Quem perdeu com OGX vai demorar para entender o que aconteceu, diz CEO da Bovespa

Em entrevista à Revista InfoMoney, Edemir Pinto falou sobre o potencial de IPOs que o Brasil ainda carrega e também sobre novos produtos a serem lançados no mercado

João Sandrini

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No mercado de capitais brasileiro, ninguém é mais poderoso que o diretor-presidente da BM&FBovespa (BVMF3), Edemir Pinto. Todos os assuntos que envolvem a Bolsa, as companhias abertas, as corretoras, as gestoras de recursos e os maiores investidores do Brasil passam necessariamente por sua mesa.

Edemir ingressou na BM&F em janeiro de 1986, mesmo mês em que o pregão da Bolsa de commodities e contratos futuros começou a funcionar. O executivo galgou cargos na companhia até chegar à direção-geral em 1999. Na época da fusão entre BM&F e Bovespa, em 2008, deixou bem claro que só continuaria a trabalhar na Bolsa recém-criada se fosse indicado ao cargo de diretor-presidente.

Edemir venceu a queda de braço e não saiu mais de lá. Em entrevista à Revista InfoMoney, o executivo afirmou que a OGX, a Petrobras (PETR3; PETR4), o setor elétrico e a redução no número de IPOs (ofertas iniciais de ações) prejudicaram a rentabilidade dos investidores nos últimos anos e aumentaram o desinteresse dos brasileiros pela Bolsa. Edemir admite que o “mercado está bicudo”, mas lembra que a Bolsa “é feita de expectativas”. Leia a seguir os principais trechos da entrevista exclusiva:

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InfoMoney – Por que a participação das pessoas físicas na Bovespa vem caindo tanto?
Edemir Pinto – A participação em relação ao volume total caiu de 34% no pico para algo em torno de 12% a 14% por uma série de fatores. Eu destacaria quatro. O primeiro foi a redução do número de IPOs [ofertas iniciais de ações]. Essas operações atraem as pessoas físicas. No IPO do BB Seguridade, por exemplo, vieram mais de 70 mil pessoas para o mercado. Então quando cai o número de IPOs, há uma redução também no ingresso de novos investidores. A segunda variável foi o que aconteceu no setor de energia elétrica, tradicionalmente um grande pagador de dividendos.Muitas pessoas estão mais interessadas em ganhar com dividendos do que com a valorização de um papel. Mas o setor elétrico sofreu bastante por conta de mudanças regulatórias, o que afastou o pequeno investidor. Houve ainda um terceiro movimento que assustou, com a Petrobras. A empresa vem perdendo valor de mercado desde 2010, quando foi realizada a megacapitalização [à época, a Petrobras levantou R$ 120 bilhões com uma oferta de ações]. A ação chegou ao pico de R$ 46. A capitalização foi feita a R$ 26. Agora está em R$ 16 [na data do fechamento desta edição]. Como muitos brasileiros têm Petrobras e investiram até o FGTS nesses papéis, ficaram machucados e se afastaram da Bolsa. Por último, houve a questão da OGX. O investidor que comprou as ações dessa empresa vai levar um tempo para digerir isso, entender o que aconteceu. É por isso que Bolsa faz um trabalho educacional para trazer investidores de forma consciente.

IM – A OGX só saiu do Ibovespa no final do ano passado. A Bolsa demorou demais para removê-la do índice?
EP – Como a Bolsa vive de credibilidade e confiança, a pior coisa que pode ser feita é mexer nas regras do jogo a cada vez que aparece uma situação nova. A metodologia do Ibovespa tinha 45 anos. A provocação para mexermos no Ibovespa surgiu com a Mundial [a fabricante de alicates teve um crescimento extraordinário no volume de negócios e quase entrou no Ibovespa em 2011, pouco antes de suas ações despencarem]. Lógico que depois veio a OGX e agravou o processo, mas já estávamos trabalhando nisso. A Bolsa decidiu implementar a nova metodologia do Ibovespa de forma gradual porque não pode reagir de uma hora para outra. Quando menos mexer em regra, melhor.

IM – A Bolsa chegou a avaliar alguma vedação para ofertas públicas de empresas pré-operacionais após a derrocada das empresas do Eike Batista?
EP – Houve alguns aperfeiçoamentos nos pré-requisitos de listagem. O que a CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e a Bolsa devem exigir é que todas as informações sejam dadas ao investidor. Mas é o próprio mercado quem tem que tomar a decisão de investir em uma empresa pré-operacional ou não. Não é nem a Bolsa nem o regulador. Neste momento, o mercado não dá espaço. Já houve um caso neste ano de uma empresa pré-operacional que cancelou o pedido de registro de companhia aberta apresentado à CVM porque percebeu que não há espaço para a oferta pública depois do que aconteceu com a OGX.

