Primeiras leituras: novo Ibope não foi bom para Dilma

A pesquisa divulgada ontem desfaz a impressão de outras sondagens recentes, recebidas com reservas, de que a presidente estava recuperando-se em relação à Marina. O resultado foi positivo para Aécio, porém o tempo parece muito curto para nova reviravolta eleitoral.

José Marcio Mendonça

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A pesquisa do Ibope divulgada ontem contraria uma outra do mesmo instituto, da semana passada, realizada a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e duas recentes do Vox Populi: todas apontavam uma estagnação de Marina Silva e um crescimento da presidente Dilma Rousseff, principalmente na disputa para o segundo turno, que em pesquisas mais antigas aparecia como derrotada por Marina e nessas não.

Alguns analistas já haviam estranhado determinados dados dessas sondagens. No caso da do Ibope, estranhou-se também o fato de ela ter sido divulgada com um certo atraso: pronta, ficou guardada sem explicação na gaveta da CNI por uma semana antes de ser dada a público.

Portanto, era francamente incompatível com a mais recente pesquisa do DataFolha, que mostrava uma acomodação de Marina e uma recuperação de Dilma, mas em níveis bem menos significativos. A pesquisa do DataFolha era mais recente.

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Em todas, porém, Aécio Neves aparecia estacionado em torno dos 15% – depois de ter passado bom tempo na casa dos 20%, até a morte de Eduardo Campos e a subida de Marina à cena principal. As discrepâncias eram nas posições de Marina e Dilma, com vantagens para esta última.

É sempre possível que uma pesquisa, por variadas razões alheias à vontade do instituto, contenha imprecisões. Não fosse isso, no caso das eleições não precisaríamos ter contagem nas urnas. Era só contratar um instituto de pesquisa, ouvir uma 10 mil pessoas e pronto – dar posse ao primeiro colocado na sondagem.

Média ponderada

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Por isso, é sempre aconselhável, para quem quer fazer previsões com menos incertezas, trabalhar com sondagens de diversos institutos, analisar suas diversas nuances, e se socorrer de uma média ponderada de todos (de acordo com o grau de confiança que cada um atribui ao pesquisador). Assim, é possível corrigir eventuais distorções, involuntárias, de uma sondagem.

O Ibope desta terça já traz informações bem distintas – e, por isso, cresce a expectativa sobre o novo DataFolha, a ser divulgados provavelmente amanhã.

A maior surpresa – com pouca possibilidade de alterar o rumo da campanha, que se encaminha mesmo para a disputa Marina-Dilma – foi o crescimento de Aécio – o tucano ganhou quatro pontos em relação à sondagem anterior do mesmo instituto, chegando a 19%, perto do que tinha antes da avalanche Marina. E fora da margem de erro.

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No que é mais significativo no momento, Dilma perdeu três pontos (também fora da margem de erro) e Marina perdeu um apenas. Dilma continua ganhando de Marina no primeiro turno.

Mas Marina, que aparecia nas três pesquisas citadas lá em cima empatada – ou em desvantagem – com Dilma, voltaria a vencer a adversária no segundo turno, ainda que dentro da margem de erro – 43% a 40%.

Para o segundo turno é também representativa a redução de oito pontos na diferença da presidente para Aécio – de 15 pontos para 7 pontos. Ruim para Dilma Assim, a pior notícia dessa pesquisa veio para a presidente Dilma Rousseff. O “voto” parece ter voltado a ser mais oposicionista.

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A campanha da reeleição dava sinais de que já esperava isto – tanto que não “comemorou” nem o Ibope anterior nem os dois Vox Populi. Os trackings diários costumam antecipar, com alguma margem de segurança, esses movimentos dos eleitores. E o PT já deveria ter sentido esta tendência. Tanto que até ontem esquentou os ataques à adversária.

Quem também parecia “desconfiar” do que vinha por aí era o mundo empresarial e financeiro – desde segunda-feira a Bolsa subia movida por boatos de que Marina estava se recuperando e Dilma caindo. Um movimento que já se tornou até natural – ela sobe quando Dilma cai, desce quando ela sobre. Ontem, no auge, a Petrobrás chegou a subir 8%. Hoje, grandes instituições dispõem de pesquisas “clone” para se orientar.

A queda de Dilma está sendo atribuída ao modelo de campanha adotado por ela nas duas últimas semanas, de bater fortemente, às vezes até sem dó nem piedade, na ex-ministra do Meio Ambiente. Marina sofreu alguns abalos com isso, tanto que deixou de crescer, dizem alguns especialistas, porém não tanto quanto o PT imaginava, mostrando forte resistência.

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Dilma estaria sendo vítima da maldição da agressividade: em algumas campanhas anteriores no Brasil quem foi agressivo demais acabou perdendo pontos. Pode ser que sim, pode ser que não, vão ser necessárias mais pesquisas para se sentir se foi mesmo o que aconteceu, porém, significativamente, ontem a campanha de Dilma mudou de tom, voltou a falar das realizações e da proposta dela e menos de Marina.

