Por que o mercado de debêntures está tão complicado para os investidores?

Baixa de ofertas de título e estreitamento de prêmios contribuem para gestores não alocarem investimentos em carteiras de créditos privados

Estadão Conteúdo

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Gestores têm enfrentando dificuldade na alocação dos investimentos que recebem para as carteiras de crédito privado devido à remuneração oferecida pelos títulos de dívida privada, que consideram baixa. Uma das razões para o estreitamento dos prêmios tem sido o descompasso entre a oferta e demanda desses papéis, diante de uma dinâmica mais fraca da atividade econômica, que reduz a necessidade de as companhias emitirem debêntures ou outros títulos para realizarem investimentos. Paralelamente, muitas companhias anteciparam no ano passado suas captações, esperando por um mercado de capitais mais árido em 2014.

A ausência de boas oportunidades de prêmios tem, até mesmo, levado gestores a fechar os fundos para novas captações. “Quando as opções que existem no mercado não são suficientes, temos optado por fechar os fundos para captação ao invés de investir os recursos em operações com relação insatisfatória entre risco e retorno”, conta o gestor de fundos do JP Morgan, Ricardo Schiavinato.

O gestor do JP Morgan conta que também tem, alternativamente, aumentado a exposição em Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Letras Financeiras (LFs), tanto dos grandes quanto dos médios bancos, para compor seus fundos. Ainda, tem elevado os investimentos no mercado internacional, com a compra de bônus emitidos por empresas brasileiras. “Além de nos ajudar a lidar com a falta de ativos no mercado local, os bônus ajudam a diversificar os portfólios, pois a grande maioria das empresas que emite no mercado internacional é exportadora ou possui operações no mercado internacional. Ou seja, elas tendem a ser menos sensíveis ao que acontece na economia local”, explicou Schiavinato.

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O responsável pela distribuição de renda fixa do Itaú BBA, Luis Fernando Guido, que está na ponta vendedora do mercado de renda fixa, não enxerga que as taxas e os prêmios praticados estejam exageradamente apertados. “O mercado, do ponto de vista de pricing, está de lado e os prêmios são semelhantes aos do ano passado”, disse. Ele lembra que existem setores onde os prêmios são elevados por conjuntura específica, como o de energia elétrica. Mas, acrescenta, nas operações de melhor classificação de risco, com ratings AAA ou AA+, a remuneração tem variado entre 108,5% e 109% do CDI, nível praticado de modo geral em 2013.

Guido diz que o volume de ofertas do primeiro semestre está menor do que a expectativa dos investidores e nessa equação agrega-se o fato de que os fundos que carregam crédito privado têm crescido, fruto de investidores que saíram de fundos de ações. “Essa conjuntura acaba levando a uma percepção de que as taxas estão aquém do que é o preço justo”, afirma.

O executivo destaca ainda que, normalmente, os bancos são um concorrente neste mercado, já que as empresas “cotam” com as instituições a possibilidade de fazerem emissões privadas. Sobre esse ponto, o gestor de crédito de renda fixa do Western Asset Management Company, Jean-Pierre Cote Gil, acrescenta que há situações em que os bancos têm interesse em ficar com esses papéis e acabam não os levando para a distribuição no mercado.

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Cote Gil afirma que, de qualquer modo, a baixa oferta de debêntures não tem levado investidores a tolerar retornos menores. Ele diz que claramente os gestores rejeitam prazos mais longos, e que os emissores têm encurtado os vencimentos nas novas operações para não elevarem o custo das captações. “Os emissores estão captando entre um a três anos para conseguirem a mesma taxa que conseguiriam lá atrás ao prazo de cinco anos”, disse.

O responsável pela distribuição de renda fixa do Itaú BBA observa que entre os elementos que chamam a atenção neste ano estão a redução dos prazos, a volta dos investidores para os ativos remunerados pelo CDI e a ausência dos fundos de pensão e dedicados à inflação de gestores de recursos de terceiros. “Esses participantes eram muito atuantes e os livros remunerados pelo IPCA tinham demanda superior ao CDI. Voltamos à uma realidade mais próxima ao do passado”, disse.

Elétricas
Em geral, a decisão dos gestores tem sido de não participar das emissões de debêntures de maior risco. Conforme apurou o Broadcast, as emissões de debêntures da CPFL Geradora, de R$ 635 milhões, e da Copel, de R$ 1 bilhão, tiveram demanda apertada e as duas maiores assets do mercado teriam ficado de fora das operações. Isso fez com que, um dia antes do processo de bookbuilding da CPFL Geradora, houvesse dúvidas sobre o sucesso da colocação, comentou uma fonte. Outra oferta do setor elétrico neste ano, da AES Tietê, também não trouxe remuneração considerada satisfatória, o que fez com que o prêmio no mercado secundário fosse elevado de forma a atrair as assets.

Para Guido, do Itaú BBA, esta é uma situação a ser observada, mas que não tem causado impacto nos livros de colocação de ordens. “Em um mercado de maior volatilidade, no qual transitamos desde a abertura das NTN-Bs em julho do ano passado, a busca do consenso entre investidores é mais difícil em relação aos créditos e à decisão do investimento. Mas o importante é olhar para o todo e o que acontece é que outros investidores são encontrados. Se olhar o passado recente não há resultado e livros recentes cuja colocação foi severamente impactada por situação onde um numero relevante de assets não participou”, comentou.