Quem operou por fundamento em agosto se complicou; setembro não parece ser diferente

Para especialistas, setembro vai exigir ainda mais cautela: além dos movimentos especulativos vistos no mês passado, uma série de eventos políticos e econômicos vão ajudar a trazer mais volatilidade ao mercado

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Ibovespa sustentou um forte rali em agosto, e mesmo considerando os tropeços vistos no início deste mês, ainda acumula alta de 14% desde o dia 4 de agosto (pregão que marcou a inversão da tendência baixista de curto prazo do índice) até o fechamento da última quarta-feira (4). O movimento, entretanto, parece ter dado lugar ao fluxo, colocando em segundo plano o fundamento. 

Com isso, esse rali observado no Ibovespa durante agosto foi visto com cautela pelos analistas, uma vez que está mais baseado aos elementos de fluxo, cobertura de posições vendidas e movimentos especulativos do que com os fundamentos do mercado. E, como se não bastasse, setembro iniciou com uma infinidade de agravantes, que expuseram o índice a um cenário ainda mais frágil: possível mudança na política monetária norte-americana (com a crescente aposta de que o Federal Reserve irá interromper seu programa de estímulo à economia dos Estados Unidos até o fim do ano), aperto monetário por aqui (na última reunião do Copom, no dia 28 de agosto, foi elevado a Selic para 9% ao ano), tensões na política internacional com a possível intervenção militar dos EUA na Síria e eleição na Alemanha. 

Segundo o operador Marcelo Halmel, da Monte Bravo Investimentos, “quem escolheu operar por fundamento no mês de agosto se complicou. Subiram todos aqueles ativos que vinham sofrendo forte queda no acumulado do ano e estavam com os preços muito baixos. E setembro não será diferente. Esse movimento deve continuar e vai exigir ainda mais cuidado dos investidores”.

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O coro que vem regendo o mercado ultimamente é que é melhor manter o pé atrás com o Ibovespa, ao menos por enquanto. A explicação é de fácil compreensão: está cada vez mais difícil antecipar o movimento do mercado. Isso porque quando se faz um levantamento das maiores altas do Ibovespa desde agosto o que se observa é que, com raras exceções, o fluxo está passando por cima dos fundamentos. Ou seja, aquela velha receita de bolo de que quando o fundamento caminha à frente do fluxo, é hora de comprar, parece ter sido invertida para uma versão um pouco mais pessimista. 

Nos últimos 30 dias, as ações que mais subiram no Ibovespa foram: LLX Logística (LLXL3, +90,80%, R$ 1,66), CSN (CSNA3, +42,80%, R$ 9,08) e MMX Mineração (MMXM3, +41,94%, R$ 14,90). Com exceção da CSN (provável melhora do resultado e reajuste de preços), encontra-se empresas pré-operacionais, altamente alavancadas e com fundamentos ruins liderando o principal índice da bolsa brasileira. Na sequência, ainda figuram as ações da B2W (BTOW3, +32,92%, R$ 14,90) e Eletropaulo (ELPL4, +32,52%, R$ 8,11) – papéis que vêm enfrentando escassez no mercado de aluguel.

E, para complicar ainda mais o cenário de incerteza do índice, mais uma pré-operacional vem dando o que falar nesta primeira semana de setembro: após ter seu peso mais do que dobrado no Ibovespa, os papéis da OGX Petróleo (OGXP3) lideram o ganho semanal, com valorização de 36,67%, a R$ 0,41. A questão crucial para os investidores agora é: quando os preços do mercado vão enfrentar um alinhamento com os fundamentos? Por enquanto, é difícil prever, mas a sugestão é manter o pé atrás com o Ibovespa – ao menos nesta primeira semana de setembro, quando os fundos de investimentos ainda estão alinhando seus portfólios com a nova composição do índice – que entrou em vigor na segunda-feira passada, dia 2, e durará até dezembro.