Vale divulga balanço enquanto mercado aguarda por acordo de Mariana: veja projeções

Próximos dois dias estão movimentados para a companhia

Equipe InfoMoney

Publicidade

Recuperação da produção de minério de ferro, que no terceiro trimestre de 2024 (3T24) atingiu seus níveis mais altos desde o 4T18, mas com preços realizados mais fracos. Expectativa para a assinatura de acordo na próxima sexta-feira (25), dia seguinte à divulgação de resultados, que pode representar uma virada de página.

O final da semana será cercado de emoções para a Vale (VALE3), que divulgará seus resultados financeiros na noite desta quinta-feira (24) e assinará acordo multibilionário com autoridades federais e estaduais para reparação e compensação pelo rompimento de barragem de rejeitos em Mariana (MG).

Leia mais:

Para os resultados, de acordo com consenso LSEG, a projeção é de lucro líquido de US$ 1,684 bilhão, lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 3,611 bilhões e receita de US$ 9,436 bilhões.

A mineradora divulgou sua prévia operacional na semana passada com dados de produção de minério que superaram expectativas, o que foi visto por diversos analistas como sinal de recuperação operacional, mas com a realização de preços em todos os metais impactada negativamente por índices de referência mais baixos. Além disso, a cotação de minério tem caído recentemente em meio a dúvidas sobre a economia da China, o que também tem afetado a tese de investimentos em VALE3.

O sentimento do mercado de minério de ferro melhorou após as novas medidas de estímulo anunciadas na última sexta-feira, mas como as políticas ainda não resultaram em nenhum benefício visível, não há grande mudança nos fundamentos e as expectativas de melhoria da demanda continuam fracas, destacou o site chinês de informações financeiras Hexun Futures. Assim, as indicações em teleconferência da companhia sobre o mercado e projeções para China também serão observadas de perto pelo mercado.

Continua depois da publicidade

No 3T24, em termos de realização de preço, a média foi de US$ 90,6/t (tonelada) para finos de minério de ferro ante US$ 98,2/t no 2T24 e de US$ 148,2/t para pelotas (ante US$ 157,2/t no 2T24), refletindo os menores preços de minério de ferro no período, que foram compensados pelo efeito positivo dos ajustes provisórios de preços e pela maior qualidade média do mix de vendas.

Na linha do Ebitda, a XP prevê US$ 3,6 bilhões (-10% na base trimestral e queda de 20% anualmente), com margens caindo 3 pontos percentuais (p.p.) em relação ao 2T24, com os custos C1 (da mina ao porto) diminuindo para US$ 21/t (-16% trimestralmente, conforme indicado no 2T24), apesar das despesas de frete mais altas (+10% ante o 2T24). A casa espera que o Ebitda para Metais Básicos caia para US$ 443 milhões (-4% ano a ano), principalmente devido aos preços mais baixos de cobre e níquel, parcialmente compensados por melhores volumes, refletindo uma melhor sazonalidade, em linha com o guidance esperado da empresa para 2024.

Acordo de Mariana

Continua depois da publicidade

com relação ao acordo sobre Mariana, a expectativa é de que ele some um total de R$ 170 bilhões, incluindo pagamentos já realizados pelas empresas, recursos novos e obrigações ainda a cargo das mineradoras.

Isso incluiria: (i) R$ 38 bilhões em valores já investidos em medidas de remediação e compensação; (ii) R$ 100 bilhões a serem pagos em parcelas ao longo de 20 anos ao governo federal, aos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, bem como aos municípios para financiar programas compensatórios e ações vinculadas a políticas públicas; e (iii) R$ 32 bilhões em obrigações de desempenho pela Samarco, incluindo iniciativas de indenização individual, reassentamento e recuperação ambiental.

A Vale também estimou uma provisão adicional de aproximadamente R$ 5,3 bilhões (ou US$ 956 milhões), que deve ser adicionada aos passivos relacionados a Mariana nos resultados do 3T24 também a serem divulgadas nesta quinta —mas nenhum cronograma para os desembolsos foi divulgado ainda.

Continua depois da publicidade

Com isso, a expectativa do mercado é de maior pressão de dividendos à frente. “Embora o prazo para os R$ 100 bilhões em pagamentos em dinheiro seja de 20 anos, o banco acredita que as saídas podem ser um pouco mais concentradas nos primeiros 2-3 anos do acordo, provavelmente prejudicando a geração de FCF (fluxo de caixa livre) da Vale e limitando o pagamento de dividendos extraordinários no curtíssimo prazo”, avalia o Itaú BBA.

Contudo, olhando para frente, o fechamento do acordo é visto como positivo, com a expectativa é de uma virada de página para a mineradora. “A questão não resolvida de Mariana foi um grande obstáculo para potenciais investidores na Vale. Encontrar uma solução final para isso, uma que representaria uma compensação substancial para a sociedade e, como tal, que abriria a porta para um melhor relacionamento com as partes interessadas, também é muito importante para o futuro da Vale. O valor geral da compensação já havia circulado na imprensa e as provisões adicionais estavam de acordo com as expectativas dos investidores. Uma vez assinado, acreditamos que o acordo final reduzirá o risco da narrativa da Vale, permitindo que os investidores se concentrem novamente nos fundamentos e nas perspectivas de negócios”, aponta o JPMorgan.

Assim, além dos resultados, o mercado ficará de olho nas expectativas para as commodities – principalmente com China – e no acordo com as autoridades para Mariana. Esses desdobramentos podem marcar uma dupla virada para a companhia: recuperação operacional e virada de página com finalmente um compensação sobre o desastre de Mariana. Por outro lado, o cenário incerto com a economia chinesa e para os preços de minério de fero devem seguir como um calcanhar de aquiles para companhia.