Vamos (VAMO3) tem receita e lucro abaixo do esperado no 3º trimestre; concessionárias pesam

Receita líquida subiu 7,5% e lucro aumentou 9%, mas o consenso do mercado esperava mais; EBITDA cresceu 23,2% e também decepcionou

Lucas Sampaio

Publicidade

A Vamos (VAMO3), empresa líder em locação e venda de caminhões, máquinas e equipamentos no Brasil, divulgou seu balanço do terceiro trimestre na noite desta terça-feira (31) com os principais números abaixo do consenso do mercado.

A receita líquida da companhia subiu 7,5% na comparação anual, para R$ 1,482 bilhão, e o lucro líquido consolidado cresceu 9%, para R$ 115,8 milhões, mas o consenso LSEG esperava mais e projetava uma receita de R$ 1,591 bilhão e um lucro de R$ 159,1 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) cresceu 23,2%, para R$ 682,7 milhões, mas também veio menor que o esperado.

O CEO da Vamos, Gustavo Couto, disse ao InfoMoney estar satisfeito com o resultado e que a empresa conseguiu crescer receita, Ebit (lucro operacional), Ebitda e as principais métricas em um cenário desafiador. “Quando você olha o panorama de 2023, a indústria de bens de capital como um todo está caindo 20%, a venda de máquinas está caindo de 20% a 25%. Enquanto isso, o nosso Ebitda está subindo 60% na locação e a receita está crescendo 32%. Isso traz uma confiança que estamos na direção certa”.

Ebook Gratuito

Como analisar ações

Cadastre-se e receba um ebook que explica o que todo investidor precisa saber para fazer suas próprias análises

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

O ROIC (retorno sobre capital investido) também cresceu, para 18,7% no trimestre (alta de 2,9 pontos percentuais na comparação anual), e a alavancagem caiu para 3,28 vezes a dívida líquida/Ebitda, mas a receita e o lucro estão desacelerando após um forte começo de ano.

A Vamos, que faz parte da holding Simpar (SIMH3), abriu capital em 2021 e foi uma das poucas empresas que veio a mercado no último boom de IPOs e viu suas ações subirem. Os papéis da companhia chegaram a quase triplicar, de R$ 6,50 para mais de R$ 18, e empresa aproveitou o momento para fazer follow-ons e continuar sua estratégia de crescimento via aquisições.

Mas o cenário mudou completamente a partir do fim de 2022. As ações acumulam queda de mais de 50% nos últimos 12 meses, e preço do papel negocia em um dos menores patamares desde o IPO (a menos de R$ 8). A desvalorização é de 32% no ano e de 12% só em outubro.

Continua depois da publicidade

Concessionárias pesam no resultado

O detrator do resultado foi o segmento de concessionárias (vendas). Enquanto a divisão de locações viu a receita líquida crescer 61,3% no 3T23, para R$ 837,7 milhões, nas concessionárias houve queda, para R$ 586,6 milhões. A margem EBITDA das concessionárias foi de apenas 0,2% no trimestre.

O CEO atribui o resultado à desaceleração das vendas no segmento “verde”, causado por dois motivos: as concessionárias estão com excesso de estoques, depois de um 2022 muito forte em que havia fila de agricultores e faltavam máquinas agrícolas nas lojas, e o cenário ter “virado”, com produtores adiando investimentos devido à queda no preço das commodities. O resultado é que as concessionárias estão dando descontos para “desovar” os estoques construídos com a projeção de vendas fortes.

“O que causou queda na margem foi que a cadeia inteira se estocou e todos estão com muitas máquinas nas concessionárias, sendo que em 2022 tinha fila de agricultores esperando por máquinas nas concessionárias”, afirma Couto. “Como a cadeia está estocada, é ‘briga de foice’. Então você acaba praticando preços mais baixos. Mas eles [os agricultores] vão precisar de máquinas para 2024, tanto é que em setembro as vendas já voltaram”.

Continua depois da publicidade

Gustavo Couto, CEO do Grupo Vamos

Para o futuro, o CEO diz que a Vamos tem uma estratégia secular de crescimento e um mercado endereçável imenso, pois as locações representam apenas 1,5% do mercado de caminhões e máquinas e equipamentos do país, contra 15% nos Estados Unidos. “É muito mais barato alugar um caminhão do que comprar, então quem faz as contas acaba alugando com a gente. Por isso vamos continuar crescendo em um ritmo acelerado nos próximos anos”.

Couto também destaca que a empresa fez R$ 4,8 bilhões em investimentos e deve repetir o mesmo patamar em 2023, pois já gastou R$ 3,6 bilhões nos três primeiros trimestres. “Estamos repetindo o mesmo número, sendo que o ano passado foi o melhor dos últimos anos e neste ano está sendo difícil”, afirma o executivo. “Se a gente simplesmente repetir o que fizemos neste ano, se continuarmos fazendo por mais um, dois ou três anos, vai ser uma transformação para a companhia”.

Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.