Beneficiários antecipam saque do auxílio emergencial usando fintechs; entenda como e veja as taxas cobradas

Em alguns casos, são cobradas tarifas que podem chegar a 1,99% do valor recebido; veja como movimentar o auxílio sem pagar taxas

Giovanna Sutto | Allan Gavioli

Publicidade

SÃO PAULO – Milhares de brasileiros que recebem o auxílio emergencial estão usando os serviços de fintechs para antecipar o uso dos recursos. Em alguns casos, são cobradas taxas que podem chegar a 1,99% do valor recebido.

O calendário de distribuição do auxílio emergencial pela Caixa Econômica Federal se divide em duas etapas: num primeiro momento, é feito um crédito na conta poupança digital da Caixa; só depois disso, em uma segunda data, é possível sacar ou transferir o valor.

Assim que a Caixa efetua o crédito do valor do auxílio na conta Poupança Social Digital, criada automaticamente para correntistas ou não correntistas do banco federal, é possível movimentar os valores por meio do aplicativo Caixa Tem. O app permite pagar boletos e contas de água, luz, telefone, fazer compras na internet utilizando o cartão de débito virtual e também fazer pagamentos usando o QR Code.

Masterclass

O Poder da Renda Fixa Turbo

Aprenda na prática como aumentar o seu patrimônio com rentabilidade, simplicidade e segurança (e ainda ganhe 02 presentes do InfoMoney)

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Mas o aplicativo não permite resgatar recursos, nem transferi-los para outras instituições antes da data de saque prevista no calendário da Caixa. Para fazer isso antes do dia da liberação, existem duas alternativas: transferir recursos usando o cartão de débito virtual do banco federal ou emitir boletos no próprio nome.

Em ambos os casos, é preciso ter conta em uma instituição financeira que permita a emissão de boletos para pessoas físicas ou que aceite a transferência por meio do cartão de débito virtual da Caixa. E esses agentes financeiros costumam ser bancos digitais ou carteiras digitais.

Para emitir um boleto, o usuário deve entrar no aplicativo do agente financeiro no qual tem conta, acessar a opção de “gerar boleto”, informar o valor do depósito (não pode ser maior que o valor que ele tem disponível na conta Poupança Social Digital – o saldo pode ser conferido pelo Caixa Tem) e emitir o boleto, que já vem no nome do próprio beneficiário.

Continua depois da publicidade

Em seguida, é só pagar o boleto pelo aplicativo da Caixa. Após o pagamento desse boleto, o dinheiro é creditado na conta do próprio usuário em até três dias úteis, a depender da instituição.

Outra opção para receber os recursos de forma antecipada é emitir um cartão virtual da Caixa no valor da parcela do auxílio emergencial e usá-lo para transferir o saldo da Poupança Social Digital para uma conta de mesma titularidade.

O processo de transferência via cartão virtual funciona assim: no aplicativo Caixa Tem, o usuário seleciona a opção “débito virtual” e então o cartão virtual é gerado para a transação. Depois, no app do agente financeiro, a pessoa deve selecionar “adicionar dinheiro” e escolher o “cartão virtual da Caixa”.

Feito isso, deve digitar o valor a ser depositado na conta (R$ 600 por exemplo) e preencher os dados do cartão virtual gerado – como número e código de segurança (CVV). Após esse processo, o dinheiro é transferido para a conta do usuário de forma imediata.

Quanto pode custar a antecipação?

O InfoMoney contatou nove bancos e carteiras digitais para checar quais deles oferecem a opção de emitir boleto ou receber o valor via cartão virtual e os custos envolvidos para sacar o dinheiro. São eles: Mercado Pago, Pic Pay, PagBank, Neon, Banco Original, Nubank, Next, C6 e Banco Inter.

O Next, que pertence ao Bradesco, não respondeu às solicitações até a publicação desta matéria. Todos permitem emitir boleto sem cobrar taxas. Apenas o Mercado Pago, o PagBank e o Pic Pay permitem a opção de receber o valor via emissão do cartão virtual da Caixa, e só o Mercado Pago cobra taxas nesse caso.

Ao antecipar uma parcela de R$ 600 a uma taxa de 1,99% (cobrada pela conta digital do Mercado Pago), por exemplo, o beneficiário paga R$ 12. Considerando as cinco parcelas de R$ 600 e as quatro de R$ 300, seriam cerca de R$ 85 deixados na mesa. Um valor que não é desprezível, principalmente levando em conta o fato de que poderia ser 100% economizado.

Por meio de nota, a Caixa disse que não tem interferência sobre esse tipo de serviço oferecido. A assessoria do banco explicou que oferece opções para que os beneficiários movimentem o dinheiro do auxílio, mas não se responsabiliza sobre como outras instituições agem a partir das funcionalidades que o app Caixa Tem oferece.