O crescimento de Aécio talvez explique melhor o que está acontecendo: os eleitores anteriores dele, que escaparam para Dilma por temor de Marina, estão voltando. E a estagnação de Marina é explicada pelo fato de ela ter se tornado mais conhecida, a imagem ter sido substituída pelo mundo real.

Quanto a Dilma, o seu nó continua sendo o próprio governo e a condução da economia.

Parece que o “voto útil” contra Marina ou contra Dilma perdeu um pouco o sentido. Sobre esta interpretação de que a economia prejudica Dilma discorda o vice-presidente Michel Temer, também candidato à reeleição: em comício em Campinas, ele disse que “a gente não tem como perder nem se quisesse”, entre outras coisas porque o “Brasil está crescendo fantasticamente”.

Votos flutuantes

Mesmo com o PT tendo arrefecido no programa eleitoral suas críticas a Marina, o ambiente está ainda pesado. Ontem, a Justiça Eleitoral mandou tirar do ar o site “Muda Mais”, de apoio à candidatura de Dilma, criado pelo ex-ministro Franklin Martins, por ataques à candidata do PSB.

No domingo, a Policia Federal aconselhou Marina a não ir a um comício na cidade satélite de Ceilândia, em Brasília, para evitar agressões de militantes do PT que, segundo relato de assessores dela, a “aguardavam inquietos”. Marina insistiu em ir e policia acabou dispersando os manifestantes.

Não há sinais – e talvez nem tempo – de uma nova reviravolta na corrida sucessória. Porém, tanto Marina quando Dilma terão de mudar suas estratégias de campanha. Até porque os chamados votos firmes – aqueles nos quais o eleitor não admite mudar mais, que podem ser medidos em parte pela declaração espontânea de votos – ainda não atingiu 60% para todos os candidatos somados.

Ou seja, ainda há mais de 40% de eleitores “flutuantes” que podem ir para qualquer lado nos próximos dias e fazer muito estrago ainda.

A verdadeira

candidata dos bancos

A campanha de Dilma, no afã de destruir a imagem de Marina, passou a atacá-la, entre outras coisas como a queridinha dos banqueiros. Marina reagiu e disse quem ajudava os bancos era a presidente. Troca inútil de chumbo.

Para os eleitores, consultados pelo Ibope, a dúvida está desfeita. O instituto, além de consultar os votantes sobre suas preferências eleitorais, apresentou uma lista de segmentos econômicos aos entrevistados e perguntou qual candidato representa melhor cada um deles.

No caso dos bancos, deu Dilma na cabeça com 39%, seguida de Aécio com 25% e de Marina com 20%. Dilma sai na frente também tanto como a melhor defensora dos pobres – 44%, contra 29% de Marina e 11% de Aécio – quanto dos ricos – 36%, contra 34% de Aécio e 13% de Marina.

Para todos os setores empresariais e ainda com os trabalhadores Dilma é vista pelo eleitor como mais favorável a eles que os dois adversários. (Ver mais em “O Estado de S. Paulo)

Em dois encontros com empresários em São Paulo, segunda e terça-feira, Marina disse que já tem uma agenda forte para os primeiros 100 dias de governo, que não há que temer a questão da governabilidade e que se eleita fará uma atualização da legislação trabalhista (no “Valor Econômico”). Porém, a candidata foi vaga sobre as mudanças.

Tanto Dilma quanto Marina estão preocupadas com a posição do empresariado. A diferença é que de público Dilma costuma confrontá-los para agradar o público preferencial do PT. E Marina procura conquistá-los.

A bondade

do dia

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem reunião hoje com os representantes da construção civil na qual deve anunciar o aumento da meta de habitações da segunda fase do programa Minha Casa Minha Vida.

Segundo informações da “Folha de S. Paulo”, o governo pode atender pedido do setor e elevar em 350 mil as unidades do programa, que passaria de 2,750 milhões casas para 3,1 milhões. Até agosto já haviam sido contratadas 2,5 milhões de unidades. Os representantes do setor alertaram que, sem o aumento da meta, há o risco de demissões.

A presidente Dilma chegou a cogitar de lançar, até agosto, o Minha Casa Minha Vida 3, porém o projeto não ficou pronto a tempo.

Este anúncio hoje faz parte do plano de reaproximação de Dilma com o mundo empresarial. A ordem é atender reivindicações dos empresários, como foi o caso ontem da extensão da redução do Imposto de Renda sobre lucros no Exterior para todas as multis brasileiras.

