Vale a pena comprar ações em OPA? História recente mostra que há riscos

Alto prêmio pago pelo acionista que pretende fechar o capital é sempre interessante, mas casos recentes no mercado brasileiro mostram que nem sempre essa história teve um final feliz

Paula Barra

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SÃO PAULO – O anúncio de que uma empresa passará por uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) normalmente é motivo de euforia no mercado, sentimento que não foi diferente no caso da CCX (CCXC3). O salto impressionante dos papéis é quase uma tentação para os investidores: ganhos de mais de 20% apenas neste pregão e alta acima de 100% no acumulado dos últimos quatro dias. Mas vale a pena se posicionar em uma intenção de fechamento de capital? E se o desfecho for igual ao da LLX (LLXL3) e outras que ainda permanecem listadas na BM&FBovespa?

A história indica que comprar uma ideia de OPA pode ser arriscada. Há seis meses, Eike Batista, controlador do Grupo EBX, mostrou sua intenção em tirar a LLX da bolsa por meio de uma oferta pública de aquisição de ações. Contudo, a operação não saiu do papel após um longo percurso sobre qual seria o preço mais “justo” para as ações – Eike desistiu de realizar a OPA após laudo de avaliação elaborado pelo Bank of America Merrill Lynch avaliar o preço “justo” para a ação em um patamar entre R$ 6,94 e R$ 7,63, mais que o dobro do que o megaempresário estava disposto a pagar por cada LLXL3 (R$ 3,13). 

A proposta de preço inicial lançada pelo ofertante pode ser contestada – e não é raro que isso aconteça, como pode ser observado no caso da LLX e em muitos outros exemplos recentes no mercado brasileiro. A questão do preço a ser pago pelos ativos costuma consumir boas idas e vindas entre compradores e acionistas. Como é necessário a adesão de pelo menos dois terços dos acionistas minoritários aos termos da troca para que a operação seja concluída, o entendimento entre as partes é fundamental. 

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Comprar uma intenção de fechamento de capital é sempre muito arriscado e exige cautela, pondera o analista Eduardo Machado, da Amaril Franklin. “As ações tendem a subir bruscamente e buscar o valor proposto pelo ofertante, mas o investidor tem que ter em mente o risco desta operação, porque ela pode não acontecer. E, neste caso, os papéis normalmente voltam aos níveis abaixo do pregão do anúncio da OPA”, disse.

Na época em que Eike mostrou sua pretensão em fechar o capital da LLX, as ações da companhia valiam R$ 2,85 e chegaram a subir para R$ 3,22, ganhos de 12,98% – próximo ao patamar estipulado pelo empresário para a OPA. Após a desistência, os papéis voltaram para baixo dos níveis pré-anúncio.

Paranapanema, Redecard, Confab… Cada OPA é uma OPA
Este, contudo, não é um caso isolado. Há pouco mais de dois anos, a Vale (VALE3; VALE5) mostrou interesse em fechar o capital da Paranapanema (PMAM3), mas a operação não ocorreu por conta de falta de adesão dos acionistas da empresa. A desistência gerou um efeito similar ao da LLX: forte alta no período posterior ao anúncio e brusca queda após o cancelamento. “É um risco que a pessoa tem que estar preparada para sofrer”, disse o analista.

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Essa forte oscilação, por sua vez, também pode ser vista em empresas cujas ações saíram da Bolsa. A Redecard sofreu fortes baques na BM&FBovespa desde o anúncio de OPA feito pelo Itaú Unibanco até sua efetiva retirada do mercado. O banco manifestou, pela primeira vez, sua intenção em retirar a adquirente de cartões da bolsa em fevereiro do ano passado, mas a conclusão ocorreu apenas em setembro. O principal entrave era o preço a ser pago pelo papel.

O primeiro laudo de avaliação, da Rothschild & Sons, considerava a faixa de preço entre R$ 34,18 e R$ 37,59 para as ações. O segundo, do Credit Suisse, de R$ 34,66 a R$ 38,12. Mas o valor colocado pelo banco à disposição dos acionistas da Redecard sempre se manteve em R$ 35 – preço utilizado para cancelamento de registro da empresa. O Itaú chegou inclusive a reforçar que, caso o laudo de avaliação apontasse para um valor acima de R$ 35, ele poderia abrir mão de dar continuidade à OPA.

Em 2011, os acionistas da Confab viveram os dois possíveis cenários em uma OPA: no final de agosto, a empresa entrou com o pedido da oferta e fez com que as ações disparassem mais de 20% no dia em questão. Contudo, o valor oferecido pelo acionista controlador Tenaris (R$ 5,20 por papel) era muito abaixo do que muitos analistas projetavam – a Ágora Corretora, por exemplo, tinha um preço-alvo para CNFB4 em R$ 7,96 na época -, levando os acionistas a pedirem uma reavaliação.

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O pedido não caiu bem para os controladores, que decidiram desistir da OPA no primeiro dia de novembro – derrubando as cotações da Confab na bolsa. Contudo, em janeiro de 2012, a Tenaris fez uma nova OPA, agora pelo valor de R$ 5,90 – embora bem acima da primeira oferta, ainda estava muito abaixo do que a equipe da Ágora projetava. Apesar disso, a quantia foi aceita pelos acionistas em maio daquele ano.

Atenção redobrada na CCX
A atenção agora volta-se para a CCX. Apenas 8 meses depois de ter ingressado na BM&FBovespa, as ações da mineradora de carvão estão com os dias contados para deixar o mercado brasileiro de ações. Isto porque na noite da última segunda-feira o seu acionista controlador, Eike Batista, anunciou a intenção de realizar uma OPA desses papéis com o intuito de tirá-los da BM&FBovespa. 

Segundo comunicado, Eike está disposto a pagar R$ 4,31 por cada ação CCXC3 negociada na Bolsa – pagamento que será feito através em ações das outras empresas do Eike listadas na bolsa, que serão escolhidas pelos próprios detentores de papéis da CCX. O valor equivale a um prêmio de 37,7% sobre o fechamento do ativo na última segunda.

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Apesar do forte prêmio embutido, algumas considerações importantes merecem ser feitas: no último dia 16 – três pregões antes do anúncio – esses papéis haviam fechado valendo R$ 1,90, o que indicaria um prêmio de 126,84% em relação à oferta feita pelo acionista controlador. De lá pra cá, eles subiram 5,26% na quinta-feira (17), 8,00% na sexta (18) e 44,91% na segunda (21), atingindo os atuais R$ 3,13 – o que aponta uma alta acumulada de 64,74% em apenas três sessões.

“Os papéis vão em busca do patamar próximo ao oferecido por Eike, de R$ 4,31, e quando alcançam, normalmente, seguem em baixa volatilidade até o fechamento de capital, mas sempre há o risco da operação não ocorrer. Além disso, é preciso estar atento aos moldes da oferta”, complementa Machado.

O pagamento da oferta da CCX não deverá ser em dinheiro, e sim realizado através de ações das outras empresas de Eike na bolsa paulista – MMX Mineração (MMXM3), LLX Logística (LLXL3), MPX Energia (MPXE3), OGX Petróleo (OGXP3) e OSX Brasil (OSXB3). Cada acionista da CCX poderá escolher de qual empresa deseja receber ações.

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O investidor tem que estar bem ciente do que está comprando, salienta Machado. “Os papéis do ‘Grupo X’ tem um risco embutido: as empresas primeiro vão ao mercado para depois se tornarem operacionais. A MMX passou por grandes dificuldades até se tornar operacional, a OGX vem caminhando depois de um período bem turbulento. É preciso ter cautela para avaliar os papéis”, complementou.