Senadores dos EUA jogam balde de água fria na ação da JBS: disparada de 2019 está ameaçada?

Para analistas, otimismo com companhia continua, mas pedido de investigação deve gerar impacto negativo de curto prazo nas ações

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Maior alta do Ibovespa no ano com ganhos de cerca de 160% e com recentes e constantes revisões positivas por grandes bancos e corretoras, a ação da JBS (JBSS3) sofre um baque na sessão desta quarta-feira (9). Os papéis chegam a cair 5% em meio aos sinais de que a companhia não conseguirá deixar de vez o seu passado para trás.

A JBS agora é alvo dos senadores Marco Rubio (Republicano) e Robert Menendez (Democrata), que enviaram uma carta ao secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, pedindo a abertura de investigação sobre aquisições feitas pela companhia no país, entre 2007 e 2015, por conta do suposto envolvimento da empresa em casos de corrupção.

No período, a JBS comprou Swift, Smithfied Foods, Pilgrim’s Pride e o braço de suínos da Cargill. Os senadores pedem que governo revise operações (bastante importantes) da gigante de alimentos nos EUA.

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Na carta, os senadores lembraram que a companhia esteve envolvida em atos ilícitos no Brasil. Eles também citaram supostas relações comerciais da empresa com o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, para justificar o pedido. A legislação americana prevê sanções a companhias que cometam atos de corrupção no exterior.

Mas, até que ponto essa notícia pode afetar o ânimo com as ações da “campeã” do setor (conforme classificou o Credit Suisse em relatório divulgado na véspera)?

Os analistas que cobrem JBS são praticamente unânimes ao destacar a dificuldade em fazer previsões em cima de decisões legais ou do governo. Porém, eles reforçam que, definitivamente, esta é uma notícia negativa para a companhia, acrescentando incertezas em um 2019 praticamente de “céu de brigadeiro” para a empresa de frigoríficos.

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Em primeiro lugar, aponta Ricardo Alves, analista do Morgan Stanley, elevam-se os questionamentos sobre a governança corporativa da gigante de alimentos.

“Assumimos a cobertura para o setor no mês passado, com a JBS (com classificação overweight -exposição acima da média do mercado) como a nossa principal escolha no Brasil. Enquanto investidores com quem conversamos geralmente concordavam com os fundamentos (como a gripe suína, ciclos favoráveis ​​do gado, fortes operações nos EUA, listagem em potencial nos EUA, boa gestão, entre outros), um porém está justamente sobre a governança corporativa da companhia”, avalia.

Para o banco, até agora, a empresa fez um trabalho muito bom em tentar superar as incertezas após o “Joesleyday” em 2017 (por exemplo, nova gerência sênior em vigor, departamento e programas de conformidade). Dito isto, o Morgan lembra que algumas
investigações ainda estão em andamento e as notícias sobre o pedido dos senadores americanos podem aumentar as preocupações com a companhia, uma vez que a controladora J&F está sendo investigada também pelo Departamento de Justiça dos EUA.

Vale destacar que investigações conduzidas nos EUA sobre a Petrobras (PETR3; PETR4) acabaram em acordos bilionários.

Outra pergunta feita pelo Morgan é se essa solicitação feita pelos senadores dos EUA poderia desencadear outras investigações e inquéritos sobre possíveis irregularidades da JBS nos EUA. Além disso, cabe lembrar que nesta semana foi divulgado o relatório final da CPI do BNDES, pede a rescisão dos acordos de leniência da JBS e de colaboração premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

A alegação é de que há robustos elementos de prova a indicar que os irmãos delatores e Ricardo Saud omitiram diversas informações e faltaram com a verdade nas declarações e depoimentos prestados à Procuradoria-Geral da República em decorrência do acordo de colaboração premiada.

Em segundo lugar, o pedido dos senadores americanos poderia atrasar o processo de listagem das ações da JBS nos EUA. Durante recente conferência realizada entre o Morgan e diretores da empresa, foi discutido o assunto, e o entendimento é de que não haveria problemas legais que impedissem a empresa de alcançar seus objetivos.

“Os acontecimentos recentes poderiam, de alguma forma, virar um impedimento legal para isso? Ainda não sabemos a resposta para essa pergunta, mas não podemos ignorar a possibilidade”, avalia Alves.

E, mesmo sendo muito difícil quantificar um impacto em potencial, a incerteza em torno dessa questão específica também poderia representar um empecilho para a ação no curto prazo. As divisões da JBS nos EUA representam aproximadamente 75% do Ebitda (lucro antes de juros, depreciações e amortizações) consolidado da empresa nos últimos doze meses e a empresa possui um grande histórico de aquisições no país.

“Assim, precisaremos monitorar de perto se essa questão pode ou não desencadear multas ou restrições relacionadas a qualquer subsidiária da JBS no país”, avalia.

Otimismo continua

Desta forma, enquanto permanece com recomendação overweight para as ações, vê pressão no curto prazo para os papéis até obter mais detalhes sobre o assunto. Mas, quando o assunto são os fundamentos, o otimismo com o setor de proteínas continua, particularmente com os exportadores de carne bovina.

“Além disso, o impacto de R$ 10 bilhões relacionado a passivos eventuais/contingências já foram incorporados no nosso preço-alvo de R$ 35 para a JBS”, o que corresponde a um potencial de valorização de 14% frente o fechamento de terça-feira.

Com relação às possibilidades de punição, a equipe de análise do Itaú BBA, baseado numa pesquisa sobre decisões passadas do CFIUS (The Committee on Foreign Investment in the United State), entende que as notícias apontam para um evento de “alto risco com baixa probabilidade”.

“Formalmente, o CFIUS tem o poder de revisar aquisições feitas por entidades estrangeiras, mas raramente o fizeram”, destaca o relatório, assinado por Antonio Barreto.

As unidades adquiridas da Swift, Pilgrims Pride, Cargill Pork, Smithfield Beef representam cerca de 60% da receita da JBS.

Em sua história, o CFIUS bloqueou cinco aquisições, nenhuma tendo sido revertida após 12 anos. “A maioria dos bloqueios estava relacionada a empresas de tecnologia, controladores chineses e não à corrupção no exterior”, reforçou. Além disso, todas as decisões foram tomadas depois de alguns meses que os negócios foram concluídos.

Desta forma, as perspectivas seguem positivas para a JBS – porém, o pedido dos senadores americanos podem ser um fator de pressão de curto prazo e amenizar a tendência positiva com os papéis da até agora campeã do Ibovespa em 2019.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.