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IM – Em relação à retomada dos IPOs, a Bolsa tem uma expectativa positiva?
EP – O potencial do mercado brasileiro é espetacular, mas muitas empresas estão aguardando o melhor momento. Não há poupança suficiente no Brasil para comprar todas as ações nessas operações. Dependemos do investidor estrangeiro, que compra 70% dos papéis em IPOs. Quando se olha o contexto, é possível perceber que os estrangeiros estão buscando outros portos seguros ao invés do Brasil. É um ano de eleição. Tivemos o “rating” [classificação de risco] cortado pela [agência] Standard & Poor’s. Então o investidor estrangeiro aguarda um pouco para tomar decisões de investimento.

IM – Em um momento difícil para o mercado, não faria sentido para a Bolsa tentar direcionar parte dos recursos dos poupadores para o Tesouro Direto, por exemplo?
EP – A Bolsa dá todas essas alternativas aos investidores, mas a decisão precisa ser deles. Na plataforma do home broker, tem o Tesouro Direto para quem quiser investir em renda fixa. Alguém pode pensar qual é o sentido de colocar um produto de terceiro para concorrer com um produto próprio. Mas a gente quer dar alternativas ao investidor.

IM – Ainda neste ano, não poderá mais haver “penny stocks” [ações negociadas por menos de R$ 1] na BM&FBovespa. A intenção é fazer uma limpeza no pregão?
EP – Não. A companhia pode resolver isso fazendo o grupamento das ações [ou seja, juntado vários papéis em um, as ações voltariam a valer mais que R$ 1]. Demos um prazo e estamos provocando a empresa a chamar uma assembleia e tomar essa decisão. Se não quiser aprovar o grupamento e a ação continuar negociada abaixo de R$ 1, vai sair do pregão.

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IM – O custo para uma empresa ter capital aberto não é muito alto no Brasil?
EP – A gente tinha essa ideia de que o custo é alto. Mas nessas mesmas viagens descobrimos que o custo brasileiro é menor que os dos sete países visitados. De qualquer forma, a Bolsa e a CVM estão trabalhando para simplificar esse custo, principalmente na parte de publicação de informações. Fatos relevantes já podem ser publicados em sites [e não mais apenas em jornais de grande circulação]. Estamos negociando outros benefícios para empresas que tenham um faturamento de até R$ 500 milhões e que no dia de abertura de capital tenham até R$ 700 milhões em valor de mercado.

IM – Bancos e corretoras chegaram a pedir ao governo isenção de IR sobre o rendimento com aluguéis distribuídos por fundos imobiliários a estrangeiros, assim como acontece com brasileiros. Isso vai acontecer?
EP – Está em estudo. Os fundos imobiliários tiveram um “boom” quando a taxa de juros caiu muito. A gente até prefere que ativos negociados por pessoas físicas se valorizem de forma mais gradual do que aconteceu porque, quando sobe muito rápido, depois volta a cair. Foi isso que aconteceu quando os juros começaram a subir e esses fundos ganharam um concorrente importante em termos de rentabilidade [a renda fixa]. Agora a CVM e o BC têm olhado com lupa esse mercado para evitar surpresas. Tem uma série de medidas em análise para melhorar a regulação para o gestor e o administrador dos fundos imobiliários com o objetivo de proteger o investidor.

IM – Entre os fundos de ações mais rentáveis nos últimos meses, há diversos que investem em BDRs, que são recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na Bovespa. O problema é que é preciso ter R$ 1 milhão em aplicações financeiras para investir nesses papéis. Há um movimento para tornar mais acessível essa possibilidade de investir em Google ou Goldman Sachs pela Bovespa?
EP – Essa é uma preocupação legítima do regulador e da Bolsa. Os BDRs são não-patrocinados, ou seja, uma instituição financeira assume um compromisso com a Bolsa de trazer esses papéis para negociação no Brasil. Mas as companhias com BDRs não têm a obrigação de divulgar informações em língua portuguesa. O investidor tem que acessar o site da empresa em inglês e levantar as informações que busca. A empresa também não tem a obrigação de divulgar fatos relevantes nem outros comunicados no Brasil imediatamente. Como o regulador não quer correr o risco de o investidor começar a comprar gato por lebre, só permitiu que superqualificados invistam nesses papéis. O que a CVM pode diminuir aos poucos é o limite para considerar alguém superqualificado e tornar os papéis mais acessíveis. Pode cair de R$ 1 milhão para R$ 750 mil, por exemplo. E o mercado vai se aculturando. O volume de negócios com BDRs cresceu de R$ 200 milhões em 2012 para R$ 1 bilhão no ano passado. Ainda é um volume pequeno. Mas lançamos o BDR do Facebook neste ano e estamos de olho em empresas europeias.

