Yduqs (YDUQ3): após salto de mais de 70% em maio, por que os analistas seguem otimistas com a ação?

Ações da companhia de educação são destaque do Ibovespa no mês, com analistas destacam resultados positivos e valuation ainda pouco esticado

Lara Rizério

Publicidade

As empresas do setor de educação têm se destacado recentemente na Bolsa com uma combinação de queda da curva de juros impulsionando as ações do setor de consumo doméstico e uma temporada de resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) mais positiva do que o esperado.

Apesar dos grandes desafios macroeconômicos que as empresas do setor seguem enfrentando, o crescimento do ensino à distância  (EAD) e dos cursos de medicina permanece consistente, compensando a queda nos volumes do ensino presencial (campus). O ambiente de preços também mostra melhora, em meio a uma competição mais racional.

Isso, associado ainda às expectativas pela expansão do FIES (programa de financiamento estudantil do governo federal), tem levado a uma disparada de diversas ações do setor, especialmente para a Yduqs (YDUQ3). Até o fechamento da última segunda-feira (29), as ações YDUQ3 saltavam 76,48%, destaque de alta do Ibovespa, e acumulavam ganhos de 40,9% no ano, quarto maior ganho do benchmark da Bolsa. Além de ser o grande destaque da temporada de balanços do 1T23, a expectativa de que a empresa seja a grande vencedora relativa com um eventual FIES mais forte reforça a visão positiva para os ativos, mesmo após o rali.

Continua depois da publicidade

As ações da Cogna (COGN3) também subiram forte, 39,71% no acumulado do mês e e 34,43% no acumulado do ano, com progresso nos seus números e bom equacionamento do seu endividamento, mas com analistas ainda cautelosos com o papel.

Após a temporada de balanços, os analistas da XP Rafael Barros e Raphael Elage atualizaram as suas estimativas, não apenas para Yduqs e para Cogna, mas também para Ânima (ANIM3), Cruzeiro do Sul ([ativo=CSDE3]) e Ser Educacional (SEER3).

“Consideramos que o setor em geral está subvalorizado, com múltiplos EV/Ebitda [EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida; Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações]  para 2023 variando de 4,8 vezes a 7,2 vezes”, avaliam.

Continua depois da publicidade

Eles destacaram terem uma visão construtiva, porém cautelosa, em relação às ações de educação, com os números de captações do 1T23 sendo o principal fator que sustenta a postura otimista, enquanto a incerteza macroeconômica respalda uma postura um pouco mais defensiva.

“A alavancagem continua sendo um ponto importante para as empresas de educação, embora esperemos que o crescimento e a geração de caixa a reduzam futuramente”, aponta.

Para os analistas, apesar de uma temporada de captações positiva no 1T23, a volatilidade macroeconômica pode pressionar as taxas de evasão e as captações futuras. Portanto, ainda veem o desempenho futuro das empresas de educação como incerto, tornando a visão sobre o setor menos otimista – embora ainda otimista – do que poderia ser em um ambiente econômico diferente.

Continua depois da publicidade

Até o final de 2022, as empresas em sua cobertura apresentaram índices de alavancagem financeira variando de 3,1 vezes 4,3 vezes. O alto endividamento combinado com uma alta taxa Selic deve continuar pressionando o lucro líquido.

“No entanto, notamos que não vemos nenhuma das empresas passando por dificuldades financeiras no curto prazo, mas consideramos improvável que a consolidação do setor ganhe velocidade nesse ambiente”, apontam os analistas da XP.

O BTG também vê que o primeiro trimestre foi uma surpresa positiva, em parte ajudado pelo ceticismo do mercado (incluindo da própria casa) sobre o setor, com vários players reportando números decentes, melhores margens, captações sólidas no EAD e uma tendência positiva de racionalização de preços.

Continua depois da publicidade

YDUQS, COGN (principalmente na Kroton), VITRU e CSED tiveram um desempenho superior. Embora as altas despesas financeiras novamente prejudiquem o lucro líquido, a geração de caixa melhorou, com a maioria das empresas listadas reportando uma dívida líquida menor trimestre/trimestre (embora permaneçam fortemente alavancadas), como COGN3, YDUQ3, SEER3 e CSED3.

