Menos afetada pela crise, Caracas atrai nova onda migratória

Caracas tem se permitido uma existência privilegiada graças ao governo, protegida da maior parte do sofrimento enfrentado pelo país

Bloomberg

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(Bloomberg) — “Caracas é o paraíso”, disse o executivo durante café da manhã na sala de reuniões de seu banco privado na capital venezuelana.

Soava absurdo, desconectado da realidade, insensível, até para ele, dadas as manchetes sobre o colapso econômico, crise humanitária e extensos apagões. Mas, quando Caracas é comparada a outras cidades e vilas, o executivo pode estar certo.

O banqueiro exibiu relatórios internos que havia recebido nos últimos dias de todo o país, como, por exemplo, sobre a Guarda Nacional cobrar US$ 5 para que motoristas consigam furar a fila da gasolina em Zulia, escassez de alimentos no estado de Tachira e apagões que levaram ao fechamento de agências de seu banco em Lara. No edifício de escritórios onde trabalha, o ar-condicionado operava normalmente e os andares estavam totalmente iluminados. Até as escadas rolantes funcionavam.

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Caracas tem se permitido uma existência privilegiada graças ao governo, protegida da maior parte do sofrimento enfrentado pelo país. Enquanto isso, o presidente Nicolás Maduro trava uma batalha contra o líder da oposição Juan Guaidó e contra os mais de 50 países que decidiram acabar com seu regime socialista de duas décadas, responsável pela depressão econômica que já dura seis anos.

Enquanto uma onda de venezuelanos marcha rumo à fronteira para escapar da miséria – 4 milhões deixaram a Venezuela nos últimos anos -, outro padrão de migração, embora muito menor, está surgindo. Conscientes dos benefícios de Caracas, pessoas e empresas estão se mudando para a capital. O movimento é sobretudo pitoresco neste momento, mas parece real. Em alguns casos, chefs estão fechando restaurantes em cidades como Barquisimeto, Merida e Maracaibo e reabrindo seus negócios em Caracas.

Embora os apagões de março e abril tenham afetado a população de cerca de 28 milhões de pessoas em todo o país, o serviço foi restabelecido em grande parte de Caracas, deixando o resto do país sujeito a cortes diários e racionamentos caóticos de energia.

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Mesmo a gasolina, em falta após as sanções dos Estados Unidos, pode ser encontrada mais facilmente na capital. A fila mais longa que vi durante a semana que visitei a cidade foi de cerca de seis carros. Segundo relatos de pessoas do interior, motoristas podem esperar na fila de 12 a 24 horas, sem garantia de sucesso ao chegar à bomba.

Para afundar Caracas novamente no caos total, basta apenas outro grande apagão, e todos os habitantes da capital, ricos e pobres, sabem disso. Todos têm histórias sobre como sobreviveram ao último, que durou entre cinco e dez dias, dependendo do bairro.

Para os poucos que chegam a Caracas com os bolsos cheios de dinheiro, os imóveis podem ser comprados com desconto. Uma casa em uma região arborizada no sudeste da cidade poderia custar US$ 230 mil, abaixo do preço inicial de US$ 400 mil; um apartamento em uma zona protegida e “segura” da capital pode valer US$ 60 mil. Caso feche um negócio com o proprietário, no entanto, o comprador ainda pode ter que pagar taxas (tradução: propina) para registrar a propriedade, elevando o preço final.

Paraíso? Claro que não. Mas, se você estiver na Venezuela por pura lealdade nacionalista ou não puder se dar ao luxo de recomeçar no exterior, não há lugar melhor. Pode ser por um tempo. Maduro se apega ao poder porque sabe que, se perder Caracas, perde tudo.

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