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IM – Por que a Bolsa não lança novos produtos, como ETF (fundo passivo atrelado a algum índice com cotas negociadas em Bolsa) de renda fixa ou então contratos futuros de ações?
EP – O ETF de renda fixa está para sair. O governo está analisando e vamos ter. Futuro de ações a gente já tentou fazer no Brasil umas três ou quatros vezes, mas não houve demanda. É o mesmo motivo para não termos contratos futuros de suco de laranja ou algodão [o Brasil é grande produtor das duas commodities]. O problema é que mercado entre poucos não dá certo. É preciso um número suficiente de participantes para ter liquidez e negociação transparente. Para analisar essas oportunidades, a Bolsa tem 17 câmaras consultivas. A Bolsa seleciona pessoas que entendem muito de cada uma das partes da cadeia de um produto. Na câmara de fundo imobiliário, por exemplo, há 20 pessoas que representam construtora, escritório de advocacia, gestores… Mensalmente eles se reúnem aqui para discutir melhorias para as regras dos fundos imobiliários.

IM – Mas há muitos anos o mercado inteiro se queixa que não há no Brasil um mercado secundário de renda fixa, por exemplo. Por que a Bolsa não cria isso?
EP – Nesse caso, o problema é que até hoje o mercado [de negociação de títulos públicos] é de telefone. Tem 15 caras que operam isso pelo telefone e eles não querem vir para a plataforma eletrônica. Por quê? Porque para eles é melhor do jeito que está. No caso de títulos de renda fixa privada, a gente tem o Bovespa Fix para registro dessas negociações. Mas para desenvolver uma plataforma de negociação, é preciso ter mais liquidez. É por isso que temos essas câmara consultivas. Se o mercado quiser, a gente coloca o produto na praça.

IM – Em relação ao aluguel de ações, o sr. chegou a anunciar a criação de um sistema unificado de papéis disponíveis para aluguel em todas as corretoras. Vai sair?
EP – Estamos trabalhando fortemente. O aluguel de ações será um grande produto da Bolsa, principalmente para os fundos de pensão. Eles precisam ter na tela a taxa que podem obter disponibilizando suas ações para aluguel para prestar contas ao conselho de administração, ao conselho fiscal, ao comitê de auditoria. A Bolsa está adequando o sistema de aluguel de ações para isso. E por que não fizemos antes? Porque tínhamos que priorizar. Havia 30 projetos na mesa. Mas agora entrou em produção e acredito que até o final deste ano já tenhamos uma plataforma disponível para corretoras e investidores.

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IM – O aluguel de ações é importante para o investidor ter uma possibilidade de ganho com a Bolsa em queda. O sr. acha que haverá um crescimento no número de operações de venda por pessoas físicas com essa nova plataforma?
EP – Acho mais recomendável o aluguel de ações para o investidor de longo prazo que quer disponibilizar seu papéis para outros alugarem. Um ativo que está parado em carteira rende uma taxa de juros quando é alugado. Mas não recomendo para uma pessoa física comum operar vendido. Tem que investir com consciência. Há uma multa da Bolsa para quem fica vendido em uma ação, mas falha em alugar o papel de outro investidor. A pessoa física até pode vir para esse mercado, mas de maneira consciente porque senão ele vai criticar o produto da Bolsa. Isso já acontece. O investidor vem, começa a fazer “day trade” feito louco, perde dinheiro e depois vai falar para amigos e parentes que não é para ir para a Bolsa porque ele perdeu tudo na Bolsa. Perdeu porque fez tudo errado.

