Sem alívio: emprego quente nos EUA deve adiar corte de juro e derruba bolsa no Brasil

Mercado de trabalho forte mostra economia aquecida, alimenta temores de inflação duradoura e afasta crença de cortes – tão em breve – dos juros nos EUA

Vitor Azevedo

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A vida do investidor brasileiro da Bolsa não está fácil. Na véspera o turbilhão da Petrobras, hoje dados quentes do emprego nos Estados Unidos. Resultado: Ibovespa recuou 0,50%, aos 126,7 mil pontos, carregando perdas de 1,02% na semana.

Nesta sexta-feira, foi divulgado o Payroll, principal dado do mercado de trabalho dos EUA. O número veio mais forte do que o esperado, puxando os juros futuros para cima, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos – e consolidando uma sessão de perdas para a bolsa brasileira.

A criação de 303 mil vagas no mercado de trabalho em março foi maior do que o consenso, que previa a abertura de 200 mil, mostrando que a economia americana segue forte. Essa perspectiva aumenta temores de que a inflação, por lá, não deve ceder tão facilmente e de que, com isso, o Federal Reserve (Fed) não conseguirá começar o seu ciclo de corte de juros tão cedo quanto o esperado. 

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Emprego americano em alta, bolsa brasileira em baixa

“O resultado do Payroll foi mais uma vez bastante forte, e aumenta a incerteza sobre os próximos passos da política monetária americana. Jerome Powell [presidente do Fed] já disse que o comitê deseja ter maior confiança de que a inflação está consistentemente convergindo para a meta de 2% e para isso ele gostaria de ver a continuidade de bons dados de inflação e um mercado de trabalho menos aquecido”, fala André Cordeiro, economista-sênior do Inter.

Os treasuries yields para dois anos ganham, por volta das 11h30, 5,9 pontos-base, a 4,70%. Já os títulos do tesouro americano para dez anos ganham 5,6 pontos-base, a 4,365%, flertando com os seus maiores níveis em dois meses. 

Para André Fernandes, especialista de mercado de capitais da A7 Capital, o dado surpreendeu e demonstra que o mercado de trabalho nos EUA ainda está muito aquecido. “Isso pode ser refletido na inflação, tornando ela mais persistente, corroborando os últimos discursos de dirigentes do Fed essa semana, de que o juro neutro por lá deve ser maior do que o esperado”, diz. 

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Juros mais altos nos EUA acabam refletindo nos ativos de risco, principalmente no de países emergentes, como o Brasil. Investidores, neste cenário, tendem a preferir aportar nos títulos americanos ou em contratos privados do país, que oferecem mais segurança.

Fora isso, taxas mais altas por lá acabam também impulsionando as da renda fixa brasileira. Os DIs para janeiro de 2025 ganham 1,5 ponto-base, a 9,98% e os para 2027, quatro pontos, a 10,36%. As taxas dos contratos para 2029 e 2031 sobem, respectivamente, três e quatro pontos, a 10,92% e 11,20%.

A postergação do início do ciclo de corte de juros acaba também minguando o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil. Até o início de abril, segundo dados da B3, R$ 24,3 bilhões já haviam sido retirados da Bolsa brasileira.

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“Temos observado grandes retiradas do investidor estrangeiro na bolsa, já totalizando mais de R$ 20 bilhões. Isso se dá pelo fato de as treasuries ainda estarem com taxas muito atraentes, bem pela incerteza de quando iniciarão os cortes nos EUA”, explica Yan Vasconcellos, sócio da One Investimentos. 

Bolsas americanas

Em Wall Street, as bolsas sobem: Dow Jones, +0,65%; S&P500, +0,89%; Nasdaq, +1,04%.

“O ponto de dados significativo (…) são os ganhos médios por hora, que agora caíram para 4,1% ano a ano, que é o nível mais baixo desde junho de 2021”, disse David Waddell, presidente-executivo e estrategista-chefe de investimentos da Waddell & Associates, em referência à abertura dos dados do payroll.

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“Portanto, o relatório de emprego estava quente, mas é um relatório que mostra inflação arrefecendo, e é por isso que o mercado pode digeri-lo … isso realmente não muda nada.”

Dessa forma, os mercados monetários estão agora precificando cerca de 56% de chance de pelo menos um corte de 25 pontos-base nos juros pelo Fed em junho, abaixo dos 60% anteriores à divulgação dos dados, de acordo com a ferramenta CME FedWatch.