estavam em processo de renovação do aluguel.

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Atualmente, os comércios de médio porte, junto com as indústrias, são os segmentos que mais contratam a cobertura contra vendaval na carteira da seguradora HDI. Entre todos os clientes empresariais, cerca de 60% possuem a proteção contra vendaval.

“Vemos um crescimento na procura do seguro empresarial, mas a penetração ainda é baixa, especialmente pequeno e médio risco. Já nas grandes empresas a penetração é muito maior, e aí também existem produtos muito mais específicos para esse público, como apólices de riscos nomeados ou riscos operacionais, onde a cobertura de alagamento é bem mais presente do que a cobertura de alagamento no seguro compreensivo empresarial. Pode sim ter componente de lucro cessante vinculado ao sinistro por alagamento, pode ser contratada, mas claro, demanda também uma subscrição mais detalhada e cuidadosa do que uma cobertura básica ou por vendaval”, esclarece Igor Di Beo, vice-presidente Técnico da HDI, comparando os tipos de coberturas que fornecem proteção para os reflexos dos eventos climáticos extremos, especialmente as chuvas, comuns no verão.

Danos mais recorrentes

Os danos mais comuns causados por esse tipo de fenômeno climático envolvem desde as próprias edificações e, principalmente, seu conteúdo — como máquinas, móveis, utensílios, mercadorias e matérias-primas existentes no local afetado. Além do exemplo da concessionária, com a queda de tetos/telhados, atingindo os bens existentes no local.

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Em relação as seguro empresarial, cada seguradora oferece um leque diferente de coberturas e assistências 24 horas. Geralmente é possível contratar coberturas adicionais para danos elétricos, danos causados por vendaval e granizo, quebra de vidros e espelhos e responsabilidade civil de danos morais. A maioria também oferece serviços que podem ser utilizados em situações emergenciais, como chaveiro, cobertura provisória do telhado, conserto de ar-condicionado e locação de microcomputadores e impressoras, entre outros.

“Dependendo da extensão dos danos, eventos como esses também podem provocar prejuízos pela interrupção de negócios, parada de produção. As empresas ainda podem sofrer com a interrupção do acesso ao local, ruptura na cadeia de suprimentos, danos à marca e perda de mercado, se o abastecimento ficar comprometido por algum tempo”, complementa José Bailone, diretor executivo de Seguros Corporativos e de Subscrição de Ramos Elementares da Seguradora Zurich. Ele explica que as coberturas mais difundidas para esses casos são a de vendaval, seguida da de alagamento, lucros cessantes decorrentes desses eventos e, em menor escala, desmoronamento.

Para calcular o valor da apólice, é preciso avaliar o nível de exposição ao risco, medidas de proteção e prevenção, planos de contingência, valor segurado, e franquias de cada empresa. São fatores que acabam contribuindo para que, em geral, a contratação acabe sendo maior por parte de grandes empresas. Entre os segmentos identificados como maiores demandadores, Bailone cita aqueles nos quais as matérias-primas e os produtos prontos estão mais sujeitos a perdas decorrentes destes eventos, como indústrias farmacêuticas e de alimentos.

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“Algumas empresas de médio porte costumam buscar essas coberturas. Já a cultura de seguros no segmento de pequenas empresas ainda tem muito espaço para avançar no Brasil. Temos observado um movimento neste sentido, mas nada que vá mudar o ponteiro no curto prazo. A nossa estimativa é que apenas 20% das pequenas empresas contam com seguro empresarial para proteção do seu patrimônio. Entre aquelas que buscam proteção (os 20%), vemos uma preocupação maior principalmente com riscos relacionados a incêndio, roubo, vendaval e danos elétricos provocados por curto-circuito”, alega o executivo da Zurich.

“A ocorrência de eventos climáticos extremos no Brasil tem aumentado a procura e os pedidos de esclarecimentos sob a abrangência do seguro. Praticamente em todas as apólices de Seguro Empresarial, a cobertura adicional de vendaval, tornado, furacão e queda de granizo é contratada”, conta o diretor de Seguros Patrimoniais da Tokio Marine, Sidney Cezarino.

Segundo Cezarino, a companhia não identificou um segmento com maior ou menor demanda, mas sim regiões nas quais os eventos relacionados à natureza são mais presentes, como no Sul do país, Centro-Oeste e interior de São Paulo. Em 2022, a seguradora registrou cerca de 1.600 sinistros (riscos cobertos durante a vigência do seguro) envolvendo os chamados danos da natureza, o que resultou em indenizações da ordem de R$ 22 milhões.

Os danos causados por fenômenos naturais são imprevistos que podem ameaçar o andamento das operações de uma empresa e o mercado acredita que a tendência é de incremento na procura por estas coberturas.

Seguro paramétrico

Entre as soluções que o setor tem desenvolvido para as empresas lidarem com os riscos e prejuízos gerados por catástrofes naturais, está o seguro paramétrico. Modalidade considerada nova no Brasil, consiste em garantir a receita do cliente sempre que uma intempérie climática interfira em seus resultados.

A apólice é customizada de acordo com o risco e utiliza base de dados de terceiros para balizar o gatilho que ativará a indenização. “É um seguro que foca na causa e não na consequência”, explica Caio Lhano, gerente de crédito e seguro paramétrico da consultoria de riscos e corretora Marsh Brasil.

Apesar de ser apontada como versátil pelo executivo – podendo ser usada, em teoria, por empresas do agronegócio a indústria e comércio, passando ainda por logística – é uma modalidade com poucas apólices emitidas no país, chegando a menos de 10.

Veja também 1º episódio de “Tá Seguro”

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa