Como uma família de 5 pessoas viaja pelo mundo há 9 meses sem renda mensal

Em entrevista ao InfoMoney, Jessica contou como a família de 5 pessoas se mantém viajando e como tudo começou em 2017   

Giovanna Sutto

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SÃO PAULO – Embora viajar seja uma vontade recorrente de muitas pessoas, o que impede a frequência desse hobby geralmente é o dinheiro. Dependendo do destino, os custos são altos, ainda mais se pretende viajar com os familiares. E se conhecer novos lugares vez ou outra já é difícil, imagina optar por esse estilo de vida. Uma família americana fez exatamente isso. Desde de outubro do ano passado, Jessica, William e seus três filhos vivem de país em país sem emprego fixo e sem uma renda mensal. Em entrevista ao InfoMoney, Jessica contou como a família se mantém viajando e como tudo começou em 2017, um ano bem difícil para eles.

Como a ideia surgiu 

Ano passado, o casal morava na região da Baía de São Francisco, na Califórnia, com as três crianças Ezra, Theo e Vesper de 8, 6 e 5 anos de idade, respectivamente. Era uma vida comum, com o emprego no mundo corporativo de William, enquanto ela trabalhava com fotografia. No entanto, no começo do ano ele perdeu o emprego, onde trabalhava há 5 anos, quando a companhia mudou de lugar. A situação financeira da família ficou abalada, já que a renda de Jessica não era suficiente para manter a casa funcionando. Já não bastasse o desemprego, a mãe dele faleceu de câncer de pulmão pouco tempo depois. 

O casal sempre viajou muitos antes dos filhos nascerem e dentro desse contexto a ideia foi se consolidando. “Ano passado foi desafiador para nós. O Will sem emprego e o falecimento d e sua mãe mexeram muito com a nossa família. Foi durante esse período desastroso que decidimos realmente seguir a ideia de ‘deixar tudo para dar uma volta ao mundo’. Quanto mais pesquisávamos, mais entendíamos que isso seria possível. Claro que tudo era desconhecido, mas depois de um ano tão difícil, decidimos tentar”, conta Jéssica. 

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Foi um processo. Eles montaram uma planilha para organizar as finanças e o roteiro da viagem. Segundo Jessica, eles tiveram que reduzir muito o consumo para conseguir guardar dinheiro. Além disso, William recebeu uma quantia quando saiu do trabalho e a herança que sua mãe deixou. Tudo somado era o que tinham para viajar durante um ano. 

Então, depois de estruturar a ideia a família embarcou rumo a China em outubro do ano passado. Hoje estão na Inglaterra, mas já passaram pela França, Finlândia, África do Sul, Irlanda, Suécia, Catar, Nova Zelândia, Austrália, Indonésia, República Democrática do Congo, Zimbábue, Maldivas, Tailândia, Bali, Sri Lanka,China, Marrocos, Turquia e Cingapura.  

Nômades e sem emprego fixo: como se mantêm?

Eles estimaram que sua viagem de um ano ao redor do mundo para uma família de cinco pessoas custaria cerca de US$ 45 mil a US$ 55 mil com tudo incluído, entre R$ 168 mil e R$ 205 mil, o que equivale a cerca de R$ 100 por membro da família por dia. 

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Ou seja, por mês, a família tenta gastar no máximo cerca de US$ 4.100, cerca de R$ 15.000. Embora na nossa realidade pareça uma boa quantia, é pouco para viver no exterior com três filhos. Eles não possuem renda mensal e estão passando os meses com o dinheiro que conseguiram no ano passado. “Nossas principais despesas são alimentos, experiências turísticas, transporte público, vôos europeus ou aluguel de carros”, explica Jessica. 

Willian é formado em finanças e gestão de negócios pela Universidade Estadual da Califórnia, e Jessica em comunicação pela Universidade da Califórnia (UCLA). Mesmo com a quantia que juntaram, passados 9 meses de viagem, eles sentem uma dificuldade de manter as finanças estáveis. 

