Renda fixa, mas com algum risco

Estrategistas afirmam que opções isentas de IR e papéis atrelados à inflação podem trazer diferencial para o investidor

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Embora a rentabilidade dos investimentos em renda fixa tenha sofrido com as constantes quedas na taxa básica de juros durante o ano passado, quem apostou em títulos prefixados e nos títulos ligados à inflação conseguiu retornos excelentes. Em 2013, especialistas afirmam que o cenário não será fácil para a renda fixa, uma vez que o Banco Central sinaliza manter os juros baixos por um período prolongado, e esses papéis já são negociados com um prêmio elevado. Porém, fazendo a escolha certa, vai ser possível conquistar bons resultados. “Estamos vindo de anos difíceis na Bolsa e, fazendo boas escolhas em renda fixa, dá para conquistar um diferencial na carteira de investimentos”, afirma o gerente de renda fixa da Um Investimentos, André Mallet.

Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores, alerta que vai ser preciso, mais do que nunca, estar atento ao tipo de título que será adquirido. “Nos últimos dez anos, o brasileiro viveu na moleza do juro real de 5%, mas dificilmente veremos isso novamente aqui no Brasil. O que teremos são juros reais na faixa de 2% a 2,5%.” Segundo ele, encontrar oportunidades de bons ganhos vai depender de estudo e dedicação: “Os outros países estão acostumados com taxas muito baixas e às vezes negativas na renda fixa”. O Brasil experimenta o primeiro período de juros civilizados em décadas – o que obrigará os investidores a se adaptarem à nova realidade.

Títulos indexados à inflação ainda se destacam
Se em 2011 e 2012 os títulos indexados à inflação foram as estrelas do mercado com altas anuais que chegaram a 50% em alguns casos, para 2013 o retorno previsto é menor, uma vez que a maior correção do juro real já ficou para trás. Os papéis só seguem entre os mais recomendados devido à expectativa de aceleração da inflação. “Investimentos atrelados a indicadores como o IPCA [Índice de Preços ao Consumidor, do IBGE] ainda são a grande aposta”, diz Mallet.

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Quem investe pelo Tesouro Direto deve comprar NTN-B (Notas do Tesouro Nacional série B). Os papéis garantem ao investidor rendimentos atrelados ao IPCA mais uma taxa prefixada. “São papéis defensivos em que você consegue proteger o capital contra uma alta dos preços” diz Nepomuceno.

Entre as principais vantagens de títulos do governo está o baixíssimo risco de crédito – a chance de o país quebrar é muito pequena. Já o risco de mercado está presente nas NTN-Bs, que costumam mostrar volatilidade considerável, principalmente durante movimentos de aperto ou afrouxo monetário. Quando a taxa de juros cai, o valor de face das NTN-B tende a aumentar, e vice-versa. Se o BC tiver de dar estilingada nos juros para conter a inflação, o investidor deve ter perdas com os papéis.

Além disso, as expectativas futuras de inflação também fazem com que o valor de tais títulos oscile diariamente. O investidor que pretende ficar com o título até o final não tem com o que se preocupar: no vencimento, ele receberá exatamente aquilo que foi acordado no momento da compra. Já quem tem planos de vender antes deve tomar cuidado, pois, assim como pode ter retornos expressivos, também corre risco de ter perdas financeiras com esse tipo de aplicação.

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Seguindo o raciocínio, o gerente de renda fixa da Um Investimentos ressalta que o prêmio pago por esses títulos aumentou muito em 2011 e 2012, por conta do corte da Selic e das expectativas de alta do IPCA. Por isso, ele recomenda certa cautela para os investidores que pretendem entrar agora. “O mercado já enxergou que neste ano teremos inflação maior, então esses papéis já estão com prêmios de juros baixos”, diz Mallet.

Investimentos sem impostos
Mas não são só as NTN-B que merecem espaço na carteira dos investidores. Quem quer alocar uma parte maior do portfólio em renda fixa deve olhar para investimentos sem incidência de Imposto de Renda, que diminui a rentabilidade. “Papéis isentos, como CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e as debêntures de infraestrutura, chegam muito atrativos para a pessoa física neste ano”, diz Mallet. “Os fundos imobiliários também dão isenção fiscal [nos aluguéis distribuídos] e vêm com uma relação risco X retorno muito boa. Os CRI vão bater a poupança de longe, então merecem atenção do investidor. Nenhuma dessas aplicações é muito complicada, mas, se o investidor tiver dificuldade, sempre pode, além de estudar, procurar um profissional sério para ajudá-lo. Uma LCI, por exemplo, é muito parecida com um CDB na hora de executar. É um título emitido pelo banco, atrelado a financiamentos imobiliários, que pode ser prefixado, indexado ao CDI ou atrelado ao IPCA, com um prazo determinado.”

Nepomuceno lembra apenas que a maioria das emissões de CRI ainda é para investidores qualificados e exige investimento mínimo de R$ 300 mil. Quem tem um valor menor ainda pode investir em CRI via algum fundo imobiliário que compre esses títulos.

Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores, alerta para os cuidados que se deve ter ao optar por tais investimentos. “Quando se fala de CRI e LCI, você está falando de crédito, e recentemente houve a intervenção em dois bancos: Cruzeiro do Sul e BVA. Houve prejuízos gigantescos. Um banco com rating AAA pode não ter o mesmo problema, mas também não terá a mesma rentabilidade. Então, o pequeno investidor precisa ficar atento, pois ele não está muito acostumado a crédito, já que viveu muito tempo na moleza do juro real de 5% ao ano.”

Para evitar prejuízos, Mallet dá a dica: “Uma LCI de até R$ 70 mil, por exemplo, é protegida pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), ou seja, tem pouco risco. Se você for investir mais de R$ 70 mil, pode dividir em mais de um emissor, colocando R$ 70 mil em cada um e ficando assim protegido. Há várias opções que o mercado está dando, e o investidor precisa ficar de olho, para conseguir um diferencial na hora de ampliar a renda”, conclui.

Poupança e CDI ficam de fora
As restrições dos especialistas ficam por conta da poupança e dos investimentos atrelados ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário) com taxas elevadas. Em 2012, o governo determinou que a poupança renderá apenas 70% da Selic + TR sempre que a taxa básica de juros estiver em 8,5% ao ano ou menos. “A poupança ainda cresce em captação em função do pouco conhecimento do investidor. Ela vai perder de longe para muitos títulos interessantes”, garante Mallet.

Os fundos DI sofrem do mesmo problema. Especialistas recomendam aos investidores colocar na caderneta ou em fundos DI apenas o dinheiro que serve como uma espécie de reserva de emergência e que pode precisar ser resgatado a qualquer momento. O resto dos recursos deve ser direcionado a uma aplicação mais rentável, ou então os rendimentos reais terão grandes chances de perder da inflação.