Como os filhos podem organizar as finanças do pai para uma velhice sem sustos? Especialistas respondem

Com aumento da expectativa de vida, os papéis devem se inverter e filhos precisam planejar o futuro financeiro de seu genitor

Mariana Amaro

Quando a velhice chega, os papéis se invertem: pais idosos passam a demandar de seus filhos uma “cesta de cuidados”. E um item que não pode faltar nela é o planejamento financeiro. Esta preocupação vem batendo à porta das famílias devido ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, que atingiu 76,6 anos.

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O assunto volta à tona, neste domingo (14), com mais força: hoje é comemorado o Dia dos Pais.

Com o envelhecimento notório da população, a pressão sobre o sistema de seguridade social só aumenta. Hoje, por exemplo, os recursos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) são a fonte de renda de 92% dos aposentados brasileiros.

O dado é da pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro, feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) e o Datafolha. O restante recorre à previdência complementar, salário próprio (3%) ou recursos provenientes da família ou filhos (2%).

“Cerca de 70% da população não consegue fazer sobrar renda no fim do mês”, diz Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima, que informa ainda haver um fator conjuntural, gerado pela pandemia de Covid-19, aliado à falta de educação financeira do brasileiro.

A idade média de aposentadoria dos brasileiros é de 55 anos, de acordo com o INSS. Mesmo considerando a expectativa de vida atual, as pessoas vão precisar de uma fonte de renda por ao menos 20 anos depois de parar de trabalhar. E por que a autossustentabilidade financeira na velhice não é planejada, pela maioria da população, já no começo da carreira?

Bruna Allemann, educadora financeira da Acordo Certo, empresa de renegociação de dívidas do Grupo Boa Vista, tem uma pista: a questão geracional. “Nossos avós não conseguiram fazer uma aposentadoria. Geravam renda para a preservação da família, considerando que, quando precisarem de ajuda, seus filhos estarão ali”, diz.

“Para quem terá seu pai como dependente, quanto mais cedo começar a poupar, melhor”, aconselha Sigrid Guimarães, planejadora financeira e sócia-fundadora da Alocc Gestão Patrimonial. Isso porque, de acordo com Guimarães, o tempo é o maior aliado para os investidores. “Os juros sobre juros ajudam a reduzir a carga de esforço de poupança”, completa.

Conversa delicada

A conversa sobre as finanças do pai deve ser feita, idealmente, antes que ele pare de trabalhar. Isso porque, sugere Guimarães, ele precisa entender que, se não tiver algo guardado, pode haver uma mudança de patamar de vida. “Você tem que caber na realidade do outro. É essencial que o idoso tenha noção dos seus custos e saiba direcionar o dinheiro”, afirma.

Para abordar o tema, os especialistas sugerem uma conversa franca, que pode ser dividida em algumas partes, para ficar mais ‘palatável’. “É um assunto delicado. Ainda mais porque muitos pais não estão acostumados a falar de dinheiro com os filhos e podem se sentir invadidos”, diz Allemann.

Se a conversa ficar tensa, Guimarães sugere a contratação de especialistas que possam intermediar o papo, como planejadores financeiros.

Planejamento financeiro

Veja, em quatro passos, como organizar as finanças do seu pai. Confira:

Como investir na aposentadoria

Para os especialistas consultados, é essencial que haja uma grande reserva de emergência. E geral, o recomendado é entre seis a 12 vezes os gastos mensais. Um exemplo: se os gastos mensais somam R$ 5.000, o ideal é ter entre R$ 30.000 e R$ 60.000 nessa reserva.

Guimarães é mais conservadora: sugere uma reserva de três anos — o que elevaria o montante necessário do exemplo de R$ 5.000 para R$ 180.000. A partir daí, sugere Guimarães, pensando numa eficiência maior da carteira e numa diversificação de risco, são preferíveis investimentos conservadores, considerando que o horizonte não seria tão longo e existe uma maior necessidade de liquidez que poderia ser encontrada em ativos de renda fixa pós-fixados como CDBs e títulos do tesouro.

Ponto de partida

Uma pesquisa do Instituto Datafolha encomendada pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), revelou que em uma situação hipotética, caso vivessem até os 150 anos, apenas 8% dos respondentes disseram acreditar ter dinheiro guardado suficiente para se manter todo esse tempo.

De fato, 150 anos é tempo demais, contudo, os participantes também foram questionados sobre como pretendem se sustentar quando não estiverem mais trabalhando e 30% respondeu que pretende viver com a aposentadoria do INSS, outros 22% planejam ter ou já possuem alguma reserva em dinheiro e 7% pensam em sobreviver com o valor pago pela previdência privada — algo que apenas 2% deles, de fato, possuem.

E mais: a maioria dos que planejam um sustento com a aposentadoria do INSS não sabe qual valor irá receber (64%). Para Edson Franco, presidente da Fenaprevi, a pandemia desencadeou uma tomada de consciência sobre planejamento e aposentadoria: “Aumentou bastante o nível de conscientização das pessoas em relação à importância de se planejar e à necessidade de se ter um plano de aposentadoria. Isso é muito importante para que as pessoas mantenham, no longo prazo, um padrão razoável de renda”.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.