O Morgan aponta que o 1T23 foi bem melhor para as empresas líderes em ensino à distância. Yduqs, Kroton (da Cogna) e Vitru (esta negociada na Nasdaq) apresentaram crescimento sólido impulsionado por matrículas de ensino à distância (EAD), enquanto as margens expandiram impulsionadas pela alavancagem operacional e eficiências de despesas gerais e administrativas. Ser e Cruzeiro do Sul também relataram crescimento decente, mas as margens foram prejudicadas pelo aumento dos custos, pois têm maior exposição presencial. A Afya também viu margens declinantes devido aos fracos resultados de fusões e aquisições e Medcel.

Recomendações revisadas

Continua depois da publicidade

A XP revisou o setor e agora tem Yduqs como a sua top pick no setor de educação, com preço-alvo de R$ 23,50, enquanto reduziu a sua recomendação de compra para neutro para a Ser, com preço-alvo de R$ 4,90. Para ANIM3 e CSED3, seguiu com recomendação de compra, com preços-alvo respectivos de R$ 7,10 e R$ 6,60. Já para a Cogna, a recomendação segue neutra, com preço-alvo de R$ 3,30.

Os analistas da XP acreditam que a Yduqs é o player mais eficiente no setor de educação superior, e apesar de ter passado por um período desfavorável, – junto com seus pares – nos anos mais recentes, está bem posicionada para crescer e gerar lucratividade. Ela deve ser impulsionada principalmente por suas verticais Digital e Premium, que geram margens altas e devem gerar alto crescimento daqui para frente. “Vemos a ação como subvalorizada, independentemente da recuperação recente, e a estamos colocando como nossa ação preferencial no setor de educação”, reforçam.

No 1T23, apontam os analistas, a Yduqs alcançou 2,4 mil hubs de aprendizado digital no 1T23 (de 1 mil no 1T20), o que a administração vê como um número próximo do ideal para fomentar as ambições de crescimento futuro. O início de operação de novos hubs também permitirá à empresa aumentar sua base de alunos de educação digital sem tantos esforços de expansão, enquanto iniciativas como recompensar os melhores parceiros e resgatar os de pior desempenho devem render expansão de margem. “Estimamos que a base de alunos da educação digital cresça 82% e a margem Ebitda aumente 9 pontos percentuais [p.p.] de 2022 a 2027”, avalia.

Os analistas destacam que o crescimento na vertical de educação no campus continua difícil para todo o setor, e a Yduqs não parece imune às mesmas pressões. No entanto, a empresa renovou sua presença nessa vertical, reduzindo significativamente os custos e despesas, o que deve preservar a lucratividade do segmento, apesar de um crescimento lento à frente.

Enquanto isso, a educação premium continua ganhando relevância. “Tanto as escolas médicas quanto o IBMEC continuam com desempenho excepcional, com crescimento da base de alunos e aumento de preços reforçando a receita. Não prevemos melhoras relevantes de margem na vertical Premium, porém notamos que ela já apresenta alta rentabilidade e, portanto,
auxiliar a empresa na expansão de margens para os próximos anos, pois ela ganha ainda mais relevância dentro de todo o negócio”, avalia.

Para o Morgan Stanley, o setor de educação continua barato e com potenciais catalisadores à frente, incluindo FIES e também com a alta sensibilidade a uma redução nas taxas de juros no Brasil. “Nesse contexto, Yduqs é nossa melhor escolha e também vemos uma atraente recompensa de risco em Vitru e Cruzeiro do Sul”, apontam.

Cabe ressaltar ainda que, em meados do mês, logo após a temporada de resultados do primeiro trimestre de 2023, o JPMorgan destacou porque preferia a ação da Yduqs entre as companhias de “educação massificada” à da Cogna, mesmo após o rali da Yduqs (que continuou).

Na ocasião, o banco reiterou recomendação  overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), enquanto para a Cogna a recomendação segue neutra. O banco também subiu as projeções para os números das duas companhias, e elevou o preço-alvo de Yduqs de R$ 11,50 para R$ 15.

