Recompra de ações é sinal da empresa ao mercado de que elas estão “baratas”

Com essas operações, empresas tentam passar a mensagem de que confiam em seu próprio case de investimento, dizem especialistas

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Queda na bolsa, ações registrando forte desvalorização, medo, movimentos irracionais. E no meio disso tudo, muitas companhias brasileiras têm anunciado planos de recompra de suas próprias ações. Com que intuito?

Basicamente, a queda das ações já torna-se um bom motivo para as empresas realizarem essas recompras, tendo em vista que o declínio recente do Ibovespa em uma forte intensidade acaba distanciando o preço desses ativos daquilo que eles realmente deveriam valer. Em outras palavras, nesse momento a ação está subprecificada por conta de motivos mercadológicos, e não por conta de uma deterioração nos fundamentos da empresa.

O que querem as empresas?
Há de se lembrar que se há uma lógica que governa os mercados, essa é a do próprio interesse. As empresas não fazem esse tipo de programa por pura benevolência, já que elas podem ser instrumentos úteis tanto para a empresa, quanto para os seus acionistas.

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Assim, basicamente, ganha-se de duas maneiras distintas: “quando você compra ações e cancela, você tem menos acionistas e portanto o lucro é dividido entre menos sócios, fazendo um provento maior por ação. Outra forma é que a empresa vai ter um ganho financeiro na venda.”, diz Eduardo Dias, analista de investimentos da Omar Camargo.

Contudo, qualquer movimentação pública – esse tipo de programa precisa ser comunicada ao mercado – é também uma forma de transmitir um pensamento, comunicar uma intenção. Comprando suas próprias ações, a empresa busca expressar que possui clara confiança em seu negócio.

“Essa decisão tem como objetivo mostrar que o grupo está acreditando no seu negócio, sinalizando que o ativo está barato”, explica Ivanor Torres, analista da Geral Investimentos. Torres também chama a atenção para o fato de que um programa desses, de uma forma ou de outra, eleva a liquidez das ações a serem recompradas.

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O bom, o ruim e o programa
Vale mencionar, porém, que mesmo empresas em momentos distintos na bolsa têm realizado essas operações. Basta pegar os dois casos de recompra de ações recentemente vistos nesta semana – MRV (MRVE3) e Telesp (TLPP4). Enquanto os papéis da construtora acumulam perdas de 24,27% em 2011, os ativos da companhia de telecomunicações já subiram 18,43% no acumulado do ano – até o fechamento da última quinta-feira (11).

Segundo os especialistas, embora um momento de desvalorização das ações seja um bom motivo para a recompra, o principal fator deve-se mesmo à expectativa dessas empresas aos seus resultados futuros. No caso acima, se ambas acreditam em um cenário positivo para elas mesmas no longo prazo, então o programa de recompra é válido para as duas, seja qual for o preço atual do papel.

“Isso vem de fatores diferentes, que cada empresa considera, como o valor patrimonial. Vai da administração de cada empresa”, explica Dias, Omar Camargo.

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Crise e confiança
Contudo, se o preço da ação está relativamente “barato”, a operação torna-se ainda mais atrativa, ressalta Dias. Assim, o investidor há de lembrar que a crise financeira de 2008 fora um período onde esses programas também ganharam maior frequência. Em meio aos movimentações irracionais que o mercado tem apresentado, a tendência é de que essas recompras continuem ocorrendo no curto prazo.

Empresas que anunciaram recompra de ações nos últimos 30 dias:

Empresa Ações da Empresa Anúncio Total de ações compradas Prazo
Natura NATU3 21/07 2,3% 365 dias
Cyrela Realty CYRE3 04/08 Até 10%
Odontoprev ODPV3 05/08 0,87% 229 dias
Marcopolo POMO4 08/08 1,59% 120 dias
MRV Engenharia MRVE3 10/08 3,23%
Telesp TLPP4 11/08 10% de ações PN Até 20 de outubro
GOL GOLL4 12/08 10% 356 dias