Quais ações do setor de saúde podem se destacar em 2023, mesmo com a visão de um ano desafiador?

Várias casas reduziram otimismo com Hapvida, mas BBA segue com recomendação de compra; OdontoPrev chama a atenção dos analistas

Lara Rizério

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O começo tem sido movimentado para as ações do setor de saúde. Enquanto uma antes queridinha dos analistas por suas perspectivas de ganhos com sinergias, a Hapvida (HAPV3), tem se destacado como uma das maiores quedas deste início de ano (com queda de 16% em janeiro), a Kora Saúde (KRSA3) tem aparecido entre os destaques de alta entre as companhias do segmento (com ganhos de 24%). Contudo, vale destacar o baixo valor de face dos ativos KRSA3, negociando por volta de R$ 1, enquanto a maioria dos ativos do setor iniciou o ano com desempenho negativo.

O desempenho neste início de 2023 ocorre em meio a uma onda de revisões no setor, com os analistas de mercado atentos ao que esperar para as companhias, vendo mais um ano desafiador.

Em relatório, o Itaú BBA apontou que 2023 parece ser mais um ano de ajuste para o setor. “Enquanto as operadoras buscam retornar à lucratividade, esperamos que esta acomodação continue a pressionar toda a cadeia (principalmente os prestadores de serviço)”, avaliam os analistas.

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Diante disso, optaram no geral por adotar uma abordagem mais cautelosa para o segmento, levando em consideração os ventos contrários que veem impedindo o crescimento e a rentabilidade das companhias, a probabilidade de que os custos de capital dessas empresas permaneçam altos por mais tempo do que anteriormente esperado e a suposição de que os investidores se tornaram mais cautelosos com ações de alta duration (ou seja, empresa que tem o valor justo muito sensível a variações na taxa de juro) e múltiplos elevados.

“Desta forma, agora estamos em busca de ações com múltiplos mais baratos, alavancagem financeira mais baixa e pouco risco de revisão das estimativas de rentabilidade – ou seja, ações às quais não temos que dar muito benefício da dúvida para assumir que tais empresas vão entregar expectativas de ganhos no curto prazo”, aponta.

O Bradesco BBI também destacou em relatório esperar 2023 seja um ano desafiador para o setor de saúde no Brasil, com maiores riscos para os operadores versus fornecedores e empresas farmacêuticas, devido a índices de sinistralidade altos, à necessidade de reajustes acima da inflação e um cenário de crescimento mais fraco de beneficiários. Além disso, o
salário mínimo para enfermeiros é outro ponto a ser levado em conta, principalmente para operadoras verticalizadas e hospitais.

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A expectativa é de que as margens dos provedores e operadores continuem pressionadas em 2023, aponta o Goldman Sachs, com pressão de custos médicos ainda alta para o setor, que espera normalizar até 2024 com reajuste dos planos. Enquanto isso, vê sólido desempenho recente dos players de oncologia, mostrando a economia sólida desse negócio e espaço para crescimento orgânico em 2023.

Neste cenário, o BBA elevou a recomendação para os ativos de Fleury (FLRY3) e Odontoprev (ODPV3) de equivalente à neutra (desempenho em linha com o mercado) para compra, mantendo Hapvida, Oncoclínicas (ONCO3) e Mater Dei (MATD3) com visão positiva.

Do lado mais cauteloso, os analistas do banco reduziram de compra para neutra a recomendação de Rede D’Or (RDOR3), Dasa (DASA3) e Kora Saúde (KRSA3), com a mesma indicação para Qualicorp (QUAL3).

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Em RDOR3, aponta, mesmo dando “alguns benefícios da dúvida para a companhia” (expansão orgânica e inorgânica sendo concluída, a inflação sendo totalmente repassada, fusões e aquisições voltando a acontecer em 2024 e vendo uma boa parte das sinergias com SulAmérica após concluída a compra), ainda vê a ação negociando a múltiplos pouco atrativos.

Por outro lado, veem Hapvida negociando a um valuation atrativo, mesmo já adotando uma postura mais conservadora para as estimativas da companhia. Os analistas também continuam vendo ONCO3 com bons olhos, tendo um dos valuations mais atrativos da cobertura (11 vezes o múltiplo de preço sobre o lucro esperado para 2023), com uma perspectiva de crescimento forte de lucros pela frente.

Enquanto o BBA tem visão positiva para a ação da Hapvida, os últimos dias foram marcados por uma onda de revisões negativas para a ação da empresa, que derrubou o preço da ação. JPMorgan, Bradesco BBI e Bank of America estiveram entre as casas que cortaram recentemente a recomendação para os ativos de compra para neutra, destacando, entre os motivos, deterioração do balanço e dificuldade com sinergias após compra da NotreDame Intermédica.