“Hoje, não temos renda ativa estável. Nosso ano ao redor do mundo está acontecendo por meio de fluxos de renda passivos. Nós ficaremos sem dinheiro em algum momento. Eu tenho alguns clientes da fotografia para o ano, mas nada fixo. Mas agora que vimos na prática como funciona e gostamos desse estilo de vida, estamos buscando trabalhos remotos”, conta Jessica. 

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A fotógrafa não está muito preocupada porque afirma que o casal sabia que teria que ser “criativo para ter dinheiro durante a viagem”, e foi por isso que começaram a pesquisar formas de baratear as despesas.

Ela descobriu o ‘house sitting’, uma prática, mais comum no exterior, na qual o dono de uma casa libera o espaço para inquilinos cuidarem, enquanto estão fora. É um acordo que permite que pessoas morem na residência, sem pagar aluguel, em troca de fazer atividades domésticas como tomar conta dos animais de estimação dos proprietários, limpar piscinas, cortar o gramado, não permitir que estranhos entrem na propriedade, coletar a correspondência, e fazer com que tudo ocorra bem como se o dono estivesse em casa. 

Foi por meio da plataforma TrustedHousesitters, baseada no Reino Unido que a família tem residência em todo país que passa. Por uma adesão anual de US$ 119, os usuários têm acesso à rede de casas ao redor do mundo inscritas na empresa. Segundo ela, esse sistema de cuidar da casa de alguém funciona bem na Europa, e acaba saindo mais barato. Quando eles passaram pela Ásia, eles dependiam de albergues ou hotéis baratos. 

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“No começo foi ‘nossa, podemos realmente fazer isso? Isso é bom demais pra ser verdade? Tem que haver uma pegadinha’. Mas então nós testamos e foi incrível. É bem simples, e financeiramente possível”, conta. Ao ver o exemplo do sistema de casas, a família também decidiu alugar sua residência em São Francisco durante seu tempo no exterior como um fluxo de receita.

Além disso, ela conta que para organizar as finanças usa dois cartões diferentes: um de crédito que acumula pontos, que possibilita que eles peguem alguns produtos e um cartão de débito. Nenhum dos dois cobra anuidade ou taxas. “Também observamos as despesas com contas bancárias e faturas de cartão de crédito para nos manter dentro do orçamento”, explica. Eles tentam fazer as três refeições do dia, com uma alimentação saudável, embora cada país ofereça novas experiências.

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A vida nômade

Atualmente vivendo na Inglaterra, o casal educa as crianças em casa. “Eu era professora antes de ter o primeiro filho, então nós mesmos educamos eles. Através de nossas viagens, nossos três filhos aprenderam sobre ciência, história, geografia, cultura e idiomas. Nós também temos alguma educação formal, como matemática e leitura”, conta Jessica. 

Segundo ela, “toda vez que você chega em um novo país, é um novo sistema que você está aprendendo – novo transporte, novo idioma. Tudo é aprendizado”. Claro, que nem tudo foram flores. A família enfrentou algumas dificuldades de vulcão em erupção a machucados inesperados, mas tudo foi superado. 

Ela conta que os países foram sendo decididos de acordo com o que eles sonhavam em conhecer. A partir daí foram montando um roteiro e adequando a logística. A fotógrafa conta que eles não planejam vir para a América do Sul. 

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Jessica afirma que a experiência os afetou muito – e estão tentando planejar a vida após o término da viagem em outubro deste ano. “Estou um pouco nervosa para o fim, porque gostamos muito e adoramos ficar juntos. Nós temos 3 meses restantes em nossa viagem antes de voltar para São Francisco. Esta é uma pergunta que nossos pais nos pedem também”, conta. “Mas, por enquanto, sabemos que estaremos de volta à Califórnia, em tempo das férias de inverno e esperamos ter uma visão mais clara do que virá em breve”, explica.  

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.