Outros destaques

dos jornais do dia

– EMPREGO – O nível de emprego da indústria paulista caiu 0,37% em agosto, na série com ajuste sazonal, Com isso, o emprego no setor acumula um recuo de 1,2% no período de janeiro a agosto, o pior desempenho desde 2009, quando o indicador registrou retração de 2,02% na mesma comparação. Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp, a situação ainda deve se agravar, superando a marca de 100 mil postos de trabalho fechados neste ano.

– POLÍTICAS SOCIAIS – Do site da “Veja”: está engavetado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) um estudo inédito que mostra uma realidade bem diferente da que vem sendo pregada pelo PT na campanha eleitoral de Dilma Rousseff. O documento mostra que a concentração de renda aumentou no Brasil entre 2006 e 2012. Dados do Imposto de Renda dos brasileiros coletados por pesquisadores do Instituto mostram que os 5% mais ricos do país detinham, em 2012, 44% da renda. Em 2006, esse porcentual era de 40%. Os brasileiros que fazem parte da seleta parcela do 1% mais rico também viram sua fatia aumentar: passou de 22,5% da renda em 2006 para 25% em 2012. O mesmo ocorreu para o porcentual de 0,1% da população mais rica, que se apropriava de 9% da renda total do país em 2006 e, em 2012, de 11%. Os dados referentes a 2012 correspondem aos mais recentes apurados pela Receita Federal. Os dados sobre o Imposto de Renda levados em conta pelos pesquisadores do Ipea não são públicos. Por isso, tais números não são usados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para medir a desigualdade no país.

. O Brasil saiu do mapa mundial da fomre, segundo dados da ONU. Em 22% anos a redução do problema foi de 84,5%. Um total de 3,4 milhões de pessoas passam fome no Brasil –1,7% da população–, de acordo com balanço da FAO. Os dados sobre insegurança alimentar no mundo foram divulgados na terça (16) pelo órgão, que tem como diretor-geral desde 2011 José Graziano, ex-ministro do governo Lula e um dos mentores do programa Fome Zero, implantado na gestão petista. Eles passaram a incluir uma mudança de metodologia para calcular as pessoas que passam fome. Agora, a alimentação feita fora de casa também é considerada –como as refeições servidas em restaurantes populares e a merenda escolar de 43 milhões de crianças e jovens. Pelo critério anterior, a fome atingia 7% da população do Brasil em 2013 –aplicando a nova metodologia, esse percentual seria de 1,8%. No relatório, a FAO elogia o Brasil e afirma que o programa Fome Zero foi o “primeiro passo que traduziu a decisão de combater a fome em ação”.

– TELECOMUNICAÇÕES – Informa o “Estadão”, com base em notícia do jornal italiano “Il sole 24 ore”, que a Telecom Itália, controladora da TIM Brasil, estaria analisando uma parceria com a Oi, para continuar operando no Brasil. A proposta, diz a reportagem, visa evitar que a TIM seja comprada pela própria Oi e depois fatiada com a Vivo e a Claro. A Oi já contratou o BTG Pactual para fazer uma oferta aos italianos para a sua empresa brasileira. Uma decisão deverá ser tomada no dia 25, na Assembleia de acionistas da empresa. Diz ainda a notícia que a TIM poderá até fazer uma oferta de compra da Oi. Informa o “Valor” que a Oi está disposta a negociar a venda ou a fusão com a TIM.

– PIRATARIA – O comércio ilegal movimenta mais de R$ 782 bilhões por ano no Brasil. Esse valor seria suficiente para formar o quarto maior PIB da América Latina, atrás apenas do Brasil, do México e da Argentina. Os dados são de pesquisa feita pela FGV e pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco).

– CONTAS PÚBLICAS – No “Valor”: em agosto, o governo teve uma surpresa desagradável na área fiscal. A arrecadação de tributos administrados pelo Fisco federal (exceto a contribuição para a Previdência Social), líquida de restituições e incentivos, teve queda real, quando se exclui o novo Refis – programa de parcelamento de débitos tributários, ao qual os devedores tinham até 25 de agosto para aderir. Com o Refis, a receita aumentou cerca de 10% em termos nominais, na comparação com o mesmo mês de 2013, ou algo em torno de 3,5% em termos reais. Os dados do Siafi mostram arrecadação de apenas R$ 2,5 bilhões com o pagamento da primeira parcela do Refis, de um total de cinco. Fontes do governo informaram, no entanto, que houve também ingresso de um valor maior por conta do pagamento à vista dos débitos, que teria elevado a arrecadação total do Refis em agosto para algo em torno de R$ 7 bilhões.

LEITURAS SUGERIDAS

1. Elio Gaspari – “Lula requenta truque de 2006” – Folha 

2. Fernando Antonio Azevedo – “Abrir o jogo é pecado grave na era dos consultores” – Estadão

3. Rosangela Bittar – “O marketing do pescoço da mãe” – Valor 

4. José Oreiro e Nelson Marconi – “Câmbio, indústria e crescimento” – Valor