IM – O fato de só haver uma única Bolsa no Brasil ajuda ou atrapalha o crescimento do mercado?
EP – Já tivemos 11 Bolsas de ações e cinco Bolsas de derivativos e futuros no Brasil. Todas essas Bolsas se consolidaram na BM&FBovespa. O Brasil é diferente de outros países da América Latina. Na Argentina, tem 15 Bolsas. Na Colômbia, são sete, e, no Peru, quatro. O Brasil só tem uma Bolsa, mas com uma musculatura espetacular. A fusão entre a BM&F e a Bovespa em 2008 permitiu que a gente olhasse para o longo prazo e estabelecesse um grande plano investimento de US$ 1 bilhão, que finalizaremos até dezembro. Como Bolsa é 110% tecnologia, o principal investimento foi em plataformas eletrônicas. Tínhamos quatro sistemas de negociação que substituímos por apenas um. Visitamos diversas Bolsas no mundo e optamos por fazer uma parceria com a CME [Bolsa de Chicago]. Eles passaram a nos fornecer o melhor sistema de tecnologia de negociação do mundo, o Globex, que rebatizamos de Puma no Brasil. O Puma multiplicou nossa capacidade de negociação por dez e tem uma confiabilidade espetacular: está implantado há dois anos e registra disponibilidade de 100%.

IM – E como está o processo de integração das “clearings”, responsáveis pelo registro e liquidação das operações?
EP – Esse é o passo seguinte. Vamos fazer a mesma coisa que fizemos no sistema de negociação com o Puma agora com o sistema de pós-negociação. Hoje temos quatro “clearings”: derivativos, ações, câmbio e títulos públicos. Cada uma tem um processo de cadastramento, um de alocação de garantias, um de liquidação, que não conversam entre si. Com uma “clearing” única, haverá um ganho absurdo não só para a Bolsa como também para as corretoras e os investidores. A integração cria uma eficiência espetacular porque passará a haver uma única janela para cadastro de todos os produtos, uma única janela para risco, uma única janela para alocação de garantias. A corretora poderá ter uma estrutura operacional mais enxuta. Para o grande investidor, haverá economia no depósito de garantias, que deixará de ser definida por produto e passará a ser proporcional ao risco de toda a carteira do cliente. A economia será de R$ 500 milhões durante o dia para o mercado como um todo. Em média, cada cliente poderá reduzir o depósito de margem de garantia em 25%, podendo chegar a 40% dependendo de seu portfólio. E a Bolsa não perderá nada em segurança do sistema. O cronograma para finalizar a unificação das “clearings” depende da aprovação do Banco Central. Queremos começar esse processo em junho, trazendo a “clearing” de derivativos para a “clearing” integrada. Depois virá a de ações, depois a de câmbio e depois a de títulos públicos. Esperamos a finalização do processo em meados de 2015.

IM – Se a BM&FBovespa tiver um concorrente no futuro, ele poderá usar a nova “clearing”?
EP – Já anunciamos ao mercado que vamos prover esse serviço. Agora será preciso verificar se o sistema de negociação dessa nova empresa será compatível com nosso sistema de pós-negociação porque, quando a Bolsa presta o serviço de “clearing”, também passa a ser a contraparte daquele sistema de negociação [isso significa que, em última instância, a BM&FBovespa também vai garantir que as operações de compra e venda realizadas por outra Bolsa serão pagas e que haverá transferência da custódia dos ativos entre vendedor e comprador].

IM – A BM&FBovespa terá concorrentes em breve?
EP – Acho pouco provável que venha um concorrente no segmento de “clearing” e custódia. O investimento é muito alto. O sistema de salvaguardas de uma “clearing” exige um patrimônio elevado para dar solvência ao sistema em caso de problemas. Às vezes, os investidores me perguntam por que a Bolsa tem US$ 1 bilhão em caixa e não distribui mais dividendos. Mas esse caixa é item de salvaguarda da Bolsa como contraparte central das operações. Mesmo no mercado americano, que é bem fragmentado entre várias Bolsas, não há concorrência entre prestadores de serviço de liquidação e de “clearing”. A única empresa é a DTCC [Depositary Trust & Clearing Corporation]. Já no segmento de negociação de ações, acho provável que venha concorrência. É questão de tempo. A parte de negociação é uma commodity. Uma empresa pode comprar uma plataforma de negociação e colocar ali dentro vários clientes e corretoras. Não sei se vai demorar seis meses, um ano ou dois anos, mas vai acontecer. O que a gente tem visto é interesse de empresas em fazer negociação com ações no mercado à vista, e não em derivativos. Com ações é mais simples porque o risco é menor. Não tem depósito de garantia nem ajuste diário de margem. A negociação de ações representa 6,3% das receitas da BM&FBovespa. É isso que estaria em risco se houver competição. Mas estou escutando há mais de dois anos que os caras vão se estabelecer, mas eles não aparecem.