Confira a tabela que compara as opções de antecipação dos valores do auxílio e os custos:

Instituição financeira  Taxa para antecipar o auxílio por meio de transferência usando o cartão de débito virtual da Caixa   Taxa de TED da instituição para outro banco/fintech  Taxa para antecipar o auxílio via boleto 
Mercado Pago 1,99% sobre o valor do auxílio transferido 25 TEDs gratuitas por mês pra outras instituições, a partir disso é R$ 3 não cobra pelo serviço 
PagBank não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 
Original não cobra pelo serviço  R$ 8,90 e sem custo para os clientes com o Pacote Original Ilimitado contratado não cobra pelo serviço 
Nubank não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 
Pic Pay não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 
C6 não cobra pelo serviço – não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 
Inter não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 
Neon  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço  não cobra pelo serviço 

Segundo dados da Caixa, o cartão de débito virtual é a maneira mais usada para transacionar os valores do auxílio emergencial, já que ele também permite fazer compras de produtos ou pagamentos de contas online: são mais de 112 milhões de transações desde que o auxílio teve início em abril, embora não seja possível saber quantas dessas transações foram feitas para transferir o valor do benefício para outras contas.

Em segundo lugar, fica o boleto, com mais de 72 milhões de transações.

Por que antecipar os valores pagando taxas?

No caso do Mercado Pago, até o fim de julho, a taxa cobrada nessa transferência era de 0,8% (algo em torno de R$ 5) sobre os R$ 600. Recentemente, houve um aumento para 1,99% – chegando a cerca de R$ 12 no caso da parcela de R$ 600 e cerca de R$ 23 nas parcelas de R$ 1.200 (para mães chefes de família).

Sheila Ramos dos Santos, profissional autônoma, conta que precisou antecipar três das suas cinco parcelas do auxílio usando a opção do cartão virtual da Caixa. Ela transferiu o benefício do Caixa Tem para o Mercado Pago e, depois, fez uma TED para sua conta corrente no Santander.  

“Na primeira parcela, que recebi em maio, não cobraram nada. Depois, na parcela que recebi em junho, já me cobraram R$ 5. Por fim, nessa última de setembro, me cobraram R$ 12. Achei muito caro, mas optei por fazer isso porque o dinheiro cai imediatamente. Com o boleto eu teria que esperar alguns dias”, explica.

Questionado sobre o aumento da tarifa, o Mercado Pago afirmou que “passou a cobrar a taxa de 1,99% sobre os valores depositados em sua conta digital via qualquer cartão de débito aceito pelo Mercado Pago. A tarifa é usada para cobrir parte dos custos envolvidos com este tipo de transação. Não há cobrança nas transferências realizadas por meio de boleto”.

Desde que o auxílio emergencial teve início, em abril, a fintech calculou a chegada de 7,3 milhões de clientes, que fizeram a transferência do auxílio emergencial via cartão virtual ou boleto para uma conta do Mercado Pago.

Lauro Gonzalez, professor de finanças da FGV e um dos responsáveis pelo estudo “Efeitos do auxílio emergencial sobre a renda”, comenta que essa cobrança de taxas prejudica o beneficiário.

“Não faz sentido as empresas cobrarem pela antecipação. O risco envolvido é de crédito [calote], mas do governo, que é aproximadamente zero. Quando isso acontece há uma transferência de recurso do governo para as instituições financeiras. Saem R$ 600 do governo e entram R$ 588 na conta do beneficiário, que perde dinheiro, e a diferença cai na conta da instituição privada. É um equívoco”, afirma.

A recomendação dele é buscar alternativas sem custos para o trabalhador não perder uma quantia financeira que é sua por direito.

Como transferir o auxílio emergencial sem pagar taxas

É possível movimentar o dinheiro do benefício sem pagar taxas – mesmo sem ter que esperar até a data oficial do calendário – por meio da emissão dos boletos.

Como foi apresentado na tabela acima, nenhuma instituição consultada cobra pela emissão do boleto ao cliente. Portanto, essa é uma maneira de transferir o dinheiro sem custos antes da data de saque.

Com o dinheiro na conta da fintech ou carteira digital que permita a emissão do boleto, o usuário pode fazer transferências para outros bancos ou sacar o valor desejado na rede de caixas eletrônicos Banco24Horas. Antes, porém, é recomendado consultar se o banco escolhido cobra algum tipo de taxa para realizar o saque (veja mais detalhes abaixo).

Despesas com o saque

Além das taxas de transferência, o usuário ainda pode encontrar mais despesas na hora de sacar os recursos.

Dentre os bancos consultados, o Mercado Pago cobra uma taxa fixa de R$ 4,90, por exemplo, enquanto o Pic Pay cobra R$ 6,90 a partir do terceiro saque mensal.

Veja o valor cobrado por cada instituição consultada para o saque:

Instituição financeira  Taxa para fazer o saque do valor 
Mercado Pago R$ 4,90
PagBank R$ 7,50
Original
Nubank R$ 6,50
Pic Pay
2 saques mensais gratuitos, a partir do terceiro a taxa é de R$ 6,90
C6
Inter
Neon  Um saque gratuito por mês ; clientes Neon+  têm direito a três saques gratuitos adicionais; acima disso, taxa de R$ 6,90

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.