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Após um 2023 pouco entusiasmante para as varejistas, 2024 deve, para os analistas da XP, ser um pouco melhor. O time da corretora, liderado por Danniela Eiger, ainda não “enxerga o céu azul para o setor, mas vê, ao menos, o tempo se abrindo parcialmente”.
O último ano, apesar de o Brasil ter trazido uma surpresa positiva no seu produto interno bruto (PIB), não foi positivo. A primeira explicação apontada para isso está no fato de que a economia brasileira foi puxada pelo agronegócio.
“O PIB agrícola se destaca como o maior impulsionador do sólido crescimento do Brasil, com aumento de 18% ao ano nos nove primeiros meses, impulsionado pela forte safra de soja. Embora isso contribua para o consumo, seu efeito é mais focado nos estados agrícolas e em empresas e famílias específicas”, explicam.
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Apesar de o consumo das famílias ter demonstrado resiliência, registrando um aumento de 3% ao ano, os gastos não ficaram para o varejo, que tem crescimento projetado de 1,5%. Apesar do cenário de juros altos, a alta do consumo foi puxada pelo recuo do nível do desemprego, pelo maior auxílio governamental (com a fixação do Bolsa Família em R$ 600) e por uma queda na inflação – só que os gastos ficaram mais para restaurantes, hospedagem, recreação, educação, bem como para o setor de transporte.
“Apesar do crescimento sólido e surpreendente do PIB, essa expansão não se refletiu nos resultados dos varejistas. Isso nos leva a questionar onde, de fato, as famílias estão direcionando seus gastos. Embora uma resposta precisa seja difícil de obter, os dados da pesquisa de vendas mensais sugerem que, em 2023, os gastos foram predominantemente direcionados para o setor de serviços, superando consistentemente o varejo em termos de volumes e vendas nos últimos três anos”, acrescentam.
Mercado de apostas prejudicando varejistas?
Além disso, houve outro detrator – esse um pouco diferente – dos resultados das varejistas em 2023. As casas de apostas online, para a XP, impactaram negativamente a renda das famílias mais pobres. “É um tópico que tem sido cada vez mais mencionado por empresas e investidores como um possível desafio à renda disponível dos consumidores”, fala a equipe da casa.
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Segundo uma pesquisa recente realizada pela Futuros Possíveis envolvendo aproximadamente 1.600 participantes no Brasil trazida, 36% dos entrevistados já realizaram apostas online. Destes, 78% se envolvem em apostas online de maneira frequente ou ocasional, com destaque para a região Nordeste do Brasil. 80% dos apostadores afirmam gastar até R$100 por aposta e a maioria dos usuários de baixa renda limita seus gastos a menos de R$50 por aposta, um dado que está em consonância com a estimativa de R$58 por mês sugerida por um estudo recente da QualiBest.
Hoje há a estimativa de que o total de apostas no mercado brasileiro responda a 1% do PIB, ou cerca de R$ 100 a R$ 120 bilhões.
“Este comportamento de aposta adquire uma relevância adicional quando consideramos os gastos discricionários das classes de baixa renda. Conforme dados do IBGE, aproximadamente 22% do orçamento mensal de famílias de baixa renda é destinado a despesas discricionárias, o que representa cerca de R$286 por mês, baseado no salário mínimo vigente”, fala o time de Eigger. “Assim, ao analisar as estimativas citadas, percebe-se que as apostas esportivas online, com um gasto médio mensal de R$58, representam por volta de 20% do orçamento discricionário dessas famílias”.
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Agora, a recente regulamentação do setor, junto da tributação implementada, pode rebalancear o cenário. O imposto de 15% a ser cobrado sobre os ganhos obtidos nessas plataformas, na visão da corretora, pode tornar os gastos com apostas marginalmente menos atraentes, especialmente para usuários de baixa renda, e liberar renda para ser gasta em outros lugares.
Por último, o recuo da inflação também é algo positivo para as varejistas, apesar de “ainda distante de permitir muitos gastos discricionários”. “A tendência desinflacionária, aliada ao longo e aguardado ajuste do salário mínimo para R$1.320 em maio de 2023, proporcionou um alívio ao poder de compra dos consumidores, especialmente em categorias sensíveis à renda”, fala a XP.
“Apesar do alívio da inflação ao longo de 2023, a continuidade do ambiente altamente inflacionário, com algumas categorias de preços atingindo aumentos de até 40% em comparação a 2020, continua a pesar sobre os consumidores. Os aumentos do salário mínimo, que servem de base para cerca de 50 milhões de trabalhadores, estão consideravelmente atrasados em relação à inflação de alimentos desde 2018, comprometendo provavelmente a demanda por itens discricionários”, debatem.
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Para 2024, a equipe de Macro da XP projeta uma inflação de 3,7% no Brasil, um pouco acima da meta do Banco Central de 3%. A inflação de alimentos em casa é prevista para aumentar para 3,7%, influenciada por eventos climáticos como El Niño, que podem elevar os preços de alimentos frescos. No entanto, espera-se deflação em itens como TVs, computadores, smartphones e vestuário devido a um real mais forte, preços mais baixos das commodities e normalização das cadeias produtivas.
Das 21 varejistas que a XP monitora, a corretora tem recomendação de compra para 11, sendo elas: Arezzo (ARZZ3), Soma (SOMA3), Lojas Renner (LREN3), SBF (SBFG3), Vulcabras (VULC3), Petz (PETZ3), Vivara (VIVA3), Natura (NTCO3), Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3). SmartFit (SMFT3), Pague Menos (PGMN3) e Panvel (PNVL3) estão também entre as recomendações de consumo.
Confira as projeções da XP para os papéis do setor:
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