IM – A concorrência com a Cetip no registro de ativos vai se intensificar?
EP – Sim. A integração das “clearings” vai incentivar o registro de todas as operações de um investidor na BM&FBovespa. Nosso sistema de risco passará a considerar ativos negociados em Bolsa e balcão. Para que um investidor possa capturar todos os benefícios dessa integração, ele precisará trazer também os produtos de balcão para dentro do meu sistema [saindo da Cetip], de forma que o ajuste de margens seja condizente com o conjunto de todas as operações.

IM – À época da fusão entre a BM&F e a Bovespa, a Bolsa chegou a anunciar um plano de internacionalização, comprando outras Bolsas no exterior. Por que isso não aconteceu?
EP – A gente tem um plano de internacionalização, mas não é através de compra. Ao longo dos últimos quatro anos, houve grandes operações de Bolsa que foram anunciadas, mas depois não deram certo. Exemplos: a Bolsa de Cingapura tentando comprar a Bolsa da Austrália, a Bolsa de Londres tentando comprar a Bolsa de Toronto e a Deutsche Börse tentando comprar a Bolsa de Nova York. Nenhuma dessas operações avançou porque os reguladores não aprovaram. E as sinergias muitas vezes não são suficientes para convencer os acionistas. O que a BM&FBovespa tem buscado em vários países são parcerias com roteamento de ordens, como fizemos com a Bolsa do Chile e com a Bolsa de Chicago. O chileno pode comprar ativos aqui e o brasileiro pode comprar lá. O passo de comprar uma participação da Bolsa é uma consequência muito lá na frente, se houver sinergia e interesse.

IM – A situação das corretoras continua muito difícil. Se somarmos o resultado de todas elas em 2013, chegaremos a um prejuízo. Como a Bolsa pode ajudá-las?
EP – As corretoras precisam ser saudáveis e rentáveis porque são elas que aconselham os investidores e que tiram boleta para a Bolsa. Mas o momento é dificílimo. De 2008 para cá, a receita das corretoras caiu ao mesmo tempo em que os investimentos em tecnologia aumentaram. O quadro continua pouco promissor no curto prazo, mas a Bolsa tem total interesse em ajudá-las. Soltamos um programa de incentivo para captação de novos clientes que reduz os custos das corretoras com a Bolsa. E estamos juntos com a Ancord [a associação das corretoras], com a consultoria PWC e com o escritório de advocacia Barbosa, Müssnich & Aragão estudando alternativas para criar um modelo mais flexível de corretora que possa, em determinados casos, reduzir o capital que elas depositam na Bolsa para operar e que também permita que uma corretora contrate a infraestrutura de tecnologia de outra.

IM – O sr. já tem um plano de sucessão na BM&FBovespa?
EP – [Risos] Eu penso nisso de dois em dois anos porque meu mandato e os dos outros quatro diretores estatutários duram esse tempo. Em abril de 2015, vai vencer meu mandato. Hoje eu diria que não penso em parar [risos].

IM – Qual é seu sonho em relação à BM&FBovespa?
EP – Fizemos um investimento invejável desde 2009 para tornar a BM&FBovespa uma das melhores Bolsas do mundo. O ano de 2014 será de grande colheita. Vamos entregar 16 projetos. Acabamos de entregar um novo data center em Santana do Parnaíba (SP). Já unificamos o sistema de negociação e vamos unificar a “clearing”. Nenhum pregão no mundo tem o sistema integrado de risco para balcão e Bolsa que teremos aqui. O potencial de crescimento do número de pequenos investidores na Bolsa é enorme. O percentual de pessoas físicas que investe em Bolsa é de 5% no Chile, de 10% na Colômbia e de 12% no México. Aqui no Brasil, é 0,3%. Nas duas últimas décadas, já houve uma transformação espetacular no mercado brasileiro. O volume negociado na Bovespa cresceu de US$ 40 milhões por dia na década de 1990 para US$ 4 bilhões hoje. É um crescimento de 100 vezes. Investidores de todos os continentes agora fazem negócios na BM&FBovespa. A participação dos estrangeiros aumentou de 20% para 50% do volume transacionado nos últimos quatro anos. Tem Copa. Tem eleição. O mercado de fato está bicudo. Mas o que a gente tem para entregar vai preparar a Bolsa para os próximos 10 ou 15 anos. Por que a BM&FBovespa é a quinta maior Bolsa do mundo em valor de mercado ao mesmo tempo em que é a 12ª ou 14ª em volume de negócios? É o potencial de crescimento que temos aqui que explica isso.