Para a Yduqs, os analistas elevaram as projeções de receita em 3% para este ano e em 5% para o ano que vem, além de aumentarem perspectivas para o Ebitda ajustado em 6% e em 10% (para este ano e para o próximo, respectivamente) e para o lucro ajustado em 32% para 2023 e em 36% para 2024. Para a Cogna, elevou a projeção para receita em 2% e 3% para 2023 e 2024, respectivamente, e para o Ebitda ajustado em 4% para este ano e em 2% para 2024; por fim, para o lucro ajustado, elevou a projeção para 2023 em 109% e cortou em 25% para 2024.

“Embora acreditemos que ambos oferecem vantagens aos investidores e reconheçamos que a Cogna tem feito progressos, conforme nossa atualização recente de recomendação, nossa preferência por Yduqs decorre de: (1) um valuation ainda baixo para YDUQ3, mesmo para 2024, com um múltiplo de EV/Ebitda [Enterprise Value = soma do valor de mercado das ações de uma companhia com a dívida líquida dessa empresa/Ebitda = lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] em 4,3 vezes, ante 4,9 vezes para Cogna; (2) maior exposição ao FIES da Yduqs; e (3) menor alavancagem em Yduqs, de 2,4 vezes versus 3,1 vezes da da Cogna, além do maior colchão de liquidez”, apontam os analistas.

Assim, os analistas do JP reiteraram recomendação equivalente à compra para Yduqs, enquanto possuem preferência por Afya (negociada na Nasdaq) entre as ações do setor em geral. Cogna segue como neutra, mas é preferida frente à Ser Educacional (SEER3) e à Ânima (ANIM3), todas com recomendação neutra.

Ao reforçar recomendação neutra para COGN3, a XP também apontou que (i) a Kroton está posicionada para postar  crescimento em margens saudáveis após um plano de recuperação bem executado, (ii) a Vasta (de educação básica) continua a mostrar crescimento estável após um período difícil, e (iii) Saber conta com uma parte muito positiva do ciclo do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). No entanto, as melhorias operacionais podem não ser suficientes para compensar a pressão criada pelo atual endividamento da empresa, avalia.

Já para a Ser, as razões para o corte de recomendação para neutra foram: (i) uma maior exposição a regiões mais cíclicas em meio à incerteza macro, (ii) compressão de margem no futuro próximo e (iii) alta alavancagem em um cenário atual de estresse nas taxas de juros. “Os fatores mencionados nos levam a prever um prejuízo líquido neste e no próximo ano, fazendo-nos ver a ação atualmente com um preço justo – apesar de considerarmos que a empresa pode se recuperar gradativamente ano após ano”, avalia.

Com relação às outras duas recomendações de compra, para o Cruzeiro do Sul, a XP cita que a empresa se posiciona como um provedor de ensino superior de alta qualidade, o que se reflete na qualidade de sua base de alunos – com menor evasão e menor ciclo de recebimentos. Além disso, a empresa (i) apresentou excelente desempenho em termos de captação no 1T23; (ii) tem mantido sua lucratividade saudável; e (iii) deve reduzir a alavancagem gradativamente neste ano e no próximo.

Por fim, para a Ânima, a recomendação de compra ocorre já que veem a ação subavaliada ao considerar, i) a qualidade de sua oferta de cursos, (ii) sua menor exposição a ciclos econômicos e (iii) a aceleração de ganhos prevista a partir de 2025. “Mesmo vendo a alavancagem como uma importante fonte de risco para nossa tese, nosso preço-alvo deixa um upside confortável para a ação – mesmo no caso de aumento da percepção de risco ou inclinação da curva de juros”, avalia.

De acordo com recomendações compiladas pela Refinitiv, além de Yduqs, Anima e Cruzeiro do Sul aparecem entre as preferidas dos analistas. Confira abaixo:

Empresa Ticker Recomendação de compra Recomendação neutra Recomendação de venda Preço-alvo médio Potencial de valorização (%)*
Yduqs YDUQ3 7 4 0 R$ 14,95 +4%
Cogna COGN3 0 7 4 R$ 2,49 -13%
Ser SEER3 2 7 1 R$ 5,79 +46%
Anima ANIM3 9 1 0 R$ 5,66 +88%
Cruzeiro do Sul CSED3 7 0 0 R$ 6,37 +89%

*em relação ao fechamento de 29 de maio de 2023

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.