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O BofA reforça, entre os pontos, necessidade de expansão nacional, adaptação à novas estratégias de negócios — ainda que os analistas destaquem o sucesso da atual — e melhor gestão de recursos humanos dentro da empresa, focando na atuação em regiões diversificadas do país.

Já os analistas do Bradesco BBI justificam o corte principalmente devido a: uma visão mais cautelosa sobre as margens após os resultados do terceiro trimestre de 2022 (3T22), a indicação da empresa de MLR (índice de sinistralidade médica) maior do que o esperado anteriormente para 2023 (ou seja, mais de 67,5% para empresas adquiridas até 2021 e até um adicional de 1,5-2% para aquisições recentes), uma piora do cenário macro, além de ver um valuation pouco atrativo.

O JPMorgan, por sua vez, enxerga ventos contrários mais fortes ao crescimento e à lucratividade da Hapvida, citando por exemplo que o mercado de trabalho provavelmente mais fraco no meio do ano deve prejudicar a expansão da base de membros.

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Além disso, acrescentam os analistas, o ambiente desafiador de precificação para recompor os níveis históricos de sinistralidade deve permitir a normalização da rentabilidade apenas no segundo semestre de 2024, mesmo com sinergias esperadas da aquisição da NotreDame Intermédica.

“Embora ainda vejamos a empresa como uma estruturante ganhadora de participação de mercado nos planos privados de saúde, principalmente se tivermos uma perspectiva positiva para o mercado de trabalho, acreditamos que os próximos 24-30 meses serão mais desafiadores do que o mercado espera.”

Visões diferentes

No mesmo relatório em que cortaram a recomendação para Hapvida, os analistas do JPMorgan elevaram a da Odontoprev  para ‘neutra’ e reafirmaram Rede D’Or como a sua preferida, reiterando a classificação ‘overweight‘ (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra).

Para a Odontoprev, o preço-alvo foi elevado de R$ 9,50 para R$ 10,50, vislumbrando um bom valor e papel de dividendo. Para os analistas, a empresa deve registrar leve crescimento real dos lucros, colocando-a como “um player interessante de valor/dividendos, particularmente no contexto em que tem caixa líquido e deve ‘se beneficiar’ das taxas de juros mais altas”.

Além disso, citaram chance de revisões para cima do lucro por ação devido ao menor perfil de sinistralidade nos planos de pequenas e médias empresas, enquanto a frequência de utilização de planos corporativos e individuais já foi normalizada.

Rede D’Or, por sua vez, é vista como menos dependente do macro, principalmente após a aquisição da SulAmérica. O preço-alvo é de R$ 37. A companhia, aponta o JP, domina os principais mercados privados de saúde – Rio de Janeiro e São Paulo -, o que oferece poder de negociação acima da média com os pagadores.

Em paralelo, acrescentam, “a aquisição da SulAmérica reduz o risco de seu plano de expansão, um ponto-chave de preocupação dos investidores, devido ao seu tamanho e foco nos mercados existentes, além do alto capex necessário nos próximos 3-5 anos para entregá-lo.”

Eles calculam que a divisão hospitalar deve registrar taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 20% em 5 anos, suportando maior alavancagem operacional e um ritmo de crescimento de Ebitda de 22% no período com dependência limitada de questões macro, como planos de saúde.

A equipe do JPMorgan também tem recomendação “neutra” para a ação do Fleury, com preço-alvo de R$ 19; para Qualicorp  (preço-alvo de R$ 12); Oncoclínicas (preço-alvo de R$ 10,50) e para Mater Dei, com preço-alvo de R$ 11 . Hermes Pardini (PARD3), com preço-alvo de R$ 14, e Kora Saúde, sem preço-alvo estabelecido, têm classificação ‘underweight‘ (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda).

Na mesma linha do JP e enquanto o BBA cortou a recomendação para os ativos, o Bradesco BBI manteve a Rede D’Or como a top pick do setor entre as “large caps”, enquanto ONCO3 está entre as preferidas entre as mid-small caps, “devido ao melhor momento, visibilidade de ganhos e valuation, juntamente com uma abordagem defensiva devido aos riscos macro”.

Os analistas do BBI ainda elevaram MaterDei para equivalente à compra, com o preço-alvo sendo elevado de R$ 12 para R$ 13, destacando um valuation atrativo, baixa alavancagem e expectativa de expansão de margem para 2023.

Enquanto isso, reduziu Kora para neutra, com o preço-alvo sendo reduzido de R$ 4,50 para R$ 2, com os analistas vendo um valuation alto, sendo que preveem um prejuízo de R$ 11 milhões em 2023. Também veem a empresa como alavancagem, sendo mais exposta a taxa de juros mais alta.

O Goldman Sachs, por sua vez, mesmo esperando competição mais alta para o segmento de oncologia no médio prazo, continua confiantes nas perspectivas de crescimento para 2023, dados os resultados recentes de ONCO3 e da